Gunnar Vingren e Daniel Berg: os pioneiros das Assembleias de Deus
Da Suécia para os Estados Unidos e daí para o Brasil
Gunnar Vingren e Daniel Berg nasceram em uma época difícil na história da Suécia. Entre 1867 e 1886, quase 450 mil suecos deixaram o país por causa da escassez de alimentos e de empregos. A maioria imigrou para o meio-oeste dos Estados Unidos.
Era a chamada “febre dos Estados Unidos”. Embora a situação tivesse melhorado, Daniel viajou para lá em 1902, com 18 anos, e Gunnar, no ano seguinte, com 24. Os dois se conheceram em uma igreja sueca em Chicago, no ano de 1909, dez anos depois da morte do famoso evangelista Dwight L. Moody, que viveu naquela cidade. A essa altura, Gunnar já tinha feito teologia em um seminário batista sueco e pastoreava uma igreja em Menominee, no Michigan, e Daniel trabalhava em uma quitanda em Chicago. Em uma conferência realizada na Primeira Igreja Batista Sueca de Chicago, Gunnar passou pela experiência do chamado batismo com o Espírito Santo e falou em línguas. A partir daí, começou a pregar a doutrina pentecostal; porém, metade da igreja de Menominee não o quis mais como pastor. Assumiu, então, o pastorado de outra igreja batista sueca, dessa vez em South Bend, na fronteira de Indiana com Michigan, e a transformou em uma igreja pentecostal. Uma de suas ovelhas era Adolf Ulldin, que, pouco depois, anunciou-lhe o que ouvira da parte de Deus a respeito de seu ministério além-mar. Por inspiração do Espírito Santo, Daniel foi visitar Gunnar em South Bend e ali ouviu a mesma profecia, que também foi dirigida a ele. Em obediência à orientação recebida, ambos viajaram para Nova York e lá encontraram, de fato, o navio Clement, que sairia na data indicada por Adolf: 5 de novembro de 1910. Por falta de recursos, compraram uma passagem de terceira classe. Duas semanas depois, com miseráveis 90 dólares no bolso, desembarcaram em Belém do Pará, sem saber uma palavra em português e sem alguém para recebê-los no porto. Assim começou a obra das Assembleias de Deus no Brasil.
Verão de janeiro a dezembro
Enquanto as denominações protestantes históricas começaram seu trabalho na região Sudeste (congregacionais, presbiterianos, metodistas e salvacionistas), no Rio Grande do Sul (luteranos e episcopais) e na Bahia (batistas), a Assembleia de Deus começou no extremo Norte do país. Os missionários pioneiros eram todos suecos, ao contrário do que acontecia da Bahia para o Sul, onde quase todos eram americanos e britânicos.
O Pará é 2,7 vezes maior que a Suécia, que tinha, na época, mais de 5,5 milhões de habitantes. Em vez das precisas quatro estações, com as quais estavam acostumados, Gunnar e Daniel encontraram aqui um verão contínuo. Na Suécia, eles adoravam participar da festa que celebrava a volta do verão, entre os dias 19 e 26 de junho, dançando a noite toda ao redor de mastros com enfeites coloridos. Os dois jovens missionários chegaram ao Pará exatamente quando começou o declínio da economia na Amazônia, devido à queda da produção de borracha, provocada pelos mercados asiáticos.
Gunnar e Daniel eram muito diferentes no aspecto físico e nos dotes pessoais. Cinco anos mais jovem, Daniel tinha muita saúde e resistência física. Era “um ganhador de almas incomum”, como diz Geziel Gomes. Praticava com sucesso a colportagem (venda de Bíblias) e o evangelismo pessoal de casa em casa, quase de ilha em ilha, e “de enfermaria em enfermaria”, quando já tinha 78 anos e estava internado em um hospital na Suécia. Além da mala cheia de Bíblias e folhetos, carregava sempre o violão, ao som do qual cantava hinos em português e em sueco para evangelizar. Em compensação, Gunnar era mais preparado e se tornou, naturalmente, o líder do trabalho. Ele era quem mais pregava, quem mais batizava e quem ia consolidando e ampliando a obra com a organização de novos pontos de pregação e congregações. Morreu trinta anos antes de Daniel, quando faltava um mês e meio para completar 54 anos.
