ORAÇÃO QUE
PREVALEÇE
CHARLES FINNEY
Pedí, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei e
abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede, recebe; e quem busca, acha; e ao que
bate, abrir-se-lhe-á. Mat 7:7,8
Pedis
e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites. Tiago
4:3
O tema sobre o qual falei ontem à noite é o mesmo que vos
quero falar hoje também: As condições para
que as orações possam prevalecer. Fiz referência a várias
condicões ontem e esta noite vou-me entregar ao comentário do mesmo assunto.
Fiz referência àquela perseverança como condição para que se
prevaleça com Deus. Às vezes porém, as condições são de tal caráter que não
existe tempo para perseverar no sentido de se prolongar por muito sobre um
qualquer assunto com o qual se quer lutar com Deus em oração como Jacó. Deus
está sempre esperando alguém entrar na brecha para interceder e sempre disposto
em atender as súplicas do angustiado, muito para benefício de quem pede, muitas
vezes para benefício de terceiros, ou mesmo as duas coisas juntas. Há casos
destes registrados nas Escrituras, onde Deus não atendeu de pronto, para que se
desenvolvesse no espírito um desejo de lutar. Fiz referencia sobre Jacó ontem à
noite, de como ele se fez um exemplo de perseverança em luta, persistindo até
ao fim (para ele, fim de sua própria vida, pois nada teria a perder se Deus não
viesse em seu auxílio) e, de como assim fez prevalecer a sua súplica. Também
fiz referencia aos casos de Moisés e de Elias.
Elias tinha expressamente a
promessa de chuva sobre a terra. Quando
ele fez aquele altar, quando matou todos os profetas de Baal que ali se
encontravam, se bem se recordam, entregou-se intensamente àquela oração que
apenas os santos serão capazes de fazer sem nunca desistirem (mandando o seu
servo ir ver por sete vezes se alguma nuvem havia nos céus). Elias começou a
orar! Mas o servo foi e voltou com a triste notícia de que os céus estavam
limpos e não havia nenhuma nuvem; tudo estava igual, só vento e pó. Quando Elias ora sobre uma promessa
feita, ele diz "vai lá ver de novo!" Acho que ele só quis
dizer vai sempre lá até que vejas algo, pois não posso sair daqui até que venha
a bênção. Ele tinha dentro de si uma
forte ansiedade santa para beneficiar aquele povo que sofria com a seca, mas também tinha outras razões para dali não sair até
que viesse a prevalecer inquestionavelmente bem. Deus expressamente lhe havia
prometido. Elias determinara
em seu coração que aquela demora estranha não lhe serviria de razão para
desistir, tropeçando assim em si mesmo. Ele continuou defendendo a sua
causa fielmente, até que, depois de muito suplicar, a chuva veio refrescar a
seu espírito angustiado. Ele por certo iria continuar a manter o seu caso
diante de Deus se aquela chuva persistisse em não vir. De repente apareceu uma
pequena nuvem como a mão de um homem. Ele não foi leviano ao ponto de se
levantar dali até que Deus o houvesse atendido como muitos fariam na sua
presunção!
Os presunçosos pressupõem erradamente que apenas porque
Deus prometeu, estarmos recordados daquilo que prometeu, será o suficiente para
se vir a concretizar a promessa! Aquele profeta tinha um espírito dentro dele mesmo repleto de urgência e,
instigado por ela, não se atreveu a abandonar desnecessariamente aquele trono
de graça que será a face real de Deus. O seu servo teve de ir e voltar
sete vezes e na última delas apenas disse que aparecia uma pequena nuvem como
uma mão dum homem. Observem como exemplo o que é a perseverança e aprendam com
quem estava sempre diante de Deus: não se teve por leviano trazendo desonra ao
Seu nome que carregava pesadamente consigo.
