Hudson Taylor
O DIA EM QUE O DESCANSO EM CRISTO DERROTOU O GIGANTE DA ANSIEDADE
Hudson Taylor não
foi nenhum homem excepcional. pelo contrário, foi pai de família, exerceu
grande influência e assumiu pesadas
responsabilidades. Era de pequena estatura, e tinha que conviver com limitações
físicas. Tornou-se um homem de grande atividade e médico eficiente; tanto sabia
cuidar de um nenê como preparar uma refeição ou escriturar despesas e consolar
doentes e aflitos; com a mesma segurança com que se lançava a grandes
empreendimentos, sabia também proporcionar uma tão segura liderança espiritual
aos homens e mulheres que o auxiliavam, que isso viria a repercutir em todo o
mundo.
Acima de tudo, soube pôr à prova as promessas de Deus,
provando também, ser possível viver-se uma vida espiritual íntegra no mais alto
nível. Venceu obstáculos como poucos tiveram de enfrentar, e deixou uma obra
que, mais de vinte e cinco anos após sua morte, ainda crescia em extensão e
benefícios. Foi, em grande parte,
devido a este homem que o interior da China se abriu para o Evangelho. Dezenas
de milhares de almas foram ganhas para Cristo em muitas províncias onde, até
então, não tinham sequer conhecido um missionário. Cerca de mil
e duzentos homens e mulheres trabalhavam em sua Missão, dependendo tão somente
de Deus para suprir todas as suas necessidades, pois viviam sem compromisso de
salário fixo. A Missão,que nunca solicitou auxílio financeiro, mas que também
nunca ficou endividada, nem jamais recrutou publicamente homens e mulheres para
que viessem a engajar-se em suas fileiras, essa mesma Missão enviou para os
campos de trabalho, de uma só vez, duzentos novos obreiros que haviam sido
recebidos como resposta de orações. Tudo isso constitui o desafio que nos
convida a imitar a fé e a devoção de Hudson Taylor.
Alguém pode perguntar: “Qual o segredo de uma vida assim?”
Certamente, respondemos, que Hudson Taylor possuía, não um só, mas muitos
segredos, porque andava com Deus numa progressão contínua. Mas o fato é que
todos esses segredos se resumiam num só: o hábito simples e constante de buscar o suprimento de
todas as suas necessidades, fossem elas temporais ou espirituais, na
“inesgotável fonte de riquezas de Cristo”. Descobrir como ele fazia
isso, aprender sua atitude simples e prática para com as coisas espirituais,
haveria certamente de resolver nossos problemas e aliviar o peso que nos oprime
de maneira a que nós também possamos vir a ser tudo o que Deus quer que
sejamos.
Mas nem sempre as coisas
foram assim. De fato, ele passou por muita angústia espiritual e inquietação
interior antes de receber a revelação que mudaria toda sua vida posterior. A mudança foi pelo resto
de sua vida, que pareceu uma segunda conversão. Vejamos a descrição desta
experiência em suas próprias palavras, registradas em cartas escritas na
época.
“ Tinha uma constante
necessidade de alcançar aquilo que eu sentia que devia ser o alvo; uma
inquietação, uma luta infindável para achar o modo de manter continuamente
aquela comunhão e companhia com Deus que às vezes era tão real, porém mais
freqüentemente era tão utópica, tão distante da realidade!
“Mas, sabe, agora acho que essa luta, essa esperança de melhores
dias futuros não é o caminho verdadeiro à santidade, à felicidade, à utilidade.
É melhor, sem dúvida, muito melhor do que nos satisfazermos com realizações
pequenas e pobres, mas não é o melhor de tudo no fim das contas.
Impressionou-me um trecho de um livro… com o nome de ‘Cristo é Tudo’. Diz
assim:
‘”O Senhor Jesus recebido é o início da santidade; o Senhor
Jesus bem-amado é a santidade em progresso; o Senhor Jesus com a certeza de que
nunca está ausente seria a santidade completa… É mais santo aquele que tem mais
de Cristo dentro de si, e maior alegria na obra realizada.’
