O GRANDE DESPERTAMENTO NORTE AMERICANO
– Quando o fogo de Deus era comum nas igrejas Metodistas, Presbiterianas e Batistas
Em muitos círculos evangélicos atuais, quando se fala em
"avivamento", pensa-se em uma grande campanha evangelística, com
várias reuniões especiais, com um convidado especial e com uma música especial.
Este é o sentido que se associou a este vocábulo no século XIX.
As grandes campanhas evangelísticas de Charles G. Finney (1792-1875),
Dwight L. Moody (1837-1899) e Reuben A. Torrey (1856-1928), bem como as de
outros evangelistas do gênero, exerceram papel decisivo na sedimentação deste
modo de pensar. Para outros, "avivamento" seria um "borbulhar de
entusiasmo na igreja", um excitamento, um cantar empolgante, um louvor
diferente e, até mesmo, um tipo de histeria emocional seguida de sinais
incomuns. No século XX, a idéia de "sinais e maravilhas" passou a
integrar substancialmente o cerne do conceito de avivamento.
A palavra "avivamento" (ou reavivamento, do
inglês revival) surge desde o século XVII e afirma-se no século
XVIII, quando se começava a falar sobre o reavivamento da religião. Por "avivamento" pensava-se num "derramar incomum do
Espírito Santo".
Jonathan Edwards e a soberania de
Deus no avivamento
Jonathan Edwards (1703-1758)
foi um dos grandes líderes do "Grande Despertamento americano". Um
estudo sério acerca deste assunto terá de levar em conta o que ele fez e
escreveu.
D. Martyn Lloyd-Jones (1899-1981) e J. I. Packer, ao escreverem sobre
Edwards, entendem que é na questão do avivamento que ele é
preeminentemente o mestre. Avivamento é um
derramamento do Espírito, e "se vocês quiserem saber algo sobre o
avivamento verdadeiro, Edwards é o homem que se deve consultar", arremata
Lloyd-Jones.
Em sua clássica obra (Tratado sobre Afeições Religiosas), Edwards
nos fala sobre a atuação do Espírito Santo, dando grande atenção à experiência
pessoal.2 O
anseio de Edwards em diferenciar a experiência religiosa verdadeira da falsa levou
ele a pregar uma série de sermões sobre
1 Pedro 1.8 tratando do assunto, em 1742-1743.
Edwards argumentou que o cristianismo verdadeiro não se evidencia pela
quantidade ou intensidade das emoções religiosas, mas por um coração
transformado que ama a Deus e busca o seu prazer. Ele faz uma análise rigorosa
das diferenças entre a religiosidade carnal e a verdadeira espiritualidade, que
toca o coração com a visão da excelência de Deus e liberta o homem do
egocentrismo. Edwards lutou em duas frentes: contra os adversários do
avivamento e contra os extremistas; contra o perigo de extinguir o Espírito e
contra o perigo de deixar-se levar pela carne e ser iludido por Satanás.
Por um lado, tinha que argumentar contra aqueles que descartavam todo o
avivamento como histeria irracional; por outro, tinha que argumentar contra
aqueles que pareciam pensar que tudo o que aconteceu no avivamento era "de
Deus", não importa quão estranho, extremista ou desequilibrado isso fosse
(...).
Segundo ele, o avivamento é uma
visitação divina. É Deus vindo e agindo de maneira poderosamente incomum entre
o seu povo. Num avivamento, ou experiência religiosa genuína, o critério
principal é este: se quem está no centro das atenções é Deus ou o ser humano.
Para que Deus esteja no centro é necessário, em primeiro lugar, que haja
nos corações um profundo senso de incapacidade, de dependência de Deus, e de
convicção da nossa culpa e falta de capacidade. Além disso, é preciso que haja
a consciência de que toda genuína experiência religiosa é fruto da atuação do
Espírito de Deus, que transforma e santifica os pecadores, capacitando-os a
amar e honrar a Deus em suas vidas.
No livro “ As Marcas Distintivas
de uma Obra do Espírito de Deus” Edwards comenta a Primeira Epístola de João,
texto que nos exorta a provarmos "os espíritos se procedem de Deus, porque
muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora". De fato, no argumento
de Edwards, a palavra "evidência" seria preferível à palavra "marca".
Edwards extrai dos escritos do apóstolo João um total de quatorze sinais ou
evidências que indicam a presença ou ausência do Espírito de Deus numa pessoa,
movimento ou igreja. A seguir, ele oferece cinco conclusões práticas para a
igreja, encerrando com sua ênfase característica na humildade em todas as
coisas do Espírito.
Em seu livro Jonathan
Edwards e o Avivamento Brasileiro, o qual recomendo ao leitor, Luiz Roberto
França de Matos (1956-2004), ao analisar os escritos de Edwards, conclui sobre
os "princípios úteis para julgar se uma obra espiritual ou movimento
religioso efetivamente vem do Espírito". Que princípios são esses? O autor
resume-os como segue:
1. Quaisquer
manifestações exteriores resultantes de experiências extraordinárias não são um
sinal fidedigno de espiritualidade e não asseguram uma obra genuína do
Espírito.
