31 de dezembro de 2016

SERMÃO DE ANO NOVO / SPURGEON

SERMÃO DE ANO NOVO
Sermão pregado na manhã de Domingo, 1º de Janeiro de 1860,
por Charles Haddon Spurgeon.
Em Exeter Hall, Strand, Londres.
 “Mas o Deus de toda a graça, que nos chamou à sua glória eterna em Jesus Cristo, depois que tenhais padecido um pouco de tempo, ele mesmo os aperfeiçoe, confirme, fortaleça e estabeleça.” 1 Pedro 5:10.
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Existem situações especiais quando o ministro de Cristo deve pronunciar uma bênção incomum sobre seu povo. Quando um ano de tribulação passa e outro ano de misericórdia começa.
Esta manhã, tomei este texto como uma bênção de ano novo. Vocês sabem que um ministro da Igreja da Inglaterra sempre gosta de pregar sobre o  novo ano. Que bênção maior poderia implorar ele para os milhares de Israel, que esta bênção que em seu nome pronuncio sobre vocês neste dia: “Mas o Deus de toda a graça, que nos chamou à sua glória eterna em Jesus Cristo, depois que tenhais padecido um pouco de tempo, ele mesmo os aperfeiçoe, confirme, fortaleça e estabeleça.”
Ao pregar sobre este texto, terei que explicar: primeiro o que o apóstolo pede ao céu; e logo, em segundo lugar por que espera recebê-lo. A razão de sua esperança, de receber o que pede, está contida no título que utiliza para se dirigir ao Senhor seu Deus: “MAS O DEUS DE TODA A GRAÇA, que nos chamou à sua glória eterna em Jesus Cristo”.
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I. Então, em primeiro lugar, O QUE O APÓSTOLO  PEDE PARA TODOS AQUELES A QUEM ESCREVEU ESTA EPÍSTOLA. Ele pede para eles quatro joias resplandecentes colocadas sobre um negro pano de realce. As quatro joias são estas: Perfeição, Confirmação, Fortalecimento e Estabelecimento. O negro pano de realce sobre o qual estão colocadas é este: “Depois que tenhais padecido um pouco de tempo.” As lisonjas do mundo valem pouco, pois como observa Chesterfield: Não custam nada exceto tinta e papel.” Devo confessar que creio que inclusive este pequeno gasto é um grande desperdício. As lisonjas mundanas geralmente omitem toda a ideia de aflição. “Um feliz Natal! Um próspero Ano Novo!” Não há nenhuma suposição de algo que se pareça ao padecimento. Mas as bênçãos cristãs apontam a verdade dos assuntos. Sabemos que os homens devem padecer. Cremos que os homens nascem para serem acumulados de dores da mesma maneira que a faísca nasce para voar ao alto; e por isso em nossa bênção incluímos o padecimento. E mais, vamos mais além, cremos que nossa tristeza nos ajudará a alcançar a bênção que invocamos sobre nossas cabeças. Entendam então que, conforme eu mostre cada uma destas quatro joias, devem observá-las e considerar que são desejadas para vocês, “depois que tenhais padecido um pouco de tempo”.

1. Agora a primeira joia resplandecente neste diadema é a Perfeição. O apóstolo ora para que Deus nos aperfeiçoe. Certamente, ainda que esta seja uma oração para um longo período de tempo, e a joia seja um diamante de belas águas e de tamanho excepcional, é absolutamente necessário que um cristão em última instância chegue à perfeição. Acaso nunca tiveram um sonho em suas camas, quando seus pensamentos vagavam livremente e a boca de sua imaginação corria sem freio, e sua alma abria suas asas e flutuava por todo o infinito, agrupando coisas estranhas e maravilhosas, de tal maneira que o sonho se desenvolvia em algo como um esplendor sobrenatural? Mas, subitamente foram despertados, e lamentaram durante horas que o sonho não tivesse chegado a uma conclusão. E o que é um cristão, que não chega à perfeição, senão um sonho não concluído? Um sonho majestoso de todas as maneiras, e certamente, cheio das coisas que a terra não conheceu antes, porque são reveladas pelo Espírito à carne e ao sangue.