“Quero viver
para deixar meu amado Salvador operar em mim a sua vontade, a minha
santificação, pela sua graça. ‘Habitar nele’, não lutar e debater-me, erguer a
ele os olhos; confiar nele para ter poder no presente; …descansar no amor do
Salvador onipotente, no gozo de uma salvação completa ‘de todo pecado’ – isto
não é novo, mas é novo para mim.Sinto como se o raiar de um glorioso dia viesse
sobre mim. Saúdo-o com tremor, embora com confiança. Pareço ter chegado até a
margem somente; porém, é a beira de um mar sem limites; só provei uma gota, mas
de algo que satisfaz completamente. Cristo é literalmente tudo para mim, agora;
o poder, o único poder para o serviço, o único fundamento para a alegria
inalterável…
“Então, como fazer para que a fé cresça? É só pensar em tudo que
Jesus é e em tudo o que ele é para nós: sua vida, sua morte, sua obra, sua
pessoa revelada a nós na Palavra -para
ser assunto constante de nossa meditação. Não uma luta para conseguir a fé… e sim, a contemplação
daquele que é fiel – parece ser esta a única coisa que nos é necessária:
descansar inteiramente no Bem-Amado, no tempo e na eternidade.”
O testemunho de um amigo íntimo sobre ele nesta época:
“Ele era agora um homem alegre, um cristão feliz e vivo. Antes
havia sido um cristão compenetrado e laborioso, e ultimamente com pouco
descanso de alma. Agora descansava em Jesus, e deixava que ele fizesse todo o
trabalho -o que fazia toda a diferença. Depois disso, toda vez que pregava o
Evangelho, um novo poder parecia fluir dele, e nas coisas práticas da vida uma
nova paz o possuía. Os problemas não o afligiam como dantes. Lançava tudo sobre
Deus de um modo diferente, e dava mais tempo à oração. Em vez de trabalhar até
tarde da noite, começou a deitar-se mais cedo, e levantar-se às cinco horas
para dar tempo ao estudo bíblico e oração (muitas vezes duas horas) antes que o
movimento do dia tivesse início.”
Uma carta de Hudson Taylor para sua irmã:
“Quanto ao trabalho – o meu nunca foi tanto, de tamanha
responsabilidade ou dificuldade, mas o peso e a tensão desapareceram. Este
último mês (ou mais de um mês) tem sido, talvez o mais feliz de minha vida, e
quero muito contar-lhe um pouco do que o Senhor fez por minha alma. Não sei até
onde poderei tornar-me claro no assunto, pois nada há de novo, ou estranho, ou
maravilhoso – e ao mesmo tempo está tudo diferente e novo!
“Quem sabe posso explicar se voltar atrás um pouco. Bem, mana,
minha mente labutava muito nestes últimos seis a oito meses, sentindo a
necessidade de maior santidade, vida e poder de alma, para mim e para a Missão.
Orei, agonizei, jejuei, esforçava-me, tomava decisões, lia a Palavra com maior
diligência, procurava passar mais tempo meditando , mas tudo em vão. Todos os
dias, quase hora por hora, a consciência de pecado me oprimia.
“Bem sabia eu que, se conseguisse permanecer em Cristo, tudo
estaria bem, mas não podia. Começava o dia com oração, resolvido a não tirar de
Jesus os olhos nem por um momento, mas a pressão das obrigações e os cuidados
diários faziam com que eu me esquecesse dele. ‘O querer o bem’ estava ’em mim’
mas como efetuá-lo, não conseguia descobrir.
“E então veio a pergunta: Será que eu um dia irai encontrar a
paz perfeita? Teria que ser assim até o fim – constante conflito, e, muitas
vezes, a derrota?
Como eu poderia
pregar sinceramente que àqueles que receberam a Jesus, ele ‘deu-lhes o poder de
serem feitos filhos de Deus’ (i.e. semelhantes a Deus) quando não era assim em
minha própria experiência? Em vez de tornar-me mais forte, parecia
enfraquecer-me cada vez mais, e ter menos poder contra o pecado; naturalmente,
pois a fé e até mesmo a esperança fraquejavam. Eu tinha horror a mim mesmo, ao
meu pecado, e todavia não ganhava terreno contra isto. Sentia que eu era filho
de Deus. Seu Espírito clamava em meu coração: ‘Aba, Pai’. Mas eu não tinha
força de espécie alguma para erguer-me à altura de exercer meus privilégios de
filho.
“Achei que a santidade, a santidade prática, seria
gradativamente alcançada por meio de um emprego diligente dos meios da graça.
