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31 de março de 2013

FINNEY - REVESTIDOS DE PODER DO ALTO


REVESTIDOS DE PODER DO ALTO

Charles Finney

Depois de falar a ordem do Senhor para a igreja fazer discípulos de todas as nações e explicar que este era o trabalho de cada da igreja, levantei duas questões:

1) De que necessitamos, para conseguir sucesso nesta obra imensa?

A) Como podemos obtê-lo?

 RESPOSTA--

1- Precisamos ser revestidos do poder do alto. Cristo já havia falado que sem ele, nada podiam fazer. E acrecentou: “permanecei em Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder e não muito depois desses dias sereis batizados com o Espírito Santo. Eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai”At 1.4,5 

        Esse batismo, esse revestimento, essa promessa é a condição indispensável para termos sucesso nesta tào grande obra de fazer discípulos.


B- Como iremos obtê-lo?

        - Em primeiro lugar temos que conciliar o fato de que o Pai deseja derramar o seu Espírito. “Quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo a todos quantos lhe pedirem e também “todo o que pede recebe”Mt 7.8, existe porém muitos que pedem mas poucos que recebem. Por isso tratarei de mostrar as razões porque, segundo creio, muitos não recebem essa graça maravilhosa:

1- De modo geral não pede com todo o coração, mas superficialmente, porque ainda não sente a reakl necessidade deste poder

2- O pecado e a iniquidade que estão mo coração também são sérias barreiras ”se contemplarmos a iniquidade em nosso coração não vos ouvirei”

3- A falta de motivação correta, o que pede é descaridoso e quer o poder para outros fins.

4- É severo em seus julgamentos

5-É autodependente

6- Se recusa a confessar pecados

7- Não restitui a quem defraudou ( Zaqueu )

8- Não consegue perdoar ofensas antigas e as carrega dentro de si

9- Ama o mundo e os prazeres do mundo

10- Defende indevidamente os interesses de sua denominação

11- É incorreto nos negócios

12- É negligente na vida devocional

13- Envolve-se demasiadamente nos negócios deste mundo

14- E finalmente  o maior de todos: A incredulidade, pede o revestimento, sem real esperança de que vai recebê-lo”Aquele que duvida é como as ondas do mar “Tg 1. 1-10

Os discípulos antes do pentecostes tinham a paz de Cristo, mas nào tinham o poder e este é o grande erro que creio, incorrem muitops pregadores: Descansam na conversão e nào buscam até obter este revestimento prometido pelo Senhor Jesu

28 de março de 2013

JOÃO CALVINO - O fruto do Espírito

O Fruto do Espírito
O Fruto do Espírito

Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, temperança, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei” (Gálatas 5:22,23).
22. Mas o fruto do Espírito. Justamente como havia condenado toda a natureza humana como nada produzindo senão frutos nocivos e indignos, agora nos diz que todas as virtudes, todas as boas e bem ordenadas afeições procedem do Espírito, ou seja, da graça de Deus e da natureza renovada que recebemos de Cristo. Como se houvera dito: “Nada, senão o mal, procede do homem; nada de bom pode proceder senão do Espírito Santo”. Pois ainda que às vezes surjam nos homens não regenerados notáveis exemplos de nobreza, fidelidade, temperança e generosidade, o fato é que não passam de marcas ilusórias. Curio e Fabricio foram famosos por sua coragem; Cato, por sua temperança; Scipio, por sua bondade e generosidade; Fabio, por sua paciência. Mas tudo isso era apenas aos olhos dos homens e como membros da sociedade. Aos olhos de Deus, nada é puro senão o que procede da fonte de toda a pureza.
Não tomo alegria, aqui, no sentido de Romanos 14:17, mas como aquele bom humor [hilaritas] para com nossos companheiros, o qual é o posto de melancolia. é usada para verdade, e é contrastada com astúcia, engano e falsidade. Paz contrasto com rixas e contendas. Longanimidade é a suavidade da mente, a qual nos dispõe a levar tudo com otimismo, não permitindo a suscetibilidade. O restante é óbvio, pois a condição da mente se abre a parte de seu fruto.

Pode-se perguntar, porém, que juízo formaremos dos perversos e idólatras que, não obstante, exigem extraordinária semelhança de virtudes. Pois pelo prisma de suas obras parecem espirituais. Eis minha resposta: nem todas as obras da carne despontam numa pessoa carnal; mas sua carnalidade é exibida por um ou outro vício; assim como uma pessoa não pode ser tida como espiritual pelo prisma de uma única virtude. Às vezes se fará óbvio à luz de outros vícios que a carne reina em tal pessoa; e isso é facilmente visto em todos aqueles a quem mencionamos.

