5 de junho de 2016

O Segredo Espiritual de Hudson Taylor

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Hudson Taylor não foi nenhum enclausurado. Ao contrário, foi pai de família, homem que exerceu grande influência e que assumiu pesadas responsabilidades.
Era de pequena estatura, sem grandes energias; portanto, tinha de levar sempre em conta limitações físicas. Tornou-se um homem de grande atividade e médico eficiente; tanto sabia cuidar de um nenê como preparar uma refeição ou escriturar despesas e consolar doentes e aflitos; com a mesma segurança com que se lançava a grandes empreendimentos, sabia também proporcionar uma tão segura liderança espiritual aos homens e mulheres que o auxiliavam, que isso viria a repercutir em todo o mundo.
 
Acima de tudo, soube pôr à prova as promessas de Deus, provando também, ser possível viver-se uma vida espiritual íntegra no mais alto nível.
Foi, em grande parte, devido a este homem que o interior da China se abriu para o Evangelho. Dezenas de milhares de almas foram ganhas para Cristo em muitas províncias onde, até então, não tinham sequer conhecido um missionário. Cerca de mil e duzentos homens e mulheres trabalhavam em sua Missão, dependendo tão somente de Deus para suprir todas as suas necessidades, pois viviam sem compromisso de salário fixo. A Missão, que nunca solicitou auxílio financeiro, mas que também nunca ficou endividada, nem jamais recrutou publicamente homens e mulheres para que viessem a engajar-se em suas fileiras, essa mesma Missão enviou para os campos de trabalho, de uma só vez, duzentos novos obreiros que haviam sido recebidos como resposta de orações. Tudo isso constitui o desafio que nos convida a imitar a fé e a devoção de Hudson Taylor.
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Alguém pode perguntar: “Qual o segredo de uma vida assim?” Certamente, Hudson Taylor possuía um segredo: o hábito simples e constante de buscar o suprimento da mais simples a mais complexa de suas necessidades,na “inesgotável fonte de riquezas de Cristo”.
Mas não foi sempre que Hudson Taylor agiu dessa maneira. De fato, passou por muita angústia espiritual e inquietação interior antes de receber a revelação que mudaria toda a sua vida. A mudança foi tão marcante e duradoura (pelo resto de sua vida) que pareceu uma segunda conversão. Vejamos a descrição desta experiência em suas  próprias palavras, registradas em cartas escritas na época.
“Queria muito poder conversar sobre o caminho da santidade. Tinha uma inquietação, uma luta infindável para achar o modo de manter continuamente aquela comunhão e companhia com Deus que às vezes era tão real, porém mais freqüentemente era tão utópica, tão distante da realidade!
“Mas, sabe, agora acho que essa luta, essa esperança de melhores dias futuros não é o caminho verdadeiro à santidade, à felicidade, à utilidade, mas sim algo parecido do que li em um trecho de um livro… com o nome de ‘Cristo é Tudo’. Diz assim:
‘”O Senhor Jesus recebido é o início da santidade; o Senhor Jesus bem-amado é a santidade em progresso; o Senhor Jesus com a certeza de que nunca está ausente seria a santidade completa… É mais santo aquele que tem mais de Cristo dentro de si, e maior alegria na obra realizada.’   
“Quero viver para deixar meu amado Salvador operar em mim a sua vontade, a minha santificação, pela sua graça. ‘Habitar nele’, não lutar e debater-me, erguer a ele os olhos; confiar nele para ter poder no presente; …descansar no amor do Salvador onipotente, no gozo de uma salvação completa ‘de todo pecado’ – isto não é novo, mas é novo para mim.Sinto como se o raiar de um glorioso dia viesse sobre mim. Saúdo-o com tremor, embora com confiança. Pareço ter chegado até a margem somente; porém, é a beira de um mar sem limites; só provei uma gota, mas de algo que satisfaz completamente. Cristo é literalmente tudo para mim, agora; o poder, o único poder para o serviço, o único fundamento para a alegria inalterável…
“Então, como fazer para que a fé cresça? É só pensar em tudo que Jesus é e em tudo o que ele é para nós: sua vida, sua morte, sua obra, sua pessoa revelada a nós na Palavra -para ser assunto constante de nossa meditação.
Não uma luta para conseguir a fé… e sim, a contemplação daquele que é fiel – parece ser esta a única coisa que nos é necessária: descansar inteiramente no Bem-Amado, no tempo e na eternidade.”
