3 de agosto de 2014

EM PALAVRA, OU EM PODER A W TOZER


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EM PALAVRA, OU  EM PODER
 A W TOZER
Porque o  evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas sobretudo em poder,no Espírito Santo. 1 Tessalonicenses 1.5 

Se alguém está em Cristo, é nova criatura. 2 Coríntios 5.17 

Tens nome de que vives, e estás morto. Apocalipse 3.1

       Para quem é apenas um estudante, estes versículos podem ser interessantes, mas para um homem sério, empenhado em obter a vida eterna, bem podem provar-se mais do que algo perturbadores. Pois eles evidentemente ensinam que a mensagem do Evangelho pode ser recebida de uma destas duas maneiras: em palavra somente, sem poder, ou em palavra com poder.
E estes versículos também ensinam que quando a mensagem é recebida em poder, efetua uma mudança tão radical que se pode chamar de nova criação. Mas a mensagem pode ser recebida sem poder, e, por certo, alguns a receberam desse modo, pois têm nome de que vivem, e estão mortos. Tudo isso será presente nestes textos. Observando as maneiras de jogar dos homens, pude entender melhor as maneiras de orar dos homens. Na maioria os homens, na verdade, brincam de religião como brincam nos jogos, sendo que de todos os jogos a religião é o jogo mais universalmente jogado. Os vários desportos têm as suas regras, as suas bolas e os seus jogadores; o jogo desperta interesse, dá prazer e consome tempo, e quando acaba, as equipes competidoras deixam o campo sorrindo. É comum ver um jogador deixar uma equipe e juntar-se a outra e, poucos dias depois, jogar contra os seus ex-colegas com o mesmo entusiasmo que anteriormente demonstrara jogando em favor  deles.
A coisa toda é arbitrária. Consiste em resolver problemas artificiais e combater dificuldades deliberadamente criadas por amor do jogo. Não tem raízes morais, e não se espera que tenha. Ninguém melhora pelo esforço que a si mesmo se impõe. Tudo não passa de uma agradável atividade que não muda nada nem fixa nada, afinal.
Se as condições que descrevemos se limitassem ao campo de esporte, poderíamos passar por alto sem pensar mais nisso, mas que havemos de dizer quando este mesmo espírito entra no santuário e decide a atitude dos homens para com Deus e para com a religião? Pois a igreja também tem os seus campos, as suas regras e o seu equipamento para o jogo das palavras piedosas. Ela tem os seus fanáticos, tanto leigos como profissionais, que mantêm o jogo com o seu dinheiro e o incentivam com a sua presença, mas que não diferem, na vida ou caráter, de muitos que não têm absolutamente interesse nenhum pela religião. Como um atleta usa uma bola, assim muitos de nós usam palavras; palavras faladas e palavras cantadas, palavras escritas e palavras proferidas em oração. Nós as atiramos rapidamente pelo campo; aprendemos a manejá-las com destreza e graça; edificamos reputações sobre a nossa habilidade verbal e ganhamos como recompensa o aplauso dos que
apreciaram o jogo. Mas a vacuidade disso transparece do fato de que,após o jogo religioso,basicamente ninguém é nada diferente do que era antes . As bases da vida continuam inalteradas, os mesmos princípios antigos dominam, o mesmo velho Adão governa.
Eu não disse que a religião sem poder não faz nenhuma mudança na vida de alguém; disse apenas que não faz nenhuma diferença fundamental. A água pode mudar de líquido para vapor, de vapor para neve e de novo para líquido, e continua sendo fundamentalmente a mesma coisa. Assim a religião sem poder pode submeter o homem a muitas mudanças superficiais deixando-o exatamente igual ao que era antes.  É justamente aí que está a armadilha. As mudanças são apenas de forma, não de natureza.
Por trás do homem não religioso e do homem que recebeu o Evangelho sem poder estão os mesmos motivos. Um ego não abençoado jaz no fundo de ambas as vidas, com a diferença que o homem religioso aprendeu a disfarçar melhor o defeito. Os seus pecados são mais refinados e menos ofensivos do que antes de ele dedicar-se à religião, mas o homem mesmo não é melhor aos olhos de Deus. Na verdade pode ser pior, pois sempre Deus odeia o artificialismo e o fingimento. O egoísmo ainda vibra como um motor no centro da vida desse homem. É verdade que ele pode "reorientar" os seus impulsos egoísticos, mas a sua desgraça é que o seu ser interior ainda vive sem ser censurado e até mesmo insuspeito dentro das profundezas do seu coração. Ele é uma vítima da religiãosem poder.