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Mas suponhamos que a voz do pecado nos espantasse antes que o sonho se concluísse, e como cada um se desperta, perdêssemos a imagem que começou a se formar em nossas mentes, o que seria de nós então? Remorsos eternos e uma multiplicação do tormento eterno seriam o resultado de haver começado a sermos cristãos, se não alcançássemos a perfeição. Se pudesse existir tal coisa como um homem em quem se começou a obra da santificação, mas em quem Deus no Espírito cessou de operar; se pudesse existir um ser tão infeliz como para ser chamado pela graça para ser abandonado antes de ser aperfeiçoado, não haveria entre os condenados no inferno desventurado mais infeliz. Não seria uma bênção que Deus começasse a abençoar se não levasse à perfeição. Seria a maior maldição que a ira Onipotente poderia pronunciar: dar para um homem a graça, mas que essa graça não o conduzisse até o fim e não o pusesse com segurança no céu.
Eu devo confessar que preferiria suportar os tormentos desse terrível arcanjo, Satanás, por toda a eternidade do que ter que sofrer como alguém a quem Deus uma vez amou, mas a quem depois reprovou. Mas isso não acontecerá jamais. A quem uma vez escolheu, Ele não o rejeitará. Sabemos que onde Ele começou uma boa obra, aperfeiçoa-la-á até o dia de Jesus Cristo. Grandiosa é a oração, então, na qual o apóstolo pede que sejamos aperfeiçoados. O que seria de um cristão se não fosse aperfeiçoado? Nunca viram um painel sobre o qual a mão do pintor tenha esboçado com atrevido pincel alguma cena maravilhosa de grandeza? Veem onde a viva cor foi pintada com uma habilidade quase sobre-humana. Mas o artista caiu morto repentinamente e a mão que desenhou milagres de arte ficou paralisada e o pincel caiu. Acaso não é fonte de lamentos no mundo que alguma vez se tenha começado uma pintura que não pôde jamais ser terminada? Não viram o humano semblante divino em um relevo talhado em mármore? Viram a elegante habilidade do escultor e disseram a vocês mesmos: ‘Isto será algo maravilhoso!’ Que demonstração sem par de habilidade humana! Mas, Ah! Nunca foi completada, não se pôde terminar. E poderiam imaginar, qualquer um de vocês, que Deus começará a esculpir um ser perfeito e que não o terminará? Pensam que a mão da sabedoria divina esboçaria o cristão sem completar seus detalhes? Acaso Deus nos tomou da pedreira como uma pedra sem lavrar, e começou a esculpir em nós, e a mostrar Sua arte divina, Sua maravilhosa sabedoria e graça, para logo nos lançar fora? Acaso Deus falhará? Deixará, por acaso, que Suas obras sejam imperfeitas? Leitores, mostrem se podem, algum mundo que Deus haja abandonado sem poder terminar. Há alguma partícula em Sua criação na qual Deus tenha começado a construir algo, mas que tenha sido incapaz de concluir? Acaso deixou incompleto algum anjo? Há, por acaso, uma só criatura da qual não se possa dizer: “É muito boa?”
E se dirá da criatura formada duas vezes: do eleito de Deus, do comprado com sangue, acaso se dirá: “O Espírito começou a operar no coração deste homem, mas o homem foi mais poderoso que o Espírito, e o pecado venceu a graça; Deus teve que fugir e Satanás triunfou, e o homem nunca foi aperfeiçoado?” Oh, meus queridos irmãos, a oração será ouvida. Depois que tenhais padecido um pouco de tempo, Deus os aperfeiçoará, se Ele começou a boa obra em vocês.
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Mas, amados, deve ser depois que tenham padecido um pouco de tempo. Não poderão ser aperfeiçoados, exceto pelo fogo. Não há outra forma de lhes tirar a sua escória e suas impurezas senão por meio das chamas da fornalha da aflição. Filhos de Deus, vossa insensatez está tão ligada a seus corações, que nada senão a vara pode extirpá-la. É através das marcas de seus ferimentos que seu coração é melhorado. Devem passar pela tribulação para que, por meio do Espírito, possa funcionar como fogo purificador para vocês; para que uma vez purificados, santos, acrisolados, e lavados, compareçam diante da face de Deus, isentos de toda imperfeição, e livres de toda corrupção interna.
2. Prossigamos agora para a segunda joia de bênção: Confirmação. Não é suficiente que o cristão tenha recebido um aperfeiçoamento proporcional, se não é confirmado. Vocês já viram um arco-íris no céu quando se faz visível pela planície: suas cores são gloriosas e suas nuances são excepcionais. Ainda que o tenhamos visto muitíssimas vezes, nunca deixa de ser “algo belíssimo e um gozo constante.” Mas que lástima do arco-íris, não está confirmado. Se desvanece e aqui já não está. As belas cores cedem passo às nuvens carregadas e a abóbada celeste já não brilha com as tinturas do céu. Não está confirmado. Como pode ser isto? Algo que está feito de raios passageiros do sol e gotas instáveis da chuva, como poderia permanecer? E fixem nisto, quanto mais bela é a visão, mais desconsolada é a reflexão quando essa visão se desvanece, e não fica nada senão escuridão.
