Jonathan Edwards, o teólogo puritano que é considerado por alguns como a
mente mais brilhante surgida nos Estados Unidos até o dia de hoje, foi também a
maior autoridade sobre avivamento, pois além de escrever os melhores livros e
tratados sobre o tema, ele pessoalmente participou e foi o líder do primeiro
grande despertamento americano e influenciou grandemente o segundo grande
despertamento que ocorreu anos depois. Esses dois eventos mudaram completamente
a vida dos norte-americanos e transformaram os EUA na nação mais abençoada da
terra,a que mais enviou missionários, a que mais plantou igrejas, a que mais
construiu universidades cristãs, a que mais formou pastores e líderes em seus
seminários, a que mais publicou literatura cristã de altíssimo nível, a que
mais produziu músicos e compositores evangélicos e a que mais apoiou Israel e
as causas humanitárias ao redor do mundo. .
O verdadeiro cristianismo requer encontros com
a verdade, mas esta verdade precisa ser iluminada pela presença do Espírito
Santo. Somente isto produzirá “um verdadeiro senso da excelência divina das
coisas reveladas na palavra de Deus”.
Um dos efeitos deste encontro seria o
prazer experimentado na presença de Deus. O convertido “não apenas acredita
racionalmente que Deus é glorioso, mas tem um senso da gloriosidade de Deus no
seu coração… há um senso da beleza da santidade de Deus.” O cristianismo
bíblico, portanto, é ortodoxia iluminada pelo Espírito que transforma o coração
e reorienta a vida inteira para focalizar em Deus e buscar a sua vontade.
Esta descrição acima na verdade foi da própria experiência
pessoal de Edwards, como se pode ver em sua “Narrativa Pessoal”. Quando
primeiro viu as Escrituras sob a iluminação do Espírito Santo, sua vida começou
a mudar:
“Minha mente foi grandemente estimulada a
passar o tempo lendo e meditando sobre Cristo, sobre a beleza e excelência da
sua pessoa, e sobre o belíssimo caminho de salvação por graça total nele… Saí
andando sozinho, num lugar solitário no pasto, para contemplar… Entrou, então,
na minha mente um senso tão doce da gloriosa majestade e graça de Deus, a ponto
que não saberia como exprimir… Parecia veras duas coisas em santa conjunção:
majestade e mansidão ligadas uma à outra; era uma majestade doce, meiga, e
santa; e também era uma mansidão majestosa; uma doçura temível; uma mansidão
elevada, grandiosa, e santa.””
Como parte desta nova preocupação, gerada pelo Espírito, no
jovem Edwards, havia um interesse fervoroso em avivamento e na extensão do
reino de Cristo. Ele pode não ter suspeitado que sua própria congregação seria
um dos principais focos do avivamento pelo qual orava. No domingo de manhã, a
pregação era feita através da leitura do manuscrito que escrevera durante a
semana, olhando intermitentemente não para o povo, mas para a corda do sino,
tamanha era a sua timidez. Com certeza, era a última pessoa que saberia “Como
Promover e Conduzir um Avivamento”, para usar a expressão de R. A. Torrey.
Mas em 1734, o avivamento irrompeu na
sua congregação de Northampton, Massachusetts. Começou entre os jovens, que
antes estavam se distanciando cada vez mais da igreja, mas agora queriam reunir-se
com Edwards para discutir seus sermões. Edwards disse depois que as coisas
espirituais tornaram-se tão urgentemente reais a eles que sua dependência das
coisas do mundo foi quebrada:
“Uma grande e sincera preocupação sobre as coisas de Deus, e do mundo
eterno, tornou-se universal em todas as partes da cidade… Todos os demais
assuntos, além de coisas espirituais e eternas, foram descartados… Um assunto
que não fosse sobre as coisas religiosas praticamente não seria tolerado em
qualquer tipo de grupo. As mentes das pessoas eram maravilhosamente desligadas
do mundo, pois este passou a ser tratado entre nós como algo de muito pouca
conseqüência. Pareciam cumprir suas obrigações seculares mais como parte do seu
dever, do que por uma disposição que tinham para fazê-las; o perigo agora
estava no outro lado, de negligenciar demais as tarefas seculares, e passar
tempo demais no exercício imediato da religião.”
Intensa convicção de pecados era quase universal entre aqueles
que estavam no avivamento de Northampton. Pecados mais profundos como orgulho e
inveja eram os focos principais. Alguns ficaram preocupados por ainda não
sentirem convicção de pecados.