“A mensagem completa do evangelho”
Os missionários evangélicos do século 19 foram, em parte, beneficiados pela chamada pré-evangelização, realizada pela Igreja Católica Romana nos 300 anos anteriores à sua chegada ao Brasil (de 1549 a 1855). Os missionários pentecostais foram muito beneficiados pela evangelização realizada pelos missionários evangélicos nos 55 anos anteriores ao início de seu trabalho (de 1855 a 1910). Em alguns poucos casos, o trabalho das Assembleias de Deus começava com a pentecostalização de uma igreja evangélica já existente, como aconteceu com a Igreja Batista Sueca de South Bend, no início de 1910. Em outros casos, começava com alguns crentes que deixavam suas congregações de origem para abraçar a “novidade” pentecostal. Foi o que aconteceu em Belém do Pará e em muitos lugares por esse Brasil afora, especialmente nos primeiros anos. Todavia, a maior parte da membresia das Assembleias de Deus procedia das trevas da ignorância religiosa e das trevas do pecado e da incredulidade.
Gunnar Vingren, Daniel Berg e a geração de pastores nacionais que surgiu com eles não anunciavam apenas Jesus. Pregavam “a salvação em Jesus e o batismo com o Espírito Santo”. Esta era “a mensagem completa do evangelho”. Tal pregação certamente encontrava guarida entre os cristãos que, à semelhança dos discípulos de Éfeso, nem sequer sabiam da existência do Espírito Santo (At 19.2), por culpa da omissão de seus pastores. Encontrava guarida também entre os cristãos cujos pastores atribuíam toda honra ao Espírito Santo sem, contudo, usar a nomenclatura teológica dos pentecostais.
O folheto de 27 páginas de Raimundo Nobre
Por certo período houve muito desgaste emocional e de tempo por causa do atrito entre as denominações plantadas na segunda metade do século 19 e as Assembleias de Deus. Houve atitudes precipitadas, exageros e falta de amor de ambas as partes. O encarregado da congregação batista de Belém, Raimundo Nobre, acolheu os dois suecos no porão de sua casa e permitiu a participação deles nos cultos, o que redundou na divisão da igreja. Aborrecido e preocupado com a situação, Raimundo escreveu um folheto de 27 páginas contra a pregação de Gunnar e Daniel, e mandou imprimir 20 mil exemplares, que foram enviados para as igrejas evangélicas de todo o Brasil. Gunnar ensinava que a prova do batismo com o Espírito Santo era falar em línguas. Anos depois, a declaração de fé oficial das Assembleias de Deus amenizou a questão, afirmando que falar em outras línguas conforme a vontade soberana de Deus é evidência do batismo com o Espírito. Da parte dos pentecostais, havia muita ênfase em línguas, revelações, curas e milagres. Daniel chamou de milagre o fato de um peixe ter pulado para dentro do barco quando os passageiros estavam com muita fome.
Cem mil batizados em 36 anos
A primeira igreja pentecostal foi organizada há exatos cem anos, em 18 de junho de 1911, seis meses depois da chegada dos dois suecos ao Pará, com o nome de Missão da Fé Apostólica, o mesmo nome dado por William Seymour à igreja da rua Azuza, em Chicago, cinco anos antes. O nome Assembleia de Deus foi adotado seis anos e meio depois, em janeiro de 1918.
