A analogia de “As Crônicas de Nárnia” com a vida cristã é notável! Certamente, C.S. Lewis, que foi um grande apologista cristão, como se pode notar em obras como “Mero Cristianismo”, tinha a intenção evidente de passar a mensagem bíblica aos seus leitores.
O armário “mágico” simboliza a presença oculta e misteriosa do mundo espiritual, que, embora ilimitado, pode ser de alguma maneira contido no nosso mundo natural. Nárnia é enorme, mas cabe dentro do armário naquele quarto abandonado. O Céu é ilimitado, mas parece poder ser contido, de alguma maneira, nas almas dos santos. É na parte inexplorada da casa, naquele quarto abandonado, que se abre o mundo de Nárnia. É na escondida Nazaré, sem grande valor social, que o Verbo divino nasce.
A descoberta de Nárnia por Lúcia, a menor e mais inocente dos quatro irmãos, simboliza o fato de que é a pureza que permite perceber as realidades espirituais, o que é também é simbolizado pela virgindade de Maria, mãe de Jesus. O fato de que os outros não acreditaram simboliza a descrença daqueles que não tiveram a experiência da revelação cristã. A discussão entre o Professor e Suzana sobre a “lógica” da mensagem de Lúcia simboliza as discussões que os cristãos enfrentam sobre as relações entre “fé e razão”. O estilo pedagógico e racional do professor, de grande clareza e eficiência na argumentação, simboliza a apologética cristã do próprio C.S. Lewis.
A neve permanente que cobre Nárnia durante o governo da “Feiticeira Branca” simboliza a frieza e a esterilidade do pecado na vida sem Cristo. A sedução de Edmundo pela Feiticeira Branca é comparável ao pecado original e o domínio que esta lhe impõe é comparável ao jugo que os demônios impõe à alma em pecado mortal. Começa com a promessa de que ele poderá reinar acima dos outros e continua com a ilusão daquela comida oferecida, a qual agrada sem satisfazer realmente e que depois é substituída por alimentos cada vez piores e pela ameaça de petrificação, o que simboliza o enrijecimento espiritual, e de morte. O medo que os anões e os lobos sentem da Feiticeira simboliza o medo que toma conta da alma daqueles que seguem o caminho maligno.
As brigas infantis entre os quatro protagonistas antes de assumirem seriamente a missão em Nárnia simboliza as disputas entre os apóstolos antes de Pentecostes, assim como as rixas cristãs provocadas por desamor. A comoção e o arrependimento que Pedro, Suzana, Edmundo e Lúcia sentem ao encontrar Aslam pela primeira vez no filme simbolizam a consciência do pecado e o arrependimento que o cristão sente diante do Cristo, o que já antecipa algo do juízo final.
A falta de som no encontro entre Edmundo arrependido e Aslam simboliza o isolamento da consciência arrependida na confissão: os pecados confessados só interessam ao próprio pecador e a Nosso Senhor Jesus Cristo. Mesmo que esse, às vezes, seja simbolizado pelo sacerdote – os outros irmãos, ou cristãos, não precisam ficar sabendo. O acolhimento de Edmundo após sua traição simboliza a volta do pecador arrependido, com a qual os seus irmão se alegram depois da orientação de Aslam para que não falassem sobre os pecados passados. A busca que os outros irmãos fazem para encontrá-lo simboliza a busca da ovelha perdida do Evangelho.
A pergunta que Aslam faz a Pedro sobre sua crença nas profecias de Nárnia simboliza a importância da fé do cristão nas profecias do Antigo Testamento e do Novo testamento e da revelação do próprio Cristo. A alegação de incapacidade que Pedro utiliza nessa hora simboliza a humildade dos vocacionados cristãos que percebem a própria miséria diante da gloriosa missão à qual foram chamados. Ser nomeado rei simboliza o batismo, pelo qual o cristão é rei, sacerdote e profeta.
A prova de Pedro, ao enfrentar o lobo sozinho, simboliza as provas pessoais que um cristão deve enfrentar na sua vida de fé. Os presentes que Pedro, Suzana e Lúcia recebem do Papai Noel simbolizam os dons do Espírito Santo. A espada de Pedro representa a Palavra do Evangelho que corta e penetra. A “magia profunda” que Aslam cita e à qual ele se sujeita simboliza o poder do Pai e a sujeição de Cristo, como Filho amado, ao Pai.