Então, ser confirmado é algo extremamente desejável para o cristão. De todas as concepções conhecidas de Deus, junto ao Seu Filho encarnado, não duvido em pronunciar ao cristão a mais nobre concepção de Deus. Mas se esta concepção fosse apenas um arco-íris pintado na nuvem, para depois desaparecer para sempre, não valeria nada o dia em que nossos olhos foram atraídos para ver o inatingível, como uma sublime visão que logo se vai derreter. O cristão não é melhor que a flor do campo, que hoje está e que se seca quando se levanta o sol com calor abrasador, a menos que Deus o confirme. Qual é a diferença entre o herdeiro do céu, o filho de Deus comprado com sangue, e a erva do campo?
Oh, que Deus lhes outorgue esta rica bênção, para que não sejam como o fumo de uma chaminé, que é rapidamente dispersado pelo vento: que sua bondade não seja como a nuvem da manhã, nem como o orvalho temporão que se evapora; mas que sejam confirmados, e que cada bem que tenham seja um bem permanente. Que seu carácter não seja como as letras escritas sobre areia, mas uma inscrição na rocha. Que sua fé não seja como a onda do mar, mas que esteja construída com material de pedra que aguentará esse horrível incêndio que consumirá a madeira, o feno e a ninhada do hipócrita. Que estejamos cimentados e arraigados no amor, que suas convicções sejam profundas. Que seu amor seja real. Que seus desejos sejam sinceros. Que sua vida inteira esteja estabelecida, fixada e confirmada, para que todos os fortes ventos do inferno e todas as tormentas da terra sejam incapazes de lhes perturbar.
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Vocês não devem estar sujeitos agora a essas dúvidas que maltratam os bebês na graça. Não se lhes deve estar ensinando sempre os primeiros rudimentos: devem prosseguir para algo mais elevado. Certamente suas titubeações não combinam com os cabelos grisalhos. Nós que somos jovens buscamos um exemplo em vocês, que são cristãos bem confirmados; e se os vemos duvidar, e os ouvimos falando com lábios temerosos, então nos abatemos em alto degrau. De fato oramos por todos, independentemente de sua idade, para que nossa esperança esteja posta unicamente no sangue e na justiça de Jesus, e que esteja tão firmemente arraigada, que não seja sacudida jamais, senão que sejamos como o monte Sião, inabalável e que permanece para sempre.
Mas, lembrem-se, não podemos obtê-la senão depois de haver padecido um pouco de tempo.. Não esperemos que o jovem carvalho lance suas raízes tão profundamente como o carvalho velho. Esses velhos laços nas raízes, essas estranhas quebras dos galhos, todos falam das muitas tormentas que açoitaram a antiga árvore. Mas são indicadores também das profundezas a que se submergiram as raízes; e todos dizem ao lenhador que espere partir primeiro uma montanha que arrancar esse carvalho de raízes. Devemos padecer um pouco de tempo, para logo sermos confirmados.
3. Agora vamos comentar a terceira bênção, que é o Fortalecimento. Ah, irmãos, esta é uma bênção muito necessária para todos os cristãos. Há alguns que parecem estar fixados e confirmados. Mas, todavia, carecem de força e de vigor. Permitam-me lhes dar um retrato de um cristão sem forças? Ali o têm. Ele tem apoiado a causa do Rei Jesus. Vestiu-se com sua armadura; alistou-se no exército celestial. Podem observá-lo? Está perfeitamente armado da cabeça aos pés, e leva consigo o escudo da fé. Podem ver também quão firmemente está confirmado? Mantém seu lugar, e não será movido dali. Mas, vejam-no, Quando usa sua espada, golpeia com pouquíssima força. Seu escudo, ainda que o sustenha tão firmemente como sua debilidade o permita, treme em seu punho. Ali está e não se moverá. Sem dúvidas, quão oscilante é a sua posição. Seus joelhos se chocam com espanto quando ouve o som e o ruído da guerra e do tumulto. Do que precisa este homem? Sua vontade é correta, e seu coração está posto plenamente nas coisas boas. O que precisa? Necessita força. O pobre homem é fraco e se assemelha a uma criança. Seja porque foi alimentado com comida mal temperada e insubstancial, ou por conta de algum pecado que o perseguiu, não tem força nem a vitalidade que deveria habitar um cristão. Mas uma vez que a oração de Pedro seja respondida para ele, quão forte se tornará. Em todo o mundo não há uma criatura tão forte como um cristão quando Deus está com ele.