Nenhuma denominação evangélica experimentou um crescimento tão rápido e tão grande como as Assembleias de Deus. Nos quatro primeiros anos (1911-1914) houve 384 batismos “nas águas”. No final da primeira década, a nova denominação estava estabelecida em sete estados das regiões Norte (Pará e Amazonas) e Nordeste (Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas). Na década de 20, os assembleianos ocuparam os demais estados do Norte e Nordeste e começaram o trabalho nas regiões Sudeste (Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais) e Sul (Paraná e Rio Grande do Sul). Em 33 anos de história (de 1911 a 1944), já estavam instalados em todos os estados da Federação. Na ocasião da 8ª Convenção Nacional das Assembleias de Deus, realizada em São Paulo, em 1947, o Brasil já era contado como o terceiro país em número de crentes pentecostais em todo o mundo, com 100 mil fiéis batizados
Gunnar Vingren e Daniel Berg nasceram em uma época difícil na história da Suécia. Entre 1867 e 1886, quase 450 mil suecos deixaram o país por causa da escassez de alimentos e de empregos. A maioria imigrou para o meio-oeste dos Estados Unidos.
Era a chamada “febre dos Estados Unidos”. Embora a situação tivesse melhorado, Daniel viajou para lá em 1902, com 18 anos, e Gunnar, no ano seguinte, com 24. Os dois se conheceram em uma igreja sueca em Chicago, no ano de 1909, dez anos depois da morte do famoso evangelista Dwight L. Moody, que viveu naquela cidade. A essa altura, Gunnar já tinha feito teologia em um seminário batista sueco e pastoreava uma igreja em Menominee, no Michigan, e Daniel trabalhava em uma quitanda em Chicago. Em uma conferência realizada na Primeira Igreja Batista Sueca de Chicago, Gunnar passou pela experiência do chamado batismo com o Espírito Santo e falou em línguas. A partir daí, começou a pregar a doutrina pentecostal; porém, metade da igreja de Menominee não o quis mais como pastor. Assumiu, então, o pastorado de outra igreja batista sueca, dessa vez em South Bend, na fronteira de Indiana com Michigan, e a transformou em uma igreja pentecostal. Uma de suas ovelhas era Adolf Ulldin, que, pouco depois, anunciou-lhe o que ouvira da parte de Deus a respeito de seu ministério além-mar. Por inspiração do Espírito Santo, Daniel foi visitar Gunnar em South Bend e ali ouviu a mesma profecia, que também foi dirigida a ele. Em obediência à orientação recebida, ambos viajaram para Nova York e lá encontraram, de fato, o navio Clement, que sairia na data indicada por Adolf: 5 de novembro de 1910. Por falta de recursos, compraram uma passagem de terceira classe. Duas semanas depois, com miseráveis 90 dólares no bolso, desembarcaram em Belém do Pará, sem saber uma palavra em português e sem alguém para recebê-los no porto. Assim começou a obra das Assembleias de Deus no Brasil.
Verão de janeiro a dezembro
Enquanto as denominações protestantes históricas começaram seu trabalho na região Sudeste (congregacionais, presbiterianos, metodistas e salvacionistas), no Rio Grande do Sul (luteranos e episcopais) e na Bahia (batistas), a Assembleia de Deus começou no extremo Norte do país. Os missionários pioneiros eram todos suecos, ao contrário do que acontecia da Bahia para o Sul, onde quase todos eram americanos e britânicos.
O Pará é 2,7 vezes maior que a Suécia, que tinha, na época, mais de 5,5 milhões de habitantes. Em vez das precisas quatro estações, com as quais estavam acostumados, Gunnar e Daniel encontraram aqui um verão contínuo. Na Suécia, eles adoravam participar da festa que celebrava a volta do verão, entre os dias 19 e 26 de junho, dançando a noite toda ao redor de mastros com enfeites coloridos. Os dois jovens missionários chegaram ao Pará exatamente quando começou o declínio da economia na Amazônia, devido à queda da produção de borracha, provocada pelos mercados asiáticos.