Nada havia que eu desejasse tanto quanto a santidade, nada de que eu tanto
necessitasse; mas longe de alcançá-la mesmo em parte, quanto mais eu a buscava,
mais ela fugia do meu alcance, ao ponto de sentir ameaçada de morte a esperança
existente em mim; e comecei a imaginar se – talvez para tornar mais doce o céu
-Deus não o dava nesta vida.
“E o tempo todo
eu tinha certeza de que em Cristo havia tudo de que precisava, mas o que eu me
perguntava então era – como obtê-lo? Ele tão rico, e tu tão pobre; ele tão
forte, e eu tão fraco. Bem
sabia que havia fartura na raiz e no tronco, mas como fazê-la passar para o meu
raminho desnutrido, era a questão. Fui
vendo como que um raio de luz, e percebi que a fé era o único requisito, a
única exigência – o instrumento pelo qual eu poderia me apossar de sua
plenitude, tornando-a minha. Mas eu não tinha esta fé.
“Lutei para obter fé, mas não a recebia; tentei exercitá-la,
porém em vão. E ao ver mais e mais a maravilhosa abundância da graça que se
deposita em Jesus, a plenitude e perfeição de nosso precioso Salvador, a minha
culpa e incapacidade pareciam aumentar. Os pecados cometidos pareciam-me
insignificantes comparados ao pecado da incredulidade que causava os outros;
que recusava confiar que Deus cumpre a sua Palavra e fazia-o mentiroso! Eu
achava ser a incredulidade o pecado que condena o mundo; e eu o possuía. Orava
por mais fé, e não recebia. O que devia fazer?
“Quando a agonia de alma em que me encontrava chegou ao
auge, uma frase de uma carta escrita por meu querido amigo McCarthy agiu para
remover as escamas de meus olhos, e o Espírito de Deus me revelou a verdade de
nossa união com Jesus como nunca antes a tinha conhecido.
McCarthy, que fora abalado pelo mesmo sentimento de fracasso que
eu, enxergara a luz primeiro e escreveu ;
‘Como fazer para que a fé se
fortaleça? Não lutando por ela, mas, sim, descansando sobre aquele que é fiel.’
“E lendo, compreendi
perfeitamente! ‘Se somos infiéis, ele permanece fiel.’ Olhei para Jesus e vi (e
quando vi, ah, que gozo senti!) que ele disse: ‘Nunca o deixarei.’
”
– Oh! aí está o
descanso! pensei. Lutei em vão para descansar nele. Não lutarei mais. Pois ele
não promete ficar comigo – nunca me deixar, nunca me desamparar? E sabe, mana,
nunca o Senhor há de me deixar.
“Não foi só isto que ele me mostrou; esta foi uma fração
do todo. Enquanto eu pensava na Videira e nas varas, quanta luz o Espírito
bendito derramou em minha alma! Como parecia errado eu querer tirar a seiva,
a plenitude dele! Vi então que Jesus não só nunca me deixará, mas que eu sou
membro do seu corpo, da sua carne e de seus ossos. A videira não é só raiz, mas
tudo – raiz, tronco, galhos, raminhos, folhas, flores e frutos. E Jesus não é
só isto – ele é solo e sol, ar e chuva, e dez mil vezes mais do que tudo que já
sonhei, desejei ou precisei. Ah! o gozo de ver esta verdade! Oro para que os
olhos de seu entendimento possam também ser esclarecidos, para que você conheça
e experimente as riquezas a nós concedidas, gratuitamente, em Cristo.
Agora já não estou mais
ansioso sobre coisa alguma, quando reconheço isto; pois ele, estou certo, é em
tudo capaz de realizar a sua vontade, e sua vontade é a minha. Não importa onde
ele me coloque, nem como. Isto é antes para ele do que para eu considerar; pois
no lugar mais fácil ele tem de dar-me sua graça, e no lugar mais difícil, sua
graça me basta. Para o meu
servo, por exemplo, não fará diferença que eu o mande sair para comprar algumas
coisas de pouco valor, ou artigos muito caros. Em qualquer caso, ele me
procurará para eu lhe dar o dinheiro e para me trazer as compras. Assim,
se Deus me coloca em sérias perplexidades, não precisa me dar muita orientação?