23. Contra tais coisas não há lei. Há quem entenda isso como significando simplesmente que a lei não é dirigida contra as boas obras, visto que das boas maneiras têm emanado boas leis. Mas a intenção de Paulo é mais profunda e menos óbvia, ou seja: onde o Espírito reina, a lei não mais exerce qualquer domínio. Ao modelar nossos corações segundo sua própria justiça, o Senhor nos liberta da severidade da lei, de modo que não trata conosco segundo o pacto da lei, nem obriga nossas consciências sob sua condenação. Não obstante, a lei continua a exercer seu ofício de ensinar e exortar. Mas o Espírito de adoção nos livra da sujeição a ela devida. Paulo, pois, ridiculariza os falsos apóstolos, os quais forçavam a sujeição à lei, mas que ninguém estava mais ansioso do que eles para livrar-se do jugo dela. Paulo nos diz que a única forma pela qual isso se faz possível é quando o Espírito de Deus assume o domínio. À luz desse fato, segue-se que eles não se preocupavam com a justiça espiritual.

João Calvino, Extraído do comentário de Gálatas de João Calvino, publicado pela Editora Paracletos, páginas 170 e 171. Acervo monergismo.com

27 de março de 2013

DISCIPLINA ESPIRITUAL

A disciplina da vida cristã – M. Lloyd-Jones

É-nos da máxima importância apercebermo-nos de que existe o que se chama «disciplina da vida cristã». Não basta dizer. . . que, o que quer que nos suceda, temos apenas de «olhar para o Senhor», que tudo nos irá bem. . . Esse ensino é antibíblico. Se fosse só isso que tivéssemos que fazer, muitas porções das Escrituras seriam completamente desnecessárias . . .não haveria motivo para existirem as Epístolas; mas elas foram escritas. . . por homens inspirados pelo Espírito Santo . . .o que nos dizem. . . é que há uma disciplina essencial na vida cristã.

Um dos aspectos mais lamentáveis da vida de certos tipos de cristãos hoje em dia é que parecem ter perdido de vista esse aspecto da fé. Infelizmente, isso acontece sobretudo com relação aos que se empenham por maior fidelidade ao Evangelho. . . Em primeiro lugar e sobretudo, houve uma reação contra o ensino católico-romano. No sistema católico-romano dá-se muita importância a certa espécie de disciplina. Foram produzidos muitos livros e manuais sobre o assunto. De fato, alguns dos maiores mestres desse tipo de ensino são católicos-romanos como, por exemplo, Bernardo de Claraval, ou o bem conhecido Fénélon, cujas famosas Cartas para Homens e Cartas para Mulheres foram muito populares em certa época.

Pois bem, os protestantes reagiram contra isso, e em certa medida fizeram bem. . . Mas deduzir do mau uso da disciplina que não há nenhuma necessidade dela na vida cristã, é algo totalmente errado.

Na verdade, os períodos realmente grandiosos do protestantismo sempre se caracterizaram pelo reconhecimento da necessidade de tal disciplina. . . Por que homens como os dois irmãos Wesley e Whitefield foram chamados metodistas? Porque tinham vida metódica. Eram metodistas porque tinham método em suas reuniões. . . O próprio termo metodista. . . salienta o fato de que criam na disciplina, em como as pessoas devem disciplinar sua vida e como se deve tratar e lidar com cada personalidade, nas circunstâncias e situações com que nos defrontamos no mundo em que vivemos.

Faith on Trial p. 23,4.

JOHANNA VEENSTRA - A MÉDICA DO RANCHO DE CHÃO BATIDO



Johanna Veenstra - Durante os anos 20 a 30, entregou sua vida na África. Morava numa cabana nativa sem teto e chão de terra. Estabeleceu um internato para treinar rapazes como evangelistas, o qual chegou a matricular 25 deles de uma só vez. Ainda achava oportunidades para serviços médicos e evangelísticos. Suas viagens de vila em vila duravam várias semanas e eram realizadas em uma bicicleta. Ela era um pioneira preparando o terreno para outros. Em 1933 ela havia entrado no hospital da missão para o que julgava ser uma cirurgia de rotina, mas não se recuperou e faleceu. "De uma cabana de barro para uma Mansão nos Céus.



Dezenas e centenas de outras mulheres solteiras aceitaram o desafio missionário para irem ao lugares mais difíceis da terra para levar a mensagem do amor de Cristo. Muitas delas foram martirizadas no campo missionário, mas nunca desistiram. Outras nem sabemos os seus nomes, mas no grande dia do Tribunal de Cristo, lá estarão para receberem a recompensa final pelo labor realizado nas missões transculturais.