Embora o sua igreja fosse muito entendida na palavra, o desespero
causado pela convicção do Espírito Santo, levou a maioria dos membros a procurar
a Edwards no seu escritório para serem guiados a Cristo. Ele, que muitas vezes
não sabia como visitar seus membros, agora era visitado por eles!
Dois outros aspectos do avivamento de Northampton devem ser
notados. Primeiro, a adoração na congregação foi vivificada. Os crentes não
estavam mais navegando em cima de mapas
teológicos, mas agora eles estavam mergulhados nas águas profundas do Espírito
Santo:
Nossas assembléias públicas ficaram mais bonitas; a congregação estava
viva no serviço a Deus, cada um genuinamente concentrado na adoração coletiva,
cada ouvinte ansioso para beber cada palavra do pregador, à medida que saía da
sua boca; a congregação em geral ficava em lágrimas de poucos em poucos
minutos, durante a pregação da palavra; alguns choravam de tristeza e angústia,
outros com alegria e amor, e ainda outros com compaixão e preocupação pelas
almas dos seus próximos.
Segundo, o evangelismo pessoal aumentou numa escala sem
precedentes entre os puritanos. Compartilhar o evangelho, que antes era
direcionado principalmente do clero para o leigo, agora fluía em canais novos –
de esposas para maridos, e até de crianças para pais: “A cidade parecia estar
cheia da presença de Deus; nunca ficou tão cheia de amor, nem de alegria, nem
de angústia, como estava naqueles dias… Era um tempo de alegria nas famílias
por causa da salvação que lhes era trazida; pais se regozijavam por seus filhos
como se tivessem acabado de nascer, e maridos por suas esposas.”
Ondas
de Avivamento
O fluxo e refluxo de guerra espiritual explica a típica curva de
altos e baixos na história dos avivamentos. Se fizermos um gráfico da história
militar da Segunda Guerra Mundial, veremos que o terreno era conquistado,
depois perdido, e depois reconquistado e ampliado. Assim o modelo de Edwards de
avivamento e declínio, baseado no fluxo e refluxo da guerra espiritual,
indicava que um despertamento poderia ser mais semelhante a um combate de rua
do que a um amanhecer de primavera. Um mover de avivamento pode ser diluído,
desfigurado, ou até invadido pelas forças contrárias do pecado e de Satanás.
Edwards viu isso acontecer pela primeira vez em 1735
quando um dos seus paroquianos ouviu uma voz persistente ordenando-lhe a cortar
sua própria garganta, à qual no fim ele acabou obedecendo. Edwards comentou que
durante o auge do avivamento “Satanás parecia estar excepcionalmente refreado”
pela libertação de pessoas aflitas por depressão e tentações; mas que depois
desse suicídio, “ele começou a se soltar mais, e esbravejava de uma forma
pavorosa”.
Edwards
aparentemente cria que injetar elementos espúrios para descaracterizar o
avivamento claramente era a estratégia principal dos demônios. Ele certamente
concordaria com J. Edwin Orr que em todo despertamento, o primeiro a acordar é
o Diabo.
Edwards
logo presenciou mais disto, no período explosivo de avivamento na Nova
Inglaterra de 1739 a 1742. As grandes campanhas evangelísticas em que George
Whitefield pregava eram poderosamente eficazes para trazer conversões, mas
foram desfiguradas por ele ter sugerido impensadamente que seus oponentes não
eram verdadeiros cristãos. Outro pregador, Gilbert Tennant, falou sobre “O Perigo
de um Obreiro Não Convertido”, e rachou a Igreja Presbiteriana durante 17 anos,
e ainda outro (James Davenport) orou de púlpito, para que pastores locais,
citados por nome, fossem convertidos, trazendo caos a igrejas em Boston.
(Posteriormente, Tennant curou a brecha na sua igreja, admitindo que o
Presbitério de Filadélfia provavelmente só estava dormindo, e não morto.
Davenport também confessou que não sabia que espírito o moveu a orar daquela
forma.)
De repente, então,
surgiu uma tempestade de críticas, que freqüentemente focavam verdadeiros
problemas existentes no avivamento. Edwards respondeu com: “Marcas Distintas de
uma Obra do Espírito de Deus” (1741) que começa afirmando que há
muitos elementos num avivamento que não são marcas definitivas do Espírito, nem sinais da operação da carne ou
do diabo, mas são simplesmente indiferentes – uma espécie de pacote acidental
que envolve o verdadeiro cerne do despertamento espiritual.
Não prova nada o fato
do avivamento ser fruto de reuniões prolongadas, ou produzir estranhos efeitos
corporais. Uma forte preocupação com religião ou visões imaginativas também não
prova nada nem a favor, nem contra. Se fenômenos de avivamento parecem se
espalhar por contágio ou imitação, outra vez não dá para concluir nada.