Fale de Leviatan! Que faz que o abismo seja branco! Ele não é o chefe dos caminhos de Deus. O verdadeiro crente é mais poderoso que ele. Nunca viram o cristão quando Deus está com ele? Cheira a batalha desde longe, e clama em meio do tumulto: “Vamos! Vamos! Vamos!” Se ri de todas as hostes inimigas. Ou se compara com Leviatan: se é arrojado em um mar em tribulação, dá chicotadas por todos os lados e faz que o abismo se torne branco com bênçãos. As profundezas não lhe surpreendem, nem teme as rochas; tem a proteção de Deus ao seu redor, e as águas não podem sufocá-lo; e mais, tornam-se um elemento de deleite para ele, quando pela graça de Deus se regozija em meio das altas ondas.
Se querem uma prova da força de um cristão, somente têm que revisar a história, e poderão ver como os crentes apagaram a violência do fogo, fecharam as bocas dos leões, agitaram os punhos diante da pavorosa morte, se riram até do desprezo dos tiranos, e puseram em fuga aos exércitos inimigos, por meio do poder superior da fé em Deus. Rogo a Deus, meus irmãos, que lhes fortaleça este ano.
Os cristãos desta época são pessoas fracas. É algo notável que agora a grande maioria dos filhos nascem débeis., mas é certo que não temos muitos gigantes cristãos em nossos dias.
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Por aqui e por ali ouvimos de alguém, ao que somente lhe faz falta operar milagres nestes tempos modernos, e ficamos atônitos. Oh, que vocês tivessem fé como estes homens! Não creio que haja mais piedade agora do que se procurava ter nos dias dos puritanos. Creio que há muito mais homens piedosos; mas enquanto a quantidade se multiplicou, temo que a qualidade tenha sido desprezada. Naqueles dias o ribeiro da graça era na verdade muito profundo. Alguns daqueles velhos puritanos (quando lemos sobre sua devoção e sobre as horas que passaram em oração) pareciam ter tanta graça como qualquer centena de nós. O ribeiro era muito profundo. Mas agora as margens perderam sua forma e grandes pastagens foram inundadas pela água. Até ali vamos bem. Mas ainda que a superfície tenha se expandido, temo que a profundidade tenha diminuído espantosamente. E esta pode ser a explicação: que devido a que nossa piedade se tornou mais superficial, nossa força se debilitou. Oh, que Deus lhes fortaleça este ano!
4. E agora me referirei à última das quatro bênçãos: “Estabelecimento.” Não direi que esta última bênção é maior que as outras três, mas é um degrau para cada uma delas; e é estranho dizê-lo, é muitas vezes o resultado da obtenção gradual das três bênçãos precedentes. “Estabelece-te!” Oh, quantos andam por aí que não se estabeleceram jamais. A árvore que é transplantada a cada semana morrerá rapidamente. E mais, se fosse trocada, não importa quão habilmente, uma vez ao ano, nenhum jardineiro esperaria fruto dela. Quantos cristãos existem que estão sendo transplantados constantemente, inclusive quanto aos seus sentimentos doutrinários. Há alguns que creem segundo o último pregador; e há outros que não sabem em quê creem, mas creem em quase tudo o que lhes falam.
O espírito de caridade cristã, tão cultivado nestes dias, e que todos amamos tanto, tem ajudado, temo, a trazer ao mundo uma espécie de latitudinarismo; ou em outras palavras, os homens têm chegado a crer que não importa no que creiam; que ainda que um ministro diga é assim, e o outro diga não é assim, sem dúvida os dois estão corretos; que ainda que nos contradigamos absolutamente um ao outro, apesar disso, ambos temos razão. Eu não sei onde fabricaram o juízo aos homens, mas ao meu parecer, sempre se considera impossível crer em uma contradição. Não posso entender nunca como sentimentos tão contrários possam ser conformados à Palavra de Deus, que é a norma da verdade. Mas há alguns que são como um campanário sobre a torre de uma igreja, pois se voltam para onde sopre o vento. Como disse o bom senhor Whitefield: “seria mais fácil medir a lua para vesti-la, que identificar seus pensamentos doutrinários,” pois sempre estão variando e sempre estão trocando.