A Lei de Nárnia simboliza a Lei de Moisés do Pentateuco. A Feiticeira Branca, nesse aspecto, simboliza o diabo que exige para si o sangue dos pecadores. A horda de seres sinistros que acompanham o sacrifício comandado pela feiticeira simboliza a horda de demônios do inferno. O momento do sacrifício simboliza a “hora das trevas”. O Leão que se deixa sacrificar simboliza o Messias inocente que morre pelos pecadores. A agonia pela qual o Leão passa na véspera do sacrifício simboliza a agonia de Nosso Senhor Jesus Cristo no Getsêmani. Suzana e Lúcia, nesse episódio, ao consolarem Aslam, simbolizam os apóstolos que estavam mais próximos de Jesus naquele momento: João, Pedro e Tiago.
A pedra que se quebra na mesa da montanha simboliza a cortina rasgada do templo com a morte de Jesus, isto é, simboliza o fim da vigência das leis de Moisés para aqueles que morreram e ressuscitaram com Cristo. A ressurreição do Leão simboliza a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. A presença de Suzana e Lúcia ali na ressurreição de Aslam simboliza o testemunho da ressurreição do Cristo que foi dado por Maria Madalena e por toda a igreja no decorrer dos séculos.
A tropa comandada pelo rei Pedro simboliza a Igreja militante que luta contra as tentações, contra o pecado e contra as forças do mal que se manifestam na vida humana terrestre. O próprio Pedro simboliza o Apóstolo Pedro. A diversidade de seres que pertencem ao exército de Aslam simboliza a diversidade de línguas,povos, tribos e nações na Igreja. O pedido que Edmundo, o Justo, faz a Pedro para lutar na batalha, alegando a necessidade de salvação do povo de Nárnia, simboliza o compromisso do cristão convertido com o resto da Igreja.
A tropa que chega posteriormente com Aslam, Suzana e Lúcia simboliza o grupo de convertidos posteriormente, libertos do jugo do pecado. Em certo sentido, simboliza aqueles justos que morreram antes da vinda de Cristo e foram libertos por Ele quando desceu “à mansão dos mortos”.
A tropa que comemora a vitória no castelo simboliza a Igreja Triunfante dos santos que comemoram a vitória sobre a morte do pecado. O elixir que Lúcia oferece para curar Edmundo simboliza a ceia e o batismo, e especialmente a confissão de pecados, que limpa o coração e lhe dá forças espirituais que resgatam o pecador caído.
O fato de que, mesmo depois de serem reis, os quatro protagonistas ainda precisam voltar à vida normal de antes, onde serão governados por Marta, simboliza o fato de que os cristãos continuam vivendo como pessoas normais no mundo, sujeitos às autoridades políticas, mesmo depois de experimentarem realidades sobrenaturais enquanto participam do corpo místico de Cristo. É uma tensão permanente para o cristão, que é simbolizada na sua dupla cidadania, terrestre e celeste. Por outro lado, a obediência de Marta ao professor simboliza a submissão ideal dos poderes temporais do Estado ao poder espiritual da Igreja.
O afastamento de Aslam no final simboliza a Ascensão de Cristo que voltou para o Pai. O fato do leão não ser “domesticado” simboliza a
liberdade de Cristo em relação às
instituições religiosas: “o Espírito sopra onde quer”. A mensagem
dada pelo professor a Lúcia após os créditos, , de que ela poderá voltar a Nárnia quando
menos espera, simboliza a mensagem profética da volta de Jesus em um momento que ninguém poderá prever. Preparem-se!
Por Carlos
Eduardo de Carvalho Vargas
Professor de Introdução à Filosofia (Faculdades Integradas Santa Cruz), Mestrando em Epistemologia na PUC-PR, Licenciado em Matemática (UFPR) e Filosofia (IVF).
Professor de Introdução à Filosofia (Faculdades Integradas Santa Cruz), Mestrando em Epistemologia na PUC-PR, Licenciado em Matemática (UFPR) e Filosofia (IVF).