Gunnar e Daniel eram muito diferentes no aspecto físico e nos dotes pessoais. Cinco anos mais jovem, Daniel tinha muita saúde e resistência física. Era “um ganhador de almas incomum”, como diz Geziel Gomes. Praticava com sucesso a colportagem (venda de Bíblias) e o evangelismo pessoal de casa em casa, quase de ilha em ilha, e “de enfermaria em enfermaria”, quando já tinha 78 anos e estava internado em um hospital na Suécia. Além da mala cheia de Bíblias e folhetos, carregava sempre o violão, ao som do qual cantava hinos em português e em sueco para evangelizar. Em compensação, Gunnar era mais preparado e se tornou, naturalmente, o líder do trabalho. Ele era quem mais pregava, quem mais batizava e quem ia consolidando e ampliando a obra com a organização de novos pontos de pregação e congregações. Morreu trinta anos antes de Daniel, quando faltava um mês e meio para completar 54 anos.
“A mensagem completa do evangelho”
Os missionários evangélicos do século 19 foram, em parte, beneficiados pela chamada pré-evangelização, realizada pela Igreja Católica Romana nos 300 anos anteriores à sua chegada ao Brasil (de 1549 a 1855). Os missionários pentecostais foram muito beneficiados pela evangelização realizada pelos missionários evangélicos nos 55 anos anteriores ao início de seu trabalho (de 1855 a 1910). Em alguns poucos casos, o trabalho das Assembleias de Deus começava com a pentecostalização de uma igreja evangélica já existente, como aconteceu com a Igreja Batista Sueca de South Bend, no início de 1910. Em outros casos, começava com alguns crentes que deixavam suas congregações de origem para abraçar a “novidade” pentecostal. Foi o que aconteceu em Belém do Pará e em muitos lugares por esse Brasil afora, especialmente nos primeiros anos. Todavia, a maior parte da membresia das Assembleias de Deus procedia das trevas da ignorância religiosa e das trevas do pecado e da incredulidade.
Gunnar Vingren, Daniel Berg e a geração de pastores nacionais que surgiu com eles não anunciavam apenas Jesus. Pregavam “a salvação em Jesus e o batismo com o Espírito Santo”. Esta era “a mensagem completa do evangelho”. Tal pregação certamente encontrava guarida entre os cristãos que, à semelhança dos discípulos de Éfeso, nem sequer sabiam da existência do Espírito Santo (At 19.2), por culpa da omissão de seus pastores. Encontrava guarida também entre os cristãos cujos pastores atribuíam toda honra ao Espírito Santo sem, contudo, usar a nomenclatura teológica dos pentecostais.
O folheto de 27 páginas de Raimundo Nobre
Por certo período houve muito desgaste emocional e de tempo por causa do atrito entre as denominações plantadas na segunda metade do século 19 e as Assembleias de Deus. Houve atitudes precipitadas, exageros e falta de amor de ambas as partes. O encarregado da congregação batista de Belém, Raimundo Nobre, acolheu os dois suecos no porão de sua casa e permitiu a participação deles nos cultos, o que redundou na divisão da igreja. Aborrecido e preocupado com a situação, Raimundo escreveu um folheto de 27 páginas contra a pregação de Gunnar e Daniel, e mandou imprimir 20 mil exemplares, que foram enviados para as igrejas evangélicas de todo o Brasil. Gunnar ensinava que a prova do batismo com o Espírito Santo era falar em línguas. Anos depois, a declaração de fé oficial das Assembleias de Deus amenizou a questão, afirmando que falar em outras línguas conforme a vontade soberana de Deus é evidência do batismo com o Espírito. Da parte dos pentecostais, havia muita ênfase em línguas, revelações, curas e milagres. Daniel chamou de milagre o fato de um peixe ter pulado para dentro do barco quando os passageiros estavam com muita fome.
Cem mil batizados em 36 anos
A primeira igreja pentecostal foi organizada há exatos cem anos, em 18 de junho de 1911, seis meses depois da chegada dos dois suecos ao Pará, com o nome de Missão da Fé Apostólica, o mesmo nome dado por William Seymour à igreja da rua Azuza, em Chicago, cinco anos antes. O nome Assembleia de Deus foi adotado seis anos e meio depois, em janeiro de 1918.