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Agora, eu rogo que vocês sejam livrados disto, se é essa a vossa debilidade, e que possam ser estabelecidos. Que a intolerância seja arremessada para longe de nós. Sem dúvida, eu desejo que o cristão saiba o que considera que é verdade e logo o sustente. Tomem seu tempo para examinar a controvérsia, mas uma vez que tenham decidido, que não sejam convencidos com facilidade. Seja Deus verdadeiro, ainda que todo homem seja mentiroso; e sustenham que o que esteja de acordo com a Palavra de Deus um dia, não pode ser contrário a ela outro dia; que o que foi certo na época de Lutero e na época de Calvino deve ser certo agora; que as falsidades podem variar, pois têm uma aparência multiforme; mas a verdade é uma, é indivisível e para sempre a mesma. Que outros pensem o que quiserem. Concedam maior latitude aos demais, mas vocês não se permitam a nenhuma falsidade. Permaneçam firmes e inabaláveis segundo lhes foi ensinado, e sempre busquem o espírito do apóstolo Paulo, “se alguém ensina um evangelho diferente do que haveis recebido, seja anátema”. Sem dúvida, como quero que estejam firmes em sua doutrina, minha oração é que estejam especialmente estabelecidos em vossa fé. Vocês creem em Jesus Cristo, o Filho de Deus, e descansam Nele. Mas algumas vezes vacilam; então perdem o seu gozo e consolo. Eu peço para que sua fé esteja estabelecida, que nunca duvidem se Cristo é vosso ou não, mas que digam confiadamente: “Eu sei em quem tenho crido, e estou seguro que é poderoso para guardar o meu depósito”. Oro para que estejam estabelecidos em vossas metas e propósitos.
Há muitas pessoas cristãs que têm uma ideia muito boa em suas cabeças, mas nunca a implementam, porque perguntam ao amigo qual é a sua opinião. “Não é grande coisa,” responde. Claro que não. Quem tem em alta opinião as ideias dos outros? E de imediato, a pessoa que a concebeu renuncia a ela, e a obra nunca se completa. Quantos homens em seus ministérios começaram a pregar o Evangelho, e permitiram que algum membro da igreja, possivelmente algum diácono, incitasse-lhe a orelha levando-o um pouco por essa direção. Mais tarde, algum outro irmão considerou conveniente incitá-lo em direção contrária. O homem perdeu o seu brio. Nunca se estabeleceu quanto ao que devia fazer; e agora se converteu em um simples lacaio, esperando a opinião de cada um, desejoso de adotar o que outros concebem que é o correto.
Agora, peço-lhes que estejam estabelecidos em suas metas. Vejam qual é o lugar que Deus quer que ocupem. Parem ali, não saiam apesar de todas as zombarias que tenham que suportar. Se creem que Deus lhes chamou para uma obra, façam-na. Se os homens lhes ajudam, agradeçam-nos. Se não lhes ajudam, digam-lhes que se apartem de seu caminho ou serão atropelados. Que nada os intimide. Quem quiser servir ao seu Deus deve estar preparado algumas vezes a servir-Lhe sozinho. Nem sempre lutaremos em meio às fileiras. Há momentos nos quais os Davis do Senhor devem pelejar sozinhos com os Golias, e devem tomar consigo cinco pedras do riacho em meio ao escárnio de seus irmãos, e contudo, com suas armas, eles estarão confiantes na vitória pela fé em Deus. Não permitam que lhes tirem da obra na qual Deus os pôs. Não se cansem de fazer o bem, pois ao seu devido tempo, colherão se não desfalecerem. Estejam estabelecidos. Oh, que Deus derrame esta rica bênção em vós.

 Ainda quando um homem esteja equivocado, alguém verdadeiramente admira sua retidão quando se levanta crendo que possui a razão e se atreve a enfrentar as ameaças do mundo. Mas quando um homem tem a razão, o pior que lhe pode ocorrer é que seja inconstante, que vacile, que os homens o intimidem. Lança isso para longe de você, cavaleiro da santa Cruz, e seja firme se quer sair vitorioso. O coração desfalecente jamais tomou de assalto nenhuma cidade, e você nunca vencerá nem será coroado de honra, se teu coração não se endurecer frente a cada investida e se não está estabelecido em sua intenção de honrar ao seu Senhor e de ganhar a coroa.

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