O testemunho de um amigo íntimo sobre ele nesta época:
“Ele era agora um homem alegre, um cristão feliz e vivo. Antes havia sido um cristão compenetrado e laborioso, e ultimamente com pouco descanso de alma. Agora descansava em Jesus, e deixava que ele fizesse todo o trabalho -o que fazia toda a diferença. Depois disso, toda vez que pregava o Evangelho, um novo poder parecia fluir dele, e nas coisas práticas da vida uma nova paz o possuía. Os problemas não o afligiam como dantes. Lançava tudo sobre Deus de um modo diferente, e dava mais tempo à oração. Em vez de trabalhar até tarde da noite, começou a deitar-se mais cedo, e levantar-se às cinco horas para dar tempo ao estudo bíblico e oração (muitas vezes duas horas) antes que o movimento do dia tivesse início.”
Uma carta de Hudson Taylor para sua irmã:
“Quanto ao trabalho – o meu nunca foi tanto, de tamanha responsabilidade ou dificuldade, mas o peso e a tensão desapareceram. Este último mês (ou mais de um mês) tem sido, talvez o mais feliz de minha vida, e quero muito contar-lhe um pouco do que o Senhor fez por minha alma. Não sei até onde poderei tornar-me claro no assunto, pois nada há de novo, ou estranho, ou maravilhoso – e ao mesmo tempo está tudo diferente e novo!
“Quem sabe posso explicar se voltar atrás um pouco. Bem, mana, minha mente labutava muito nestes últimos seis a oito meses, sentindo a necessidade de maior santidade, vida e poder de alma, para mim e para a Missão. Mas em primeiro lugar estava minha necessidade pessoal. Senti a ingratidão, o perigo e o pecado de não viver ainda mais perto de Deus. Orei, agonizei, jejuei, esforçava-me, tomava decisões, lia a Palavra com maior diligência, procurava passar mais tempo meditando, mas tudo em vão. Todos os dias, quase hora por hora, a consciência de pecado me oprimia.
“Bem sabia eu que, se conseguisse permanecer em Cristo, tudo estaria bem, mas não podia. Começava o dia com oração, resolvido a não tirar de Jesus os olhos nem por um momento, mas a pressão das obrigações, às vezes muito difíceis, e as constantes interrupções que tendem a impacientar-nos, faziam com que eu me esquecesse dele. Também, aqui, o clima age de tal modo sobre os nervos, que as tentações à irritabilidade, pensamentos duros, e às vezes palavras ásperas são mais difíceis de se controlar. Cada dia trazia seu registro de pecado, fracasso, e falta de poder. ‘O querer o bem’ estava ’em mim’ mas como efetuá-lo, não conseguia descobrir.
“E então veio a pergunta: não haveria salvamento? Teria que ser assim até o fim – constante conflito, e, muitas vezes, a derrota? Como eu poderia pregar sinceramente que àqueles que receberam a Jesus, ele ‘deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus’ (i.e. semelhantes a Deus) quando não era assim em minha própria experiência? Em vez de tornar-me mais forte, parecia enfraquecer-me cada vez mais, e ter menos poder contra o pecado; naturalmente, pois a fé e até mesmo a esperança fraquejavam. Eu tinha horror a mim mesmo, ao meu pecado, e todavia não ganhava terreno contra isto. Sentia que eu era filho de Deus. Seu Espírito clamava em meu coração, apesar de tudo: ‘Aba, Pai’. Mas eu não tinha força de espécie alguma para erguer-me à altura de exercer meus privilégios de filho.
Resultado de imagem para descanso em Deus“Achei que a santidade, a santidade prática, seria gradativamente alcançada por meio de um emprego diligente dos meios da graça. Nada havia que eu desejasse tanto quanto a santidade, nada de que eu tanto necessitasse; mas longe de alcançá-la mesmo em parte, quanto mais eu a buscava, mais ela fugia do meu alcance, ao ponto de sentir ameaçada de morte a esperança existente em mim; e comecei a imaginar se – talvez para tornar mais doce o céu -Deus não o dava nesta vida. Não acho que eu tentava obtê-la com minhas próprias forças. Sabia que eu não tinha esse poder. Falei isto ao Senhor, e pedi-lhe assistência e poder. Às vezes eu quase cria que ele haveria de me guardar e suster; mas, olhando para trás, ao entardecer – ah! só havia pecados e derrotas para confessar e chorar diante de Deus.