Nenhuma denominação evangélica experimentou um crescimento tão rápido e tão grande como as Assembleias de Deus. Nos quatro primeiros anos (1911-1914) houve 384 batismos “nas águas”. No final da primeira década, a nova denominação estava estabelecida em sete estados das regiões Norte (Pará e Amazonas) e Nordeste (Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas). Na década de 20, os assembleianos ocuparam os demais estados do Norte e Nordeste e começaram o trabalho nas regiões Sudeste (Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais) e Sul (Paraná e Rio Grande do Sul). Em 33 anos de história (de 1911 a 1944), já estavam instalados em todos os estados da Federação. Na ocasião da 8ª Convenção Nacional das Assembleias de Deus, realizada em São Paulo, em 1947, o Brasil já era contado como o terceiro país em número de crentes pentecostais em todo o mundo, com 100 mil fiéis batizados
Daniel Berg
Missionário, evangelista, pastor e fundador das Assembleias de Deus no Brasil. Nasceu em 19 de abril de 1884, na pequena cidade de Vargön, na Suécia, às margens do lago de Vernern. Quando recém-nascido, o padre da cidade visitou inúmeras vezes a casa de seus pais para convencê-los a batizá-lo, mas nada conseguiu. Por isso, desde criança, Daniel era mal visto pelo padre, que, desprestigiado, passou a dizer que a criança que não fosse batizada por ele jamais sairia de Vargön. “Já naquele tempo pude observar a desvantagem e o perigo de o povo ter uma fé dirigida, sem liberdade. A religião que dominava minha cidadezinha e arredores impossibilitava as almas de terem um encontro com o Salvador”, conta o pioneiro em suas memórias.
Quando o evangelho começou a entrar nos lares de Vargön, seus pais, Gustav Verner Högberg e Fredrika Högberg, o receberam e ingressaram na Igreja Batista. Logo procuraram educar o filho segundo os princípios cristãos. Em 1899, quando contava 15 anos de idade, Daniel converteu-se e foi batizado nas águas na Igreja Batista de Ranum.
Em 1902, aos 18 anos, pouco antes do início da primavera nórdica, deixou seu país. Embarcou a 5 de março de 1902, no porto báltico de Gothemburgo, no navio M.S. Romeu, com destino aos Estados Unidos. “Como tantos outros haviam feito antes de mim”, frisava. O motivo foi a grande depressão financeira que dominara a Suécia naquele ano.
Em 25 de março de 1902, Daniel desembarcou em Boston. No Novo Mundo, sonhava, como tantos outros de sua época, em realizar-se profissionalmente. Mas Deus tinha um plano diferente e especial para sua vida.
De Boston, viajou para Providence, Rhode Island, para se encontrar com amigos suecos, que lhe conseguiram um emprego numa fazenda. Permaneceu nos Estados Unidos por sete anos, onde se especializou como fundidor. Com saudades do lar, retornou à cidade natal, onde o tempo parecia parado. Nada havia se modificado. Só Lewi Pethrus*, seu melhor amigo, companheiro de infância, não morava mais ali. “Vive em uma cidade próxima, onde prega o evangelho”, explicou sua mãe.
Logo chegou a seu conhecimento que seu amigo recebera o batismo no Espírito Santo, coisa nova para sua família. A mãe do amigo insistiu para que Daniel o visitasse. Aceitou o convite. No caminho, estudou as passagens bíblicas onde se baseava a “nova doutrina”.
Chegando à igreja do amigo Lewi Pethrus (Igreja Batista de Lidköping), encontrou-o pregando. Sentou e prestou atenção na mensagem. Após o culto, conversaram longamente sobre a nova doutrina. Daniel demonstrou ser favorável. Em seguida, despediu de seus pais e partiu, pois sua intenção não era permanecer na Suécia, mas retornar à América do Norte.