Imprudência e irregularidade, enganos satânicos, e até a apostasia subseqüente
de alguns convertidos não contestam a genuína atividade do Espírito num
avivamento.
De forma mais positiva, Edwards encontrou cinco marcas
bíblicas de um avivamento autêntico:
Exalta Jesus;
Ataca as forças das trevas;
Exalta as Escrituras Sagradas;
Promove a sã doutrina;
E traz amor a Deus e ao próximo.
Edwards estava convencido de que poderia haver muita
imaturidade mesmo num avivamento autêntico. “Na primavera, inúmeras flores e
novos frutos aparecem com vigor, prometendo florescer, e depois caem e dão em
nada… (Na primavera, quando os pássaros cantam, as rãs e os sapos também
coaxam.)”
Orgulho
Espiritual – Arma de Satanás para Contaminar o Avivamento
Nos seus escritos posteriores, Edwards deixa cada vez mais
a defesa do avivamento e começa a criticar seus defeitos. Em “Pensamentos sobre
o Avivamento na Nova Inglaterra” (1742) Sua
preocupação é que os líderes do avivamento tenham começado a confundir suas
próprias intuições, impulsos e palpites com a direção de Deus. Acima de
tudo, ele lamenta a prevalência do orgulho espiritual, “a porta principal por
onde o diabo entra nos corações daqueles que têm zelo pelo avanço da religião…
e também a chave principal que ele usa para controlar pessoas religiosas… para
contaminar e impedir uma obra de Deus.” O orgulho é um impedimento tão sério porque desvia os cristãos do
arrependimento e os torna críticos:
O
orgulho espiritual torna a pessoa muito suscetível a suspeitar dos outros,
enquanto que um cristão humilde se preocupa mais consigo mesmo, e assim
suspeita mais do seu coração do que qualquer outra coisa no mundo… O cristão verdadeiramente humilde tem tanto
para fazer em casa, que não tem muita possibilidade de se ocupar com o coração
dos outros… Terá sempre a tendência de considerar os outros melhores do que a
si mesmo, e espera que ninguém tenha maior amor e gratidão a Deus do que ele.
Cristãos com orgulho espiritual, por
outro lado, são rápidos para censurar os outros e logo se separam deles também,
se suas crenças ou comportamentos não atingem seu padrão. Sua carnalidade
espiritual geralmente irrita profundamente os que estão por perto com sua
autoconfiança, ousadia humana e inflexibilidade dogmática, que ou discute
continuamente, ou nem mesmo aceita diálogo. O orgulho espiritual “muitas vezes
predispõe a pessoa a assumir uma forma singular de falar”. Sempre “é extremamente
sensível à oposição e às injúrias recebidas de outrem”. Alisa muito a si mesmo,
enquanto negligencia aos outros.
No início da década de 1740, Edwards ansiava por líderes de
avivamento que não fossem pomposos ou contenciosos, que fossem apenas cristãos
humildes:
Cristãos que são avivados tratam
os outros com a mesma humildade e mansidão com que Cristo… os trata. O cristão
verdadeiramente humilde se reveste de mansidão, brandura, modéstia, bondade de
espírito e comportamento… A pura humildade cristã não possui nenhum elemento de
aspereza, desprezo, fúria, ou amargura na sua natureza; torna a pessoa como uma
criança… ou como um cordeiro, destituída de qualquer amargura, ira, raiva, ou
gritaria.
As
Características de um Verdadeiro Avivamento
Na sua obra “Tratado sobre Afeições Religiosas” (1744), Edwards
mostra sua preocupação de que a pura espiritualidade cristã estivesse sendo
submersa por falsificações. “É pela mistura da religião falsificada junto com a verdadeira,
quando não discernida e não distinguida, que o diabo tem sua maior vantagem contra a causa e o reino de
Cristo.”
Edwards começa fazendo uma lista de “sinais insuficientes”
que nem desacreditam nem validam um avivamento:
Intensas emoções religiosas, efeitos
involuntários no corpo, propensão para falar mais, formas humanamente
orientadas para amar, um temor servil de Deus, intensa religiosidade, louvor a
Deus que de fato é focado em si mesmo, certeza de salvação (ou falta dela), e até a
preocupação em agradar outras pessoas consagradas.Essas coisas não são
evidências concretas de uma ação do Espírito Santo.