“Não quero dar a impressão de ter sido esta a única experiência daqueles longos e exaustivos meses. Mas foi um estado de alma bastante freqüente que quase terminou em desespero. Entretanto, Cristo nunca me pareceu tão precioso! Um Salvador que podia e queria salvar este pecador!… E às vezes havia períodos não só de paz como também de gozo no Senhor; porém duravam pouco, e ainda assim fazia-se sentir em mim a triste falta de poder. Oh! como o Senhor foi bom em dar um fim a esse conflito!
“E o tempo todo eu tinha certeza de que em Cristo havia tudo de que precisava, mas o que eu me perguntava então era – como obtê-lo? Ele tão rico, e tu tão pobre; ele tão forte, e eu tão fraco. Bem sabia que havia fartura na raiz e no tronco, mas como fazê-la passar para o meu raminho desnutrido, era a questão. Fui vendo como que um raio de luz, e percebi que a fé era o único requisito, a única exigência – o instrumento pelo qual eu poderia me apossar de sua plenitude, tornando-a minha. Mas eu não tinha esta fé.
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“Lutei para obter fé, mas não a recebia; tentei exercitá-la, porém em vão. E ao ver mais e mais a maravilhosa abundância da graça que se deposita em Jesus, a plenitude e perfeição de nosso precioso Salvador, a minha culpa e incapacidade pareciam aumentar. Os pecados cometidos pareciam-me insignificantes comparados ao pecado da incredulidade que causava os outros; que recusava confiar que Deus cumpre a sua Palavra e fazia-o mentiroso! Eu achava ser a incredulidade o pecado que condena o mundo; e eu o possuía. Orava por mais fé, e não recebia. O que devia fazer?
“Quando a agonia de alma em que me encontrava chegou ao auge, uma frase de uma carta escrita por meu querido amigo McCarthy agiu para remover as escamas de meus olhos, e o Espírito de Deus me revelou a verdade de nossa união com Jesus como nunca antes a tinha conhecido. McCarthy, que fora abalado pelo mesmo sentimento de fracasso que eu, enxergara a luz primeiro e escreveu assim (cito de memória):
“‘Como fazer para que a fé se fortaleça? Não lutando por ela, mas, sim, descansando sobre aquele que é fiel.’
“E lendo, compreendi perfeitamente! ‘Se somos infiéis, ele permanece fiel.’ Olhei para Jesus e vi (e quando vi, ah, que gozo senti!) que ele disse: ‘Nunca o deixarei.’
” – Oh! aí está o descanso! pensei. Lutei em vão para descansar nele. Não lutarei mais. Pois ele não promete ficar comigo – nunca me deixar, nunca me desamparar? E sabe, mana, nunca o Senhor há de me deixar.
“Não foi só isto que ele me mostrou; esta foi uma fração do todo. Enquanto eu pensava na Videira e nas varas, quanta luz o Espírito bendito derramou em minha alma! Como parecia errado eu querer tirara seiva, a plenitude dele! Vi então que Jesus não só nunca me deixará, mas que eu sou membro do seu corpo, da sua carne e de seus ossos. A videira não é só raiz, mas tudo – raiz, tronco, galhos, raminhos, folhas, flores e frutos. E Jesus não é só isto – ele é solo e sol, ar e chuva, e dez mil vezes mais do que tudo que já sonhei, desejei ou precisei. Ah! o gozo de ver esta verdade! Oro para que os olhos de seu entendimento possam também ser esclarecidos, para que você conheça e experimente as riquezas a nós concedidas, gratuitamente, em Cristo.
