O QUE A BÍBLIA NOS ENSINA
PREGAR
CHARLES HADDON SPURGEON
Você já viu uma pessoa
que continuamente vai de um lado a outro perguntando: “vocês escutaram a nosso
ministro? Deu-nos um assombroso discurso no domingo passado pela manhã;
mencionou citações em hebraico, e em grego, e em latim, e recitou partes
encantadoras de poesia; com efeito, foi por completo um festejo intelectual.”
Sim, e eu tenho comprovado que, usualmente, esses festejos intelectuais
conduzem à ruína das almas; esse não é o tipo de pregação que Deus geralmente abençoa para a
salvação das almas, e, então,
ainda que outros preguem a filosofia de Platão, ou adotem os argumentos de
Aristóteles, “nós pregamos a Cristo crucificado,” ao Cristo que morreu pelos pecadores, o Cristo do povo, e “nós
pregamos a Cristo crucificado” em uma linguagem simples e uma mensagem clara
que as pessoas comuns possam entender. Vou procurar dar a nosso texto uma
aplicação prática, dizendo-lhes, primeiro, o que pregamos.
I-
O QUE PREGAMOS.
Paulo é um modelo para todos os pregadores, e ele diz: “nós
pregamos a Cristo crucificado.” Para poder pregar o Evangelho plenamente, deve haver uma
claríssima descrição da pessoa de Cristo; e nós pregamos a Cristo como Deus; não um homem convertido em
Deus, não um Deus rebaixado ao nível de homem, não alguém entre um homem e um
Deus, mas “Deus verdadeiro de Deus verdadeiro,” um com seu Pai em todos os
atributos: eterno, que não tem começo de dias, nem fim de vida; onipresente,
enchendo todo o espaço; onipotente, tendo todo o poder no céu e na terra;
onisciente, sabendo todas as coisas desde a eternidade; o grandioso Criador,
Preservador, e Juiz de tudo, em todas as coisas, a mesma e expressa imagem do
Deus invisível. Se erramos em relação à Deidade de Cristo, erramos em tudo. O Evangelho que não revela o Salvador Divino, não é
absolutamente um Evangelho. É
como um barco sem leme. O primeiro vento contrário que sopra, o leva à
destruição, e, ai das almas que confiam nele. Não há ombros, exceto os ombros
poderosos que sustentam as gigantescas colunas da terra que poderiam sustentar
o enorme peso das necessidades humanas. Nós lhes pregamos a Cristo, o Filho de
Maria, que uma vez dormiu nos braços de sua mãe, e, contudo, é o Infinito,
inclusive quando era um bebê; Cristo, o conhecido Filho de José, trabalhando na
oficina de carpintaria, mas sendo todo tempo o Deus que fez os céus e a terra;
Cristo, que não tinha onde reclinar a cabeça, desprezado e rejeitado entre os
homens, que é, contudo, “Deus sobre todas as coisas, bendito pelos séculos”;
Cristo cravado no maldito madeiro, sangrando por cada um de Seus poros, e
morrendo na cruz, e, contudo, vivendo para sempre; Cristo sofrendo agonias que
são indescritíveis, mas sendo ao mesmo tempo o Deus em que na Sua destra há
prazeres para sempre. Se Cristo não houvesse sido homem, não haveria podido
identificar-se nem com você, nem comigo, nem poderia ter sofrido em nosso
lugar. Como poderia ser a Cabeça do pacto dos filhos e filhas de Adão, se não
houvesse sido feito em tudo segundo a semelhança deles, exceto que não tinha
pecado? Com somente essa exceção, Ele era tal como somos, osso de nossos ossos
e carne de nossa carne, e, contudo, era tão verdadeiramente Deus como era
homem, o Ser de quem Isaías foi inspirado a profetizar: “Se chamará seu nome Maravilhoso Conselheiro, Deus forte,
Pai eterno, Príncipe da Paz.” Então,
quando pregamos a Cristo crucificado, pregamos a glória do céu conjuntamente
com a beleza da terra, a perfeição da humanidade reunida com a glória e a
dignidade da Deidade.
Continuando,
devemos pregar muito claramente a Cristo como o Messias, o Enviado de Deus.
Desde muito tempo atrás, havia sido profetizado que um grande Libertador devia
vir, que seria: “Luz para revelação dos gentios,” e “glória de Seu povo Israel”, e Jesus de Nazaré foi esse Libertador prometido, de
quem, tanto Moisés na lei, como os profetas, escreveram. Ele foi enviado por
Deus para ser o salvador dos pecadores. Não assumiu este ofício sem autoridade,
mas podia dizer de verdade: “Aqui venho, oh Deus, para fazer tua vontade.” Ele se converteu no Substituto
dos pecadores, mas isto não sucedeu acidentalmente, mas por um decreto divino,
pois lemos: “mas o Senhor fez cair sobre
Ele a iniquidade de nós todos.” Um sacerdote que não
fosse ordenado, um profeta que não fosse enviado por Deus, um rei sem a autoridade
divina teria sido unicamente uma piada; mas nosso grandioso Sumo Sacerdote foi
ungindo divinamente, nosso profeta sem igual foi enviado por Deus, e nosso Rei
é Rei dos reis e Senhor dos senhores, reinando justamente como o Filho eterno
do Pai eterno.
Pecador, esta verdade deveria lhe proporcionar esperança e consolo: o Cristo que pregamos é o Ungido do Senhor; e o que Ele faz, o faz por decreto. Quando Ele lhes disse: “Venham a mim, todos que estais cansados e sobrecarregados, e eu os farei descansar,” fala em nome do Seu Pai como também em seu nome próprio, pois tem a garantia do Eterno que apoia Sua declaração. Portanto, venham com confiança a Ele, e ponham sua confiança Nele.
Pecador, esta verdade deveria lhe proporcionar esperança e consolo: o Cristo que pregamos é o Ungido do Senhor; e o que Ele faz, o faz por decreto. Quando Ele lhes disse: “Venham a mim, todos que estais cansados e sobrecarregados, e eu os farei descansar,” fala em nome do Seu Pai como também em seu nome próprio, pois tem a garantia do Eterno que apoia Sua declaração. Portanto, venham com confiança a Ele, e ponham sua confiança Nele.
Uma vez que o pregador
põe um fundamento bom e só lido por meio da pregação da pessoa de Cristo e a
condição de Messias de Cristo, ele deve continuar pregando a obra de Cristo. Só
posso proporcionar um breve resumo do qual tomaria toda a eternidade para
explicá-lo. Temos de pregar de tal
maneira que mostremos como, no pacto eterno, Cristo tomou o lugar de Fiança e
Representante de Seu povo; e como, na plenitude
dos tempos, saiu dos palácios de mármore, levando as vestes da carne; e como
cumpriu, primeiro, uma justiça ativa por
meio da perfeita obediência de Sua vida cotidiana, e ao final, cumpriu uma
justiça passiva através de Seus sofrimentos e morte na cruz. Começando na
encarnação, prosseguindo à obra grandiosa da redenção, falando da morte de
Cristo, da ressurreição, ascensão, intercessão diante do trono de Seu Pai e da
gloriosa segunda vinda, temos um tema que os anjos muito bem poderiam cobiçar,
um tema que poderia despertar a esperança no coração do pecador.
Mas é especialmente a Cristo crucificado a
quem temos de pregar. Suas feridas e inchaços
nos lembram de que devemos lhes dizer que: “Mas Ele foi ferido por
nossas transgressões, moído por nossos pecados; o castigo que nos trouxe a paz,
estava sobre Ele, e por suas chagas, fomos curados.” A salvação deve ser encontrada no Calvário;
onde Jesus inclinou sua cabeça, e entregou seu Espírito, venceu os poderes das
trevas e abriu o Reino dos Céus a todos os crentes.
Há uma palavra que todo verdadeiro servo de Cristo deve ser
capaz de explicar de maneira muito clara; e esta palavra é: substituição.
Eu creio que ‘substituição’ é a palavra chave para toda a
teologia: Cristo ocupa o lugar dos pecadores, e é contado entre os
transgressores por causa das transgressões deles, não das Suas próprias; Cristo
paga nossas dívidas e salda todos nossos passivos. Esta verdade implica, consequentemente, que nós tomamos o
lugar de Cristo, quando Ele toma o nosso, de tal forma que todos os crentes são
amados, aceitos, feitos herdeiros de Deus, e, no tempo designado, serão
glorificados com Cristo para sempre. Irmãos ministros, se vocês não pregam
outra coisa, fa çam com que seus ouvintes entendam sempre, claramente, que há
um Substituto divino e suficiente em tudo para os pecadores, e que, todos que
põem sua confiança Nele, serão salvos eternamente.
Quando
pregamos a Cristo assim, devemos pregar também Seus ofícios. Devemos pregar a Cristo como o grandioso Sumo Sacerdote que
vive para sempre e intercede por nós. Devemos pregá-lo como
Profeta cujas palavras são divinas, e,
portanto, chegam a nós com uma autoridade da qual não podemos ignorá-la. Devemos assegurar-nos de
pregá-lo sempre como Rei, pondo a coroa de louvor sobre Sua cabeça real, e exigindo de Seu povo a inalterável fidelidade e
lealdade de seus corações, e o serviço indivisível de suas vidas. Devemos
pregar também os direitos de Cristo para seus ofícios. Ele é um Esposo? Devemos dizer-lhes quão amoroso e quão terno é.
Ele é um Pastor? Devemos proclamar Sua paciência, Seu poder, Sua perseverança,
e devemos tornar público, especialmente, Seu abnegado amor demonstrado ao
entregar Sua vida por Suas ovelhas. Ele é
um Salvador? Devemos mostrar como Ele pode salvar perpetuamente aos que por
Ele se achegam a Deus. Devemos falar muito sobre a mansidão que não quebra a
cana, nem apaga o pavio que fumega. Deve nos deleitar o falar de Cristo, que se
inclina até o homem de coração quebrantado e lhe sara as feridas, e tem Seu
ouvido aberto para ouvir o clamor de um espírito contrito. O caráter de Cristo é o ímã que atrai os pecadores a Si, Oh, quão glorioso é o nosso bendito Senhor! Podemos dizer
muito bem com a esposa de Cantares: “Ele é totalmente desejável.” Não podemos
exagerar Suas Excelências e Seus encantos, e nossa meta constante tem que ser
pintar tal retrato Dele que os pecadores se apaixonem por Ele, e confiem Nele
para serem salvos com Sua grandiosa salvação.
Devemos
ter sempre o propósito de pregar a Cristo como a única esperança do pecador. Em
tempos antigos, haviam certas pessoas ingênuas que pretendiam encontrar um remédio
universal para todas as enfermidades; mas sua busca foi em vão. Todos os
anúncios de remédios de curandeiros que podem enganar as pessoas ingênuas,
jamais convencerão as pessoas maduras de que se descobriu ou descobrirá, que
jamais haverá um remédio único para todas as enfermidades herdadas pela carne.
Contudo, há um remédio universal para as enfermidades da alma, e esse remédio
universal é Cristo. Qualquer que seja sua enfermidade: a furiosa febre da
luxúria, a trêmula febre intermitente das dúvidas e dos temores, ou a feroz
destruição da desesperança, Jesus Cristo pode curar. Sem importar a forma que o
pecado possa tomar – seja um olho cego, ou um ouvido surdo, ou o duro coração
de pedra, ou uma consciência ignorante e cauterizada – existe um remédio nas
veias de Jesus que pode curar todos os males. Nenhum caso submetido alguma vez
a Cristo foi capaz de desconcertar Sua habilidade, e Ele é ainda “grande para
salvar.” Devemos ser muito claros em dizer ao pecador que não há esperança para
ele em nenhuma parte exceto em Cristo.
“Nove de dez das flechas que estão na aljava de um ministro
devem ser disparados contra as boas obras do pecador, pois estas são seus
piores inimigos”.
A
tentativa de procurar um meio para poder salvar-se a si mesmo, fora de Cristo –
essa é a maldição de muitos.
Oh, pecador, ainda que, da coroa de sua cabeça até a planta de
teus pés não haja nenhuma parte sã em você, e somente esteja cheio de feridas,
contusões e chagas podres, se crê em Jesus, Ele sarará cada partícula de seu
ser, e você seguirá seu caminho como um pecador salvo pela graça. Devemos
também pregar a Cristo como o único deleite do cristão. Necessitamos de Cristo
como um salva-vidas quando estamos afundando nas ondas do pecado, mas agora que
nos colocou a salvo em terra, necessitamos que seja nosso alimento e nossa
bebida. Quando estávamos enfermos por meio do pecado, necessitávamos de Cristo
como nosso remédio; mas agora que Ele restaurou nossa alma, necessitamos Dele
como nosso sustento contínuo. Não há nenhuma carência que um cristão possa
experimentar, que Cristo não possa suprir, e não há nada em Cristo que não seja
útil para um cristão. Vocês sabem que algumas coisas que possuímos são boas,
mas nem todas são completamente úteis para nós. Por exemplo, uma fruta é boa,
mas tem uma casca que tem que ser descascada, e uma semente que tem que ser
retirada; mas quando Cristo se dá a nós, podemos tomá-lo totalmente, e
alegrar-nos para deleite do nosso coração. Tudo que Cristo é, e tudo que Cristo
tem, é nosso. Portanto, cristão, faça um pacto com sua mão, de que se agarrará
à cruz de Cristo para que seja sua única confiança; faça um pacto com seus
olhos, de que não buscará a luz em nenhuma outra parte, exceto no Sol da
justiça; faça um pacto com seu ser inteiro, de que será crucificado com Cristo,
e logo será levado ao céu para viver e reinar com Ele eternamente. Sim, esta
tem de ser a expressão do teu coração – “Tu, oh Cristo, Tu és tudo o que
necessito, O que encontro em ti não tem limites.
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