Se em posições de grande dificuldade, abundante graça? Em circunstâncias de
fortes pressões e provas, grande força? Não há o perigo de que os seus recursos
sejam insuficientes para qualquer emergência! E os seus recursos são meus, pois
ele é meu, está comigo, habita em mim.
“E desde que Cristo tem assim habitado, pela fé, no meu coração,
como me sinto feliz! Gostaria de poder falar-lhe, ao invés de estar escrevendo.
Não é que eu seja melhor do que fui. Em certo sentido, não desejo ser, nem
estou procurando isso. Mas eu estou morto e sepultado com Cristo – sim, e
ressuscitado também! E agora Cristo vive em mim, ‘e esse viver que agora tenho
na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou
por mim.’…
“Agora preciso terminar. Não
disse a metade do que gostaria, nem disse como gostaria, se tivesse mais tempo.
Que Deus lhe dê a apropriação dessas verdades benditas. Não continuemos a
dizer, em efeito: ‘Quem subirá ao céu? (isto é, para trazer do alto a Cristo)’.
Em outras palavras, não consideremos que ele esteja longe, quando Deus nos fez
um com ele, membros de seu próprio corpo. Nem devemos olhar essa experiência,
essas verdades, como sendo para uns poucos. São o direito e patrimônio de todos
os filhos de Deus, e ninguém pode prescindir deles sem estar desonrando o seu
Senhor. Cristo! Ele é o único poder para o livramento do pecado ou para o
serviço verdadeiro.”
Foi uma experiência que resistia às provas, à medida que os
meses e os anos se passavam. Nunca mais voltaram os dias de insatisfação; nunca
mais a alma necessitada viu-se separada da plenitude de Cristo. Vinham as
provações, mais profundas e penetrantes do que antes (além de muitos outros
problemas e lutas, perderia sua esposa e um filho), mas em todas elas jorrava
ininterrupto o gozo da presença do próprio Senhor. Hudson Taylor havia
descoberto o segredo do repouso da alma. Dessa experiência lhe veio não só uma
apreensão mais perfeita do próprio Senhor Jesus e de tudo o que ele é para nós,
como também uma rendição mais completa de si mesmo -sim, uma entrega total do
eu a ele.
Anos mais tarde alguém perguntou para o Sr. Taylor: “Mas o
Sr. está sempre consciente de sua permanência em Cristo?”
Ao que ele respondeu: “Enquanto eu
dormia, na noite passada, será que deixei de permanecer em meu lar por estar
inconsciente do fato? Nunca devemos estar conscientes de não estar
permanentes em Cristo.”
Cerca de vinte anos após esta experiência marcante, as
impressões de um ministro episcopal que o hospedou em Melbourne (Austrália) são
muito interessantes:
“Ele era uma ilustração objetiva da quietude. Tirava da
conta bancária celeste o último centavo da porção diária daquela promessa: ‘A
minha paz vos dou’. O que não podia perturbar o Salvador nem agitar o seu
espírito, também não o devia perturbar. A serenidade do Senhor Jesus quanto a
qualquer assunto, e isso no seu momento mais crítico, era seu ideal, era o que
ele possuía. Desconhecia o alvoroço e a pressa, os nervos à flor da pele, o
espírito de irritação. Sabia que existe a paz que excede o entendimento e que
não podia passar sem ela…
” – Eu estou no escritório, você no grande quarto de hóspedes,
eu disse ao Sr. Taylor, finalmente. Você está ocupado com milhões, eu com
dezenas. Suas cartas são urgentes e importantes, as minhas insignificantes em
comparação. Entretanto, eu sou preocupado e aflito, enquanto você é sempre
calmo. Diga-me o que faz a diferença.
“- Meu caro MaCartney, respondeu ele, a paz da qual você fala é,
no meu caso, mais que um encantador privilégio, pois é uma necessidade. Não
poderia de maneira nenhuma realizar o trabalho que realizo sem que a paz de
Deus ‘que excede todo o entendimento’ guardasse minha mente e meu coração.
“Foi essa a principal experiência que tive do Sr.Taylor. Você
está apressado, afobado, aflito? Olhe para cima! Veja o Homem glorificado!