Vejamos de novo o caso de Daniel em Daniel 10. Deveras um caso seguramente muito
pertinente diante de Deus. Lemos assim: "Naqueles dias eu, Daniel, estava
pranteando por três semanas inteiras. Nenhuma coisa desejável comi, nem carne
nem vinho entraram na minha boca, nem me ungi com unguento, até que se
cumpriram as três semanas completas." Dan.10:2,3. Assim chegou aquela
resposta inesperada. Daniel
arriscou aqui a própria vida, pois acho e temo que não se levantaria dali até
que houvesse prevalecido na sua singela oração. Não vou ler os
versículos todos, por essa razão irei saltar para o v.12: "Então me disse:
Não temas, Daniel; porque desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a
compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras, e
por causa das tuas palavras eu vim logo". Parece-nos que um mensageiro foi
mandado para servir Daniel com uma resposta. Também nos parece que algum agente
estranho se entrepôs no caminho da resposta que aquele mensageiro lhe trazia.
De fato, um espírito vindo do próprio inferno subiu de lá para que perturbasse
e turvasse a resposta trazida a Daniel. Mas como em Deus sempre saímos vencedores, aquele anjo
prevaleceu sobre o tal príncipe da Pérsia infernal, havendo sido ajudado
pelo anjo Miguel, um dos principais, como se houvesse sido o próprio Messias;
alguns acham que simbolicamente é. Mas aquilo que conta, aquilo que é de grande
realce, é que Daniel pressionou o seu caso até aos vinte e um dias sem cessar. Nada o faria parar, com a exceção de
uma resposta.
No caso da mulher Cananita vemos mais um pormenor de grande importância. Por certo se recordarão
das circunstâncias em que tal coisa se deu. A mulher não era de linhagem de
sangue santo, muitos anos antes havia sido condenada à extinção e existia
apenas porque os Israelitas não haviam sido obedientes a Deus em anteriores
séculos de existência humana; sua filha estava a ser afligida por um espírito
imundo que a atormentava noite e dia; e foi nessas circunstâncias que ela se
aproximou de Cristo para ser ajudada. Nada, para ela, levava a crer qual o
desfecho de tal ousadia, duma mulher se aproximar dum homem santo, sendo impura
e leviana. Mas Cristo veio para que esses tenham vida. Ela caiu diante dele, e
disse-lhe algo como "tem misericórdia de mim, Filho de David; a minha
filha está violentamente atormentada por um espírito imundo". Os discípulos
lá estavam com Ele. Vendo estes que Cristo aparentemente não se movia em favor
dela, disseram-Lhe: "despede-a logo, porque ela não nos deixa!" Ele
respondeu, se bem se recordam, "não fui mandado senão às ovelhas perdidas
de Israel". Esta mulher Siro-Finícia, não se sentiu minimamente
desencorajada pelo desenlace da reação de quem ela achava teria poder e
santidade suficientes para ajudá-la, nem que fosse apenas pela fama que tinha,
ela creu. Jesus respondeu-lhe a ela já que "não é licito dar o pão dos
filhos aos cães" Ao que esta respondeu "é verdade Senhor; mas não
peço tal coisa, que me dês do pão dos filhos (pois ela reconhecia sem rancor
contra os judeus quem era). Aceito ser comparada a um cão esfomeado. Não me sinto magoada contigo nem
assim; aceito que tudo aquilo que dizes seja verdade; considero-me vil,
mas posso comer das tuas migalhas, daquelas que caem no chão e já ninguém as
aproveita?"
Amigos, que
espírito é este, o desta mulher verdadeira e nobre? Até Jesus a enalteceu
dizendo-lhe: "mulher, grande é a tua fé! Vai, e seja feito conforme o teu
desejo!" Cristo, atuando
sobre ela, aparentemente negando-lhe o seu primeiro pedido e o segundo e
sabe-se lá quantos mais, construiu a fé desta mulher sobre a rocha da verdade!