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“Ah, minha cara irmã, é uma coisa esplêndida ser realmente  um com o Salvador ressurreto e exaltado, ser membro de Cristo! Pense no que isto implica. Cristo pode ser rico e eu pobre? Sua mão direita pode ser rica e a esquerda pobre? Ou sua cabeça bem nutrida enquanto o corpo morre de fome?…
“A parte mais doce, se é que podemos dizer que uma parte seja mais doce que a outra, é o descanso que decorre da plena identificação com Cristo. Agora já não estou mais ansioso sobre coisa alguma, quando reconheço isto; pois ele, estou certo, é em tudo capaz de realizar a sua vontade, e sua vontade é a minha. Não importa onde ele me coloque, nem como. Isto é antes para ele do que para eu considerar; pois no lugar mais fácil ele tem de dar-me sua graça, e no lugar mais difícil, sua graça me basta. Para o meu servo, por exemplo, não fará diferença que eu o mande sair para comprar algumas coisas de pouco valor, ou artigos muito caros. Em qualquer caso, ele me procurará para eu lhe dar o dinheiro e para me trazer as compras. Assim, se Deus me coloca em sérias perplexidades, não precisa me dar muita orientação? Se em posições de grande dificuldade, abundante graça? Em circunstâncias de fortes pressões e provas, grande força? Não há o perigo de que os seus recursos sejam insuficientes para qualquer emergência! E os seus recursos são meus, pois ele é meu, está comigo, habita em mim.
“E desde que Cristo tem assim habitado, pela fé, no meu coração, como me sinto feliz! Gostaria de poder falar-lhe, ao invés de estar escrevendo. Não é que eu seja melhor do que fui. Em certo sentido, não desejo ser, nem estou procurando isso. Mas eu estou morto e sepultado com Cristo – sim, e ressuscitado também! E agora Cristo vive em mim, ‘e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim.’…
“Agora preciso terminar. Não disse a metade do que gostaria, nem disse como gostaria, se tivesse mais tempo. Que Deus lhe dê a apropriação dessas verdades benditas. Não continuemos a dizer, em efeito: ‘Quem subirá ao céu? (isto é, para trazer do alto a Cristo)’. Em outras palavras, não consideremos que ele esteja longe, quando Deus nos fez um com ele, membros de seu próprio corpo. Nem devemos olhar essa experiência, essas verdades, como sendo para uns poucos. São o direito e patrimônio de todos os filhos de Deus, e ninguém pode prescindir deles sem estar desonrando o seu Senhor. Cristo! Ele é o único poder para o livramento do pecado ou para o serviço verdadeiro.”
Foi uma experiência que resistia às provas, à medida que os meses e os anos se passavam. Nunca mais voltaram os dias de insatisfação; nunca mais a alma necessitada viu-se separada da plenitude de Cristo. Vinham as provações, mais profundas e penetrantes do que antes (além de muitos outros problemas e lutas, perderia sua esposa e um filho), mas em todas elas jorrava ininterrupto o gozo da presença do próprio Senhor. Hudson Taylor havia descoberto o segredo do repouso da alma. Dessa experiência lhe veio não só uma apreensão mais perfeita do próprio Senhor Jesus e de tudo o que ele é para nós, como também uma rendição mais completa de si mesmo -sim, uma entrega total do eu a ele.
Anos mais tarde alguém perguntou para o Sr. Taylor: “Mas o Sr. está sempre consciente de sua permanência em Cristo?”
Ao que ele respondeu: “Enquanto eu dormia, na noite passada, será que deixei de permanecer em meu lar por estar inconsciente do fato? Nunca devemos estar conscientes de não estar permanentes em Cristo.”
Cerca de vinte anos após esta experiência marcante, as impressões de um ministro episcopal que o hospedou em Melbourne (Austrália) são muito interessantes:
“Ele era uma ilustração objetiva da quietu-de. Tirava da conta bancária celeste o último ceitil da porção diária daquela promessa: ‘A minha paz vos dou’. O que não podia perturbar o Salvador nem agitar o seu espírito, também não o devia perturbar. A serenidade do Senhor Jesus quanto a qualquer assunto, e isso no seu momento mais crítico, era seu ideal, era o que ele possuía. Desconhecia o alvoroço e a pressa, os nervos à flor da pele, o espírito de irritação. Sabia que existe a paz que excede o entendimento e que não podia passar sem ela…
” – Eu estou no escritório, você no grande quarto de hóspedes, eu disse ao Sr. Taylor, finalmente. Você está ocupado com milhões, eu com dezenas. Suas cartas são urgentes e importantes, as minhas insignificantes em comparação. Entretanto, eu sou preocupado e aflito, enquanto você é sempre calmo. Diga-me o que faz a diferença.
“- Meu caro MaCartney, respondeu ele, a paz da qual você fala é, no meu caso, mais que um encantador privilégio, pois é uma necessidade. Não poderia de maneira nenhuma realizar o trabalho que realizo sem que a paz de Deus ‘que excede todo o entendimento’ guardasse minha mente e meu coração.