Em 1909, em meio à viagem de retorno aos Estados Unidos, Daniel orou com insistência a Deus, pedindo o batismo no Espírito Santo. Como não estava preocupado como da primeira vez, posto que já conhecia os EUA, canalizou toda a sua atenção à busca da bênção.
Ao aproximar-se das plagas norte-americanas, sua oração foi respondida. A partir de então, sua vida mudou. Daniel passou a pregar mais a Palavra de Deus e a contar seu testemunho a todos.
Ainda em 1909, por ocasião de uma conferência em Chicago, Daniel encontrou-se com o pastor batista Gunnar Vingren, que também fora batizado no Espírito Santo. Os dois conversaram horas sobre as convicções que tinham. Uma delas é que tanto um como o outro acreditava que tinham uma chamada missionária. Quanto mais dialogavam, mais suas chamadas eram fortalecidas.
Quando Vingren estava em South Bend, Daniel Berg estava trabalhando em uma quitanda em Chicago quando o Espírito Santo mandou que se mudasse para South Bend. Berg abandonou seu emprego e foi até lá, onde encontrou Vingren pastoreando a igreja Batista dali. “Irmão Gunnar, Jesus ordenou-me que eu viesse me encontrar com o irmão para juntos louvarmos o seu nome”, disse Berg. “Está bem!”, respondeu Vingren com singeleza. Passaram, então, a encontrar-se diariamente para estudarem as Escrituras e orarem juntos, esperando uma orientação de Deus.
Após a revelação divina dada ao irmão Olof Uldin de que o lugar para onde deveriam ir era o Pará, no Brasil, Daniel Berg, contra a vontade dos seus patrões, abandonou o emprego. Eles argumentaram: “Aqui você pode pregar o Evangelho também, Daniel; não precisa sair de Chicago”. Mas ele estava convicto da chamada e não voltou atrás.
Ao se despedir, Berg recebeu de seu patrão uma bolacha e uma banana. Essa era uma tradição antiga nos Estados Unidos. Simbolizava o desejo de que jamais faltasse alimento para a pessoa que recebesse a oferta.
Esse gesto serviu de consolo para Berg, que em seguida partiu com Vingren para Nova Iorque, e de lá para o Brasil em um navio.
No Pará, Daniel, com 26 anos de idade, logo se empregou como caldereiro e fundidor na Companhia Port of Pará, recebendo salário mensal de 12 mil réis, passou a custear as aulas de português ministradas a Vingren por um professor particular. No fim do dia, Vingren ensinava o que aprendera a Daniel. Justamente por isso, Berg nunca aprendeu bem a língua portuguesa. O dinheiro que sobrava era usado na compra de Bíblias nos Estados Unidos.
Tão logo começou a se fazer entender na língua portuguesa, passou a evangelizar nas cidades e vilas ao longo da Estrada de Ferro Belém-Bragança, enquanto Vingren cuidava do trabalho recém-nascido na capital. Como o evangelho era praticamente desconhecido no interior do Pará, Berg se tornou o pioneiro da evangelização na região. É que as igrejas evangélicas existentes na época não tinham recursos suficientes para promover a evangelização no interior.
Após a evangelização de Bragança, tornou-se também o pioneiro na evangelização da Ilha de Marajó, onde peregrinou por muitos anos, a bordo de pequenas e grandes canoas. Berg ia de ilha em ilha, levando a mensagem bíblica aos pequenos grupos evangélicos que iam se formando por onde passava.
No início de 1920, Daniel visitou a Suécia, onde se enamorou com a jovem Sara, com quem se casou em 31 de julho daquele ano. Em março de 1921, retornou ao Brasil, acompanhado por sua esposa. O casal teve dois filhos: David e Débora.