O homem que recebeu a Palavra sem poder aparou a sua sebe, mas esta continua sendo uma sebe de espinhos e jamais poderá produzir os frutos da nova vida. Os homens não podem colher uvas dos espinheiros nem figos dos abrolhos. Entretanto, tal homem pode ser um líder na igreja, e a sua influência e o seu voto podem chegar a determinar o que será a religião em sua geração. 
A verdade recebida em poder muda as bases da vida de Adão para Cristo, e um novo conjunto de motivos entra em ação dentro da alma. Um novo e diferente Espírito penetra na personalidade e torna o crente um homem novo em cada departamento do seu ser. Os seus interesses mudam das coisas externas para as internas, das coisas da terra para as do céu. Ele perde a fé na solidez dos valores externos, vê claramente o desengano das aparências exteriores, e o seu amor pelo mundo invisível e eterno e sua confiança nele tornam-se mais fortes à medida que a sua experiência se amplia.Com as idéias aqui expressas a maioria dos cristãos concordará, mas o abismo entre a teoria e a prática é tão grande que chega a ser aterrador. Pois o Evangelho é com demasiada freqüência pregado e aceito sem poder, e nunca se efetua a alteração radical que a verdade exige. Pode haver, é certo, uma mudança de alguma espécie; pode-se fazer um negócio intelectual e emocional com a verdade, mas o que quer que aconteça não basta, não é bastante profundo, não é suficientemente radical. A "criatura" é mudada,mas ele não é "novo". E justamente aí está a tragédia disso. O Evangelho tem que ver com vida nova, com um nascimento para cima, para um novo nível do ser e, enquanto ele não efetuar esse renascimento, não realizou a obra salvadora dentro da alma.Sempre que a Palavra vem sem poder, falta o seu conteúdo essencial. Pois há na verdade divina uma nota imperiosa, há em torno do Evangelho uma urgência, uma finalidade que não pode ser ouvida ou sentida, a não ser com a capacitação do Espírito. Devemos manter
constantemente em mente que o Evangelho não é boa nova somente,mas também um julgamento de todo aquele que o ouve. A mensagem da Cruz é de fato boa nova para o penitente, mas para os que "não obedecem ao evangelho" traz consigo um toque de advertência. O ministério do Espírito ao mundo impenitente é falar do pecado, da justiça e do juízo. Para os pecadores que querem deixar de ser pecadores intencionais e querem tornar-se obedientes filhos de Deus, a mensagem do Evangelho é de paz irrestrita, mas também é, por sua própria natureza, um árbitro dos destinos futuros dos homens. Este aspecto secundário é quase totalmente negligenciado em nossos dias. O elemento dádiva do Evangelho é apresentado como seu conteúdo exclusivo e,conseqüentemente,. O elemento mudança  é ignorado.



Assentimento teológico é tudo que se requer para fazer cristãos. A este assentimento chamam fé, e se pensa que essa é a única diferença entre os salvos e os perdidos. Concebe-se assim a fé como uma espécie de magia religiosa que traz ao Senhor grande deleite e que possui um misterioso poder para abrir o reino do céu.Quero ser justo com todos e encontrar todo o bem que puder nas crenças religiosas de todos os homens, mas os efeitos nocivos desta crença na fé como uma magia são maiores do que os pode imaginar quem não os tenha enfrentado face a face. A própria palavra retidão  só é pronunciada com frio escárnio, e o homem moral é olhado com comiseração. "O cristão", dizem esses mestres, "não é moralmente melhor do que o pecador; a única diferença é que recebeu Jesus e, assim, tem um Salvador". Espero que não soe irreverente demais perguntar: "Salvador do quê?" Se não for do pecado, da má conduta e da velha vida decaída, então do quê? E se a resposta for: "Das conseqüências dos pecados passados e do juízo vindouro", ainda isso não nos satisfará. Será que a justificação das ofensas passadas é tudo que distingue o cristão do pecador impenitente? Pode um homem tornar-se crente em Cristo e não ser melhor do que era antes?  Será que o Evangelho não oferece nada mais do que um hábil Advogado para colocar pecadores culpados em liberdade no dia do juízo? Penso que a verdade nesta questão não é nem profunda demais, nem difícil demais de descobrir, basta querermos ver com os olhos de Deus. 

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