Deixe que a face de Jesus brilhe sobre você – a face maravilhosa do Senhor
Jesus Cristo. Ele está preocupado ou aflito? Nenhum cuidado enruga sua fronte,
nenhuma sombra de ansiedade. Contudo, os assuntos são tanto dele quanto seus…
“Fiquei profundamente impressionado. Aqui estava um homem de
quase sessenta anos de idade, que tinha sobre os ombros responsabilidades
tremendas, e se mantinha, todavia, absolutamente calmo e despreocupado. Ah, que
pilha de cartas! Qualquer uma delas poderia conter notícia de morte, de falta
de dinheiro, de insurreições ou de sérias dificuldades. Porém, todas eram
abertas, lidas e respondidas com a mesma tranqüilidade – Cristo sendo a razão
de sua paz, e poder para sua calma. Permanecendo em Cristo, ele ia diretamente
à sua pessoa, à fonte de recursos, mesmo enquanto tratava dos problemas. E
fazia isto por meio de uma atitude de confiança simples e contínua.
“Não obstante, era um homem que encantava pela sua
naturalidade e falta de constrangimento. Não encontro palavras para descrever
isso a não ser a expressão bíblica ’em Deus’. Ele estava em Deus o tempo todo,
e Deus nele. Era a verdadeira permanência a que João, capítulo 15, se refere. E
quanto amor atrás disto havia! Ele vivia em relação a Cristo uma experiência
abundante dos Cantares de Salomão. Era uma ótima combinação – a força e a
ternura de alguém que, como o juiz no tribunal, tem graves responsabilidades,
mas leva no coração a luz e o amor de seu lar.”
Um último aspecto importante a ressaltar é que para Hudson
Taylor o segredo da vitória estava na comunhão diária, de cada momento, com
Deus. Ele descobriu que isso só era possível manter com a oração secreta e o
alimento da Palavra pela qual Deus se revela à alma que espera. Não foi fácil
para ele, por causa da vida movimentada que levava achar tempo para a oração e
estudo bíblico, mas ele sabia que era indispensável. O filho e a nora dele
lembram-se de como viajaram com ele durante vários meses, no norte da China, de
carroça e de carrinho de mão, parando em péssimas pensões à noite. Muitas vezes
quando só havia um cômodo grande para os passageiros e também para os cules que
os conduziam, era preciso fechar com qualquer espécie de cortina um canto para
o pai e outro para eles. E então, quando todos dormiam e havia um relativo
silêncio, ouviam alguém riscar um fósforo e viam o lume incerto de uma vela.
Era o Sr.Taylor, não obstante o cansaço, examinando os textos da pequena Bíblia
em dois volumes que sempre tinha consigo. Das duas às quatro da madrugada era o
horário que geralmente fazia isso; o horário em que melhor podia contar com
sossego para esperar em Deus. Aquela chama da vela significava mais para eles
do que tudo que já haviam lido ou ouvido sobre a oração secreta; significava a
realidade, não da pregação, mas da prática.
A parte mais difícil da
carreira missionária, o Sr. Taylor mesmo verificou, é manter o estudo bíblico
regular, feito com oração. “Satanás sempre há de achar algo para você fazer”,
ele dizia, “quando você devia estar fazendo isto, mesmo que seja só acertar a
cortina de uma janela.” Ele teria endossado inteiramente estas palavras
significativas:
“Tome tempo. Dê tempo a Deus para se revelar a você. Dê a si
mesmo tempo para estar quieto perante ele, esperando receber, através do
Espírito, sua Palavra, para que dela você aprenda o que Deus lhe pede e o que
lhe promete. Que a Palavra crie, à sua volta e no seu interior, um ambiente
santo, uma luz santa celestial, na qual sua alma seja revigorada e fortalecida
para os trabalhos da vida diária.” (André Murray, no livro “The Secret of
Adoration” – O Segredo da Adoração).
Foi justamente por ter feito isso que a vida de Hudson
Taylor era plena de gozo e poder, pela graça de Deus. Quando tinha mais de
setenta anos de idade, parou um dia, com a Bíblia na mão, atravessando a sala
em Lausanne, para dizer a um dos filhos: – Acabo de ler a Bíblia toda, hoje,
pela quadragésima vez em quarenta anos. E ele não só a leu. Viveu-a.
Extraído do livro “O Segredo
Espiritual de Hudson Taylor”, escrito por seu filho Howard e sua nora Gerardine
e publicado no Brasil pela Editora Mundo Cristão, F:0800-115074.
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