Em 1922, seguiu para Vitória (ES) para estabelecer a Assembleia de Deus naquela capital, permanecendo até 1924, quando foi para Santos fundar a AD no Estado de São Paulo. Em 1927, o casal Berg mudou-se para a capital São Paulo, onde Daniel continuou fazendo seu trabalho de evangelismo até 1930.
Depois de um período de descanso, seguiu para a obra missionária em Portugal, entre os anos 1932-1936, na cidade de Porto. Após passar pela Suécia, retornou ao Brasil, em 11 de maio de 1949. Permaneceu na cidade de Santo André (SP) até 1962, quando retornou definitivamente para a Suécia.
Daniel Berg sempre foi muito humilde e simples. Em suas pregações e diálogos, sempre demonstrou essas virtudes. Ninguém o via irritado ou desanimado. Sempre que surgia algum problema, estas eram suas palavras: “Jesus é bom. Glória a Jesus! Aleluia! Jesus é muito bom. Ele salva, batiza no Espírito Santo e cura os enfermos. Ele faz tudo por nós. Glória a Jesus! Aleluia!”.
No Jubileu de Ouro das Assembleias de Deus no Brasil, comemorado em Belém, Berg estava lá, inalterado, enquanto os irmãos faziam referência a sua atuação no início da obra. Para ele, a glória era única e exclusivamente para Jesus. Berg considerava-se apenas um instrumento de Deus.
Nas comemorações do Jubileu no Rio de Janeiro, no Maracanãzinho, quando pastor Paulo Leivas Macalão colocou em sua lapela uma medalha de ouro, Berg externou visivelmente em seu rosto a ideia de que não merecia tal honraria.
Até 1960, Berg recebeu, diretamente de Deus, a cura de suas enfermidades mediante a oração da fé. Mas, a respeito de suas condições de vida nos seus anos finais, pode-se inferir que não tinha o amparo que merecia. A esse respeito, o pioneiro Adrião Nobre protestou na revista A Seara, edição de novembro-dezembro de 1957, p. 32: “O irmão Berg reside em São Paulo (cidade de Santo André). Não sei como ele vive ultimamente; tive, contudo, notícias desagradáveis com relação à sua condição de vida – não tem, segundo soube, o descanso que merece, nem o conforto que lhe devemos proporcionar. Irmãos, não sejamos injustos, lembremo-nos de auxiliar o tão amado pioneiro da obra pentecostal no Brasil”.
Em 1963, foi hospitalizado na Suécia. Mesmo assim, ainda trabalhava para o Senhor. Ele saía da enfermaria para distribuir folhetos e orar pelos que se decidiam. A disciplina interna do hospital não lhe permitia fazer esse trabalho, por isso uma enfermeira foi designada para impor-lhe a proibição. Porém, ao deparar-se com o homem de Deus alquebrado pelo peso dos anos, mas vigoroso em sua tarefa espiritual, não teve coragem e desistiu da tarefa. Berg, então, continuou a oferecer literaturas.
Finalmente, em 27 de maio de 1963, aos 79 anos, Daniel Berg morreu. Sua esposa, Sara, faleceu em 11 de abril de 1981.
Fontes: BERG, Daniel. Enviado por Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 8ª edição, 2000, 208 pp; VINGREN, Ivar. O diário do pioneiro – Gunnar Vingren. Rio de Janeiro: CPAD, 1ª edição
Finalmente, em 27 de maio de 1963, aos 79 anos, Daniel Berg morreu. Sua esposa, Sara, faleceu em 11 de abril de 1981.
Fontes: BERG, Daniel. Enviado por Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 8ª edição, 2000, 208 pp; VINGREN, Ivar. O diário do pioneiro – Gunnar Vingren. Rio de Janeiro: CPAD, 1ª edição
Nenhum comentário:
Postar um comentário
SE VOCÊ LEMBRA DE ALGUM HERÓI DA FÉ QUE NÃO FOI MENCIONADO, POR FAVOR MANDE UM E-MAIL PARA Gelsonlara@sbcglobal.net