Se estes não são sinais de
renovação espiritual, então o que é? Edwards responde que o coração (o centro
mais interior da personalidade) precisa ser tocado pelo Espírito Santo. Este
toque de cura gera afeições (motivações motrizes que informam e dirigem a mente
e a vontade), que procedem de amor pelo próprio Deus, não apenas de gratidão
pelas suas dádivas. Estas afeições são respostas à própria beleza de Deus, não
apenas ao seu poder ou grandeza.
Não são sentimentos que anulam a mente,
mas que a iluminam e transformam. Dão mais segurança e certeza à fé, mas também
geram humildade. Transformam nossa natureza, produzindo um espírito manso e
bondoso, e uma grande sensibilidade em relação ao pecado. Não promovem
emotividade centrada em si mesmo, mas antes uma vigorosa consciência social que
cuida tanto do corpo como da alma das pessoas. Levam inevitavelmente à prática
de caridade cristã.
Quando o “Tratado sobre Afeições” foi publicado em 1746, Edwards
já estava desanimado com o avivamento. Em 1742, ele havia advertido sobre a
estratégia do diabo de semear joio no meio do trigo a fim de desacreditar a
lavoura inteira:
Podemos observar que é uma
tática comum do diabo levar um avivamento de religião a extremos; quando
percebe que não dá mais para segurar as pessoas e mantê-las quietas, então os
instiga a excessos e extravagâncias… Embora tente com a máxima diligência
levantar inimigos declarados de religião para fazer oposição, ao mesmo tempo
sabe que numa época de avivamento, sua maior força será através dos amigos do
movimento; e seu esforço maior será no sentido de enganar e desviá-los do
verdadeiro alvo. Uma pessoa genuinamente zelosa pode fazer mais para impedir a
obra, do que cem oponentes fortes e declarados.
Em 1747, Edwards argumentou que quando a igreja está no seu pior
e mais fraco estado, pode estar mais próxima ao avivamento, por ser atraída a
Deus em dependência maior:
O limite extremo de fraqueza da igreja freqüentemente tem sido a
oportunidade de Deus para ampliar seu poder, misericórdia e fidelidade para com
ela. O interesse e preocupação de pessoas consagradas há muito tempo está em
torno da decadência geral, e no avanço do erro e da maldade; parece que agora a
doença chegou a uma crise total… Quando a igreja, neste estado tão baixo, e
oprimida por seus inimigos, começa a clamar a Deus, ele rapidamente correrá ao
seu socorro, como pássaros voam ao ouvir seus filhotes.
O
Que Edwards Pensaria Sobre as Visitações Atuais?
Se Edwards estivesse vivo hoje, o que ele diria sobre a “Bênção
de Toronto”, o “Avivamento de Pensacola”, o ministério de Rodney Howard Browne,
Benny Hinn, e tantos outros ministérios e igrejas que apresentam fenômenos
sobrenaturais nos dias atuais?
Edwards, Wesley, e outros
avivalistas também testemunharam pessoas desmaiando ou caindo quando tocadas
pelo Espírito Santo. A preocupação de Edwards nestes casos era verificar se a
experiência incluía verdadeira iluminação e transformação do coração, com frutos
duradouros na fé cristã e na vida, e não apenas efeitos passageiros no corpo.
Alguns componentes das experiências em Toronto e em outros
lugares o fariam parar para pensar. É verdade que durante os avivamentos no
sertão dos EUA, os convertidos eram tomados por um comportamento contagioso,
repuxando voluntariamente e latindo como cachorros. Peter Cartwright encorajava
os fenômenos como um auxílio à humildade, mas outros sentiam que o avivamento
estava sendo desfigurado por estes elementos.
Os puritanos diziam: “Quando o sol brilha sobre o brejo, sobe
uma névoa”. Às vezes a conversão produz exorcismo na vida da pessoa, e os
agentes deslocados podem não sair caladinhos.
Incapazes de vencer o avivamento, podem tentar se ajuntar
a ele, como a moça em Filipos que fazia propaganda grátis dos apóstolos, mas
foi prontamente repreendida por Paulo (Atos 16.16).
Um avivamento que começa a reproduzir risos compulsivos,
bebedice espiritual, piando como aves ou rugindo como leões, pode mostrar ao mundo
uma igreja esquisita. O alvo da estratégia do inimigo é criar uma igreja tão
estranha nas suas práticas que os não convertidos nem cheguem perto dela. O
alvo do avivamento é conformidade à imagem de Cristo. Os sinais, como explica
Edwards, não eram na sua época e não o são hoje uma prova de manifestação do
Espírito, o que vale é o desejo de ser um servo santo e estar sempre buscando a água viva que sai do
trono de Deus.
Christianity Today
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