2. Uma obra verdadeira do Espírito de Deus produzirá uma mudança radical na
natureza de uma alma individual, que irá expressar-se em um comportamento e
prática completamente novos, revelando-se progressivamente a imagem de Jesus
Cristo implantada no crente.6
Quanto
ao avivamento, é ele um período marcante, quando Deus, de forma rápida e
impressionante, expande o seu Reino através de um revitalizar da sua igreja; é
obra poderosa do Espírito Santo no meio de muita gente ao mesmo tempo. O
avivamento é uma intensificação do Cristianismo. Num contexto de avivamento, os
crentes são mais zelosos, pecadores são atraídos, e mesmo os incrédulos que não
se convertem, se vêem convencidos da verdade. J. I. Packer diz que a
"Escritura aponta para um processo repetido muitas vezes, mediante o qual,
seguindo-se à frieza, descuido e infidelidade existentes dentre o povo de Deus,
o próprio Deus age soberanamente para restaurar o que estava prestes a perecer
Uma
observação importante, que deve novamente ser enfatizada, é que o avivamento
vem exclusivamente de Deus. "Porventura, não tornarás a vivificar-nos,
para que em ti se regozije o teu povo?" (Sl 85.6). O desejo do salmista
está voltado para Deus, pois o homem não pode operar esta façanha. É Deus quem
pode vivificar. O avivamento é uma obra soberana de Deus, pois "o vento
sopra onde quer" (Jo 3.8). Nós não podemos dar uma ordem para que haja um
avivamento, e ele não segue um modelo previamente fixado por qualquer homem.
Nós estamos amarrados à misericórdia de Deus. "Pois assim como o Pai
ressuscita e vivifica os mortos, assim também o Filho vivifica aqueles a quem
quer" (Jo 5.21). Isto não deveria causar-nos desespero, mas fome, um
apetite pela visitação de Deus. Deveria nos levar à humilhação. Na compreensão
de Edwards, avivamento é algo que acontece, não é algo que se promove. O homem
não é o agente; ele é objeto dessa obra do Espírito. Deus é absolutamente
soberano em cada dádiva que concede. Isto é tão verdadeiro acerca do avivamento
como é de qualquer grande obra redentora. J. I. Packer colocou isto nas
seguintes palavras:
Os
homens podem organizar convenções e campanhas e buscar a bênção de Deus sobre
elas, mas o único organizador dos avivamentos é Deus, o Espírito Santo.
Repetidas vezes, o avivamento tem vindo de maneira súbita, irrompendo
frequentemente em lugares obscuros, através do ministério de homens também
obscuros. Na verdade, ele vem em resposta à oração, e onde ninguém orou é
provável que também ninguém seja avivado; entretanto, a maneira pela qual a
oração é respondida será de forma a enfatizar a soberania de Deus como a única
fonte de avivamento, mostrando que todo o louvor e toda a glória precisam ser
dados somente a ele.9
Iain
Murray, em seu excelente livro Pentecost Today, chama a
atenção para o fato de que a soberania de Deus no avivamento. Roberts
& Gruffydd, em seu livreto Avivamento e seus Frutos, quando se
referiram ao avivamento de 1762, no País de Gales, escreveram:
Avivamento,
por definição, é o próprio princípio de vida da igreja. A igreja como um corpo
de crentes permanece numa contínua necessidade do vivificante Espírito de Deus.11
Evans salienta
o papel da oração. Não obstante ser obra graciosa e soberana, o avivamento
sempre vem através da oração. Oração intensa e persistente.
Edwards
colocara isto da seguinte maneira:
Quando
Deus tem algo muito grande para realizar em favor da sua igreja, a vontade dele
é que isso seja precedido pelas orações extraordinárias do seu povo, segundo
manifestado por Ezequiel 36.37... E é revelado que, quando Deus está para
realizar grandes coisas para a sua igreja, ele começará derramando de maneira
notável o espírito de graça e de súplicas (Zc 12.10).13
"Aviva
a tua obra, ó SENHOR, no decorrer dos anos, e, no decurso dos anos, faze-a
conhecida; na tua ira, lembra-te da misericórdia" (Hc 3.2). Isaías 64 é
uma oração muito própria em favor de um avivamento. Também o salmista ora:
"Vivifica-me, SENHOR, por amor do teu nome; por amor da tua justiça, tira
da tribulação a minha alma" (Sl 143.11). Além disto, a pregação da Palavra
de Deus é instrumento de Deus para reavivar seu povo. O SENHOR utiliza sua
própria Palavra (Sl 119.25; Ez 37.9). O Salmo 119 descreve a Palavra de Deus
como o meio para o reavivamento do povo de Deus: "Estou aflitíssimo;
vivifica-me, SENHOR, segundo a tua palavra" (Sl 119.107).
fonte - Gilson Santos