Que o Senhor continue convocando mulheres dedicadas para a Obra Missionária, e oremos por aquelas que já estão no campo de batalha, levando o Evangelho a toda criatura. A Deus toda glória.

LOTTIE MOON



Charlotte (Lottie) Diggs Moon - viajou para a China em 1872 e morreu em 1912. Viveu duas vidas separadas na China. Parte do ano era gasto nas povoações fazendo trabalho evangelístico e a outra parte ela passava em Tengchow, onde treinava novos missionários, aconselhava as mulheres chinesas e lia com prazer os livros e revistas ocidentais. Escreveu inúmeros livros que abriram caminho para a sua extraordinária influência sobre a Igreja Batista do Sul dos EUA, escritos estes dirigidos às mulheres para que dessem mais apoio às missões

IDA SCUDDER - A jovem que não queria ser missionária

Ida Scudder - a jovem que não queria ser missionária
Ida Scudder, nasceu na Índia em 1870 e cresceu bastante familiarizada com as dificuldades da vida missionária, especialmente a dor da separação dos entes queridos. Ela vinha de uma geração de missionários que dedicaram suas vidas à Causa do Mestre.





De acordo com a história, em quatro gerações, 42 membros da família Scudder se tornaram missionários, contribuindo com mais de cem anos de serviço missionário combinado, pois quase todos eram voltados à medicina, prática que exerceram junto ao ministério da Palavra.

Na verdade Ida não queria ser missionária e seu sonho e desejo era ter uma boa vida e morar nos Estados Unidos, de onde seus pais vieram, mas esta não era a vontade e nem o plano que Deus tinha para a sua vida terrenal.

Ida teve a oportunidade de estudar nos EUA e quando terminou o segundo ciclo, permaneceu ali para frequentar um "seminário para jovens do sexo feminino" em Northfield, estado de Massachusetts, dirigido por D. L. Moody. Ela dizia que não tinha qualquer intenção de seguir a tradição familiar tornando-se missionária, mas logo depois de formar-se em 1890 recebeu um cabograma urgente, informando-a de que a mãe se achava enferma na Índia.

Em poucas semanas, Ida estava à caminho daquele país misterioso "país horrível, com seu calor, poeira e cheiros". Seu objetivo era só cuidar da mãe e finda essa missão voltaria para os Estados Unidos a fim de realizar seus sonhos - assim ela pensava.
Embora feliz por estar reunida com sua família, Ida não se sentia inteiramente à vontade com eles. Sentia pressões de todos os lados - tios, primos, e até dos pais para não fugir do dever dos Scudder de tornar-se missionária. Foi necessária uma experiência extraordinária em sua vida, que tornou seu "chamado" pessoal para as missões médicas.

"Três homens diferentes - um brâmane, um hindu de casta superior e um muçulmano - chegaram à sua porta durante a mesma noite, pedindo-lhe que fosse prestar ajuda em partos difíceis, mas seu pai não permitiu que fosse pois os costumes religiosos na Índia proibiam contatos íntimos com estranhos do sexo oposto.

Ida passou um noite terrível preocupada com aquelas mulheres - "foi horrível não pude dormir aquela noite". Bem cedo, ela recebeu a notícia através de um empregado da casa, que aquelas mulheres morreram durante o parto. "Fechei-me de novo em meu quarto pensando muito seriamente sobre as condições das mulheres hindus e depois de muita reflexão e oração, fui ter com meus pais e lhes disse que precisava ir estudar medicina e depois voltar para ajudar mulheres como aquelas na Índia".

Hospital na Índia - legado de Ida Scudder
Ida Scudder, partiu para os Estados Unidos no outono de 1895 e matriculou-se na Faculdade de Medicina para Mulheres, na Filadélfia, onde Clara Swain, a primeira médica missionária americana se diplomara. Depois de terminar seus estudos voltou para a Índia. A princípio seu trabalho na Índia foi difícil porque os pacientes não confiavam nela. Para piorar, inesperadamente seu pai morreu de câncer, destroçando seus planos de trabalhar junto ao pai.