“Foi essa a principal experiência que tive do Sr.Taylor. Você está apressado, afobado, aflito? Olhe para cima! Veja o Homem glorificado! Deixe que a face de Jesus brilhe sobre você – a face maravilhosa do Senhor Jesus Cristo. Ele está preocupado ou aflito? Nenhum cuidado enruga sua fronte, nenhuma sombra de ansiedade. Contudo, os assuntos são tanto dele quanto seus…
“Fiquei profundamente impressionado. Aqui estava um homem de quase sessenta anos de idade, que tinha sobre os ombros responsabilidades tremendas, e se mantinha, todavia, absolutamente calmo e despreocupado. Ah, que pilha de cartas! Qualquer uma delas poderia conter notícia de morte, de falta de dinheiro, de insurreições ou de sérias dificuldades. Porém, todas eram abertas, lidas e respondidas com a mesma tranqüilidade – Cristo sendo a razão de sua paz, e poder para sua calma. Permanecendo em Cristo, ele ia diretamente à sua pessoa, à fonte de recursos, mesmo enquanto tratava dos problemas. E fazia isto por meio de uma atitude de confiança simples e contínua.
“Não obstante, era um homem que encantava pela sua naturalidade e falta de constrangimento. Não encontro palavras para descrever isso a não ser a expressão bíblica ’em Deus’. Ele estava em Deus o tempo todo, e Deus nele. Era a verdadeira permanência a que João, capítulo 15, se refere. E quanto amor atrás disto havia! Ele vivia em relação a Cristo uma experiência abundante dos Cantares de Salomão. Era uma ótima combinação – a força e a ternura de alguém que, como o juiz no tribunal, tem graves responsabilidades, mas leva no coração a luz e o amor de seu lar.”
Um último aspecto importante a ressaltar é que para Hudson Taylor o segredo da vitória estava na comunhão diária, de cada momento, com Deus. Ele descobriu que isso só era possível manter com a oração secreta e o alimento da Palavra pela qual Deus se revela à alma que espera. Não foi fácil para ele, por causa da vida movimentada que levava achar tempo para a oração e estudo bíblico, mas ele sabia que era indispensável. O filho e a nora dele lembram-se de como viajaram com ele durante vários meses, no norte da China, de carroça e de carrinho de mão, parando em péssimas pensões à noite. Muitas vezes quando só havia um cômodo grande para os passageiros e também para os cules que os conduziam, era preciso fechar com qualquer espécie de cortina um canto para o pai e outro para eles. E então, quando todos dormiam e havia um relativo silêncio, ouviam alguém riscar um fósforo e viam o lume incerto de uma vela. Era o Sr.Taylor, não obstante o cansaço, examinando os textos da pequena Bíblia em dois volumes que sempre tinha consigo. Das duas às quatro da madrugada era o horário que geralmente fazia isso; o horário em que melhor podia contar com sossego para esperar em Deus. Aquela chama da vela significava mais para eles do que tudo que já haviam lido ou ouvido sobre a oração secreta; significava a realidade, não da pregação, mas da prática.
A parte mais difícil da carreira missionária, o Sr. Taylor mesmo verificou, é manter o estudo bíblico regular, feito com oração. “Satanás sempre há de achar algo para você fazer”, ele dizia, “quando você devia estar fazendo isto, mesmo que seja só acertar a cortina de uma janela.” Ele teria endossado inteiramente estas palavras significativas:

“Tome tempo. Dê tempo a Deus para se revelar a você. Dê a si mesmo tempo para estar quieto perante ele, esperando receber, através do Espírito, sua Palavra, para que dela você aprenda o que Deus lhe pede e o que lhe promete. Que a Palavra crie, à sua volta e no seu interior, um ambiente santo, uma luz santa celestial, na qual sua alma seja revigorada e fortalecida para os trabalhos da vida diária.” (André Murray, no livro “The Secret of Adoration” – O Segredo da Adoração).

Foi justamente por ter feito isso que a vida de Hudson Taylor era plena de gozo e poder, pela graça de Deus. Quando tinha mais de setenta anos de idade, parou um dia, com a Bíblia na mão, atravessando a sala em Lausanne, para dizer a um dos filhos: – Acabo de ler a Bíblia toda, hoje, pela quadragésima vez em quarenta anos. E ele não só a leu. Viveu-a.

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