Até para os discípulos havia sido um exemplo de perseverança e de fé. Se não
houvesse sido trabalhada até aquele ponto de verdade e aceitação interior de
reconhecer quem e porque era, ter-se-ia confundido, houvesse Cristo aceite seu
pedido antes. Mas esta mulher
não desistiu, e mesmo sobre forte pressão para se desencorajar, ela persistiu e
venceu.
Recordemo-nos
que ela já vinha com imensa mágoa no seu coração, com a qual muitos nem se
atrevem a pensar em Deus a não ser que seja para o acusarem de algo. Maior se
tornou seu dilema por saber que não pertencia às ovelhas perdidas de Israel;
maior ainda se tornou quando isso se confirmou da boca de Cristo, em quem ela
depositava sua confiança. Mesmo assim arranjou forças para não se entregar a
todos os muitos motivos para se sentir desencorajada e desistir de algo que
sabia Cristo poderia dar-lhe. Precisamente o oposto de tudo isto sucedeu, pois
muitas vezes devemos permitir e entender tudo aquilo que o Senhor faz, sabendo
Quem é Ele.
Parecia até
que Ele a tratava com despeito, como se ela nada valesse para Ele; mas o Senhor
apenas testava o seu mau feitio. A reação dela poderia ter sido, "já que
me tratas assim, eu não falo mais contigo. Não vim atrás daquele pão dos filhos
e tratas-me assim!" Esta é uma bonita história de perseverança e não só,
mas principalmente do poder dela, de como prevalece sempre com Deus.
Um caso curioso deu-se quando fui a Inglaterra. Um senhor cujo nome já me esqueci, em
Birmingham, pediu para falar comigo para relatar algo sobre ele. Havia ouvido
muita coisa muito diferente sobre a oração que prevalece, coisas demais até e
sentia-se naquele dever de me exortar e revelar quão grande seria a fidelidade
de Deus! Este caso foi de caráter tal que desde então parei muitas vezes para
pensar nele, tão fortes eram os princípios daquele homem.
Relatou-me
a seguinte história: "um vizinho meu perdeu a sua esposa. Quando ela
estava enferma e à beira da morte, a minha esposa foi cuidar dela. Permaneceu
ao seu lado até ao seu último fôlego se haver despedido dela. Depois de ela
voltar para casa, notei que algo de errado se passava, algo entre o viúvo e
ela. Falei com ela sobre os meus temores, os quais ela mesmo confirmou,
confessando a sua culpa e comprometendo-se a ir viver com ele!
Que mais poderia dizer? Ela desistira de mim
por outro homem solitário! Não tinha como reavê-la, de como convencê-la. Pois
havia jurado deixar-me e entregar-se a outro homem. Nada mais podia fazer! Desesperado fui ter com Deus.
Clamei dia e noite pedindo que atendesse a minha causa, que vingasse meu
dilema. Por mais de duas semanas nem dormir direito conseguia. Não me entreguei
senão à oração clamando a Deus incessantemente. Neste ponto deixei clarificado
à minha esposa que a receberia de braços abertos e que lhe perdoaria o passado.
Mantive-me nessa posição fielmente. Chorei e clamei diante de Deus. Depois de duas semanas ela voltou
para mim com um coração quebrantado e dorido, confessando seus muitos
pecados, humilhando-se diante de Deus. E desde então se tornou naquela esposa
ideal que eu sempre ansiara".
Que caso
tão reconfortante é este! Em vez de a desterrar e a ignorar para sempre, este
homem ele foi antes reclamar diante de Deus dizendo "ó Deus, este homem
tirou minha esposa do meu lado, averigua o meu caso e faz-me justiça!"
Caso haja outro caso mais flagrante para nos levar a orar do que este, do qual
podemos tornar alvo de oração persistente, nada mais antagônico que este caso
de adultério flagrante ; não só salvou o seu casamento, mas a vida de sua esposa
e quem sabe do seu próprio inimigo!
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