Ida enfrentou na Índia a cultura supersticiosa que muitas vezes prejudicava a ajuda aos doentes e necessitados das diferentes castas. Mas logo depois de sua chegada na Índia, foi iniciada a construção do hospital de Vellore com o apoio de fundos levantados nos Estados Unidos.
Além de dirigir o hospital, uma escola de medicina e dispensários urbanos, Ida com ajuda da mãe, administrava um verdadeiro orfanato. Mais de vinte crianças abandonadas foram levadas para a casa dos Scudder. Ida sentiu profundamente a perda da mãe em 1925, aos 86 anos de idade. Sessenta e três anos antes, essa mulher persistente vira negado seu pedido de sustento pela diretoria da Sociedade Missionária por julgarem que não suportaria os rigores da Índia.
A revista "Seleções", entre outras histórias, escreveu um artigo com elogios a seu respeito. "Essa mulher extraordinária, de cabelos brancos, aos 72 anos de idade, tem um andar elástico, um brilho nos olhos e as mãos fortes e hábeis de um cirurgião de 45 anos. Durante 18 anos, ela dirigiu a associação médica de um distrito com uma população de 2.000.000 de habitantes. Os médicos de toda a Índia lhe enviam seus casos ginecológicos mais complicados. Mulheres e crianças a procuram apenas para tocá-la, tão grande é sua reputação de curar".

Ida aposentou-se em 1946, aos 75 anos de idade, mas permaneceu em atividade por mais uma década. Ela dava aulas bíblicas para homens e mulheres, aconselhava os médicos nos casos difíceis até os 83 anos de idade. Em 1950, dez anos antes de sua morte, foi preparada em Vellore uma celebração do seu jubileu de ouro, marcando seus 50 anos de trabalho na Índia.

Ela ainda viveu para ver o estabelecimento de um moderno complexo médico, com cerca de cem médicos, um hospital geral com 484 leitos, um hospital de oftalmologia com 60 leitos e inúmeras clínicas móveis, todos servindo a cerca de 200.000 pacientes e preparando uma média de 200 estudantes de medicina por ano. Ida tornara-se querida e respeitada por milhões de pessoas na Índia.


Ida (centro) com mulheres (fundo) hospital

Ela se tornara tão conhecida em toda Índia que se uma carta dirigida à sua pessoa somente com o endereço de Vellore num continente naquela época habitado por trezentos milhões de pessoas, jamais se extraviava, rapidamente essa carta chegava em suas mãos.

Esta é a biografia resumida de uma grande mulher que "não queria ser missionária". Seu legado continua até hoje não só na terra, mas também na eternidade.
Ida Scudder - jubileu de ouro

Fonte: Adaptado - Ruth A. Tucker

MISSÕES, PORQUE O BRASIL NÃO DECOLOU









MISSÕES - PORQUE O BRASIL NÃO DECOLOU ?

1- Cultura individualista

Existe um adágio brasileiro bastante conhecido que diz: “Cada um por si e Deus por todos”. Este ditado popular revela uma realidade da situação do país, mostrando que cada um quer fazer suas próprias coisas e tem uma grande dificuldade para realizar um trabalho em equipe.



Isso pode ser fonte de problemas, pois infelizmente há pouca unidade no movimento missionário brasileiro e muito se deve a essa cultura individualista.

As organizações missionárias poderiam unir os esforços e fazer muitas atividades juntas. Um bom exemplo é que por mais de dois anos fala-se em produzir uma revista que una todas as agências missionárias do país. O custo seria menor e conseguiríamos uma expressão maior para as necessidades missionárias. As missões que já possuem algum tipo de publicação não conseguem aumentar a tiragem, e acabam produzindo uma tiragem pequena que aumenta os custos. O resultado é que a falta de unidade acaba sendo um grande impedimento para a popularização do material de missões, pois as organizações missionárias e igrejas não trabalham juntas para um objetivo comum.

 

As diferenças denominacionais, principalmente as diferenças existentes entre a forma de trabalhar dos chamados “pentecostais”, “renovados” e “tradicionais”, comprometem o trabalho missionário brasileiro. Se de um lado os membros de igrejas pentecostais valorizam pouco a necessidade de treinamento transcultural e o trabalho de longo prazo, como a tradução da Bíblia para povos não alcançados, por outro lado, os chamados “tradicionais” dão pouca importância a questões como oração e batalha espiritual. Seria maravilhoso se ambos unissem as forças e fizessem um trabalho conjunto para alcançar todas as tribos brasileiras e as regiões do mundo que ainda não têm testemunho efetivo do evangelho.

 

2 - Cultura Nacionalista ou Etnocentrista

 

Várias missões latinas têm se vangloriado de ser totalmente nativas. O pensamento brasileiro, incentivado por norte-americanos e europeus é que esta é “a hora do Brasil”. Alguns chegam ao cúmulo de dizer que a hora da América do Norte e Europa já passou. Isso reflete um orgulho ufanista e totalmente descabido. Seria mais sensato pensar que esta é a hora da Igreja como um todo. Precisamos unir as forças do hemisfério Norte e Sul para terminarmos a tarefa da evangelização mundial. A Grande Comissão não foi entregue a uma nação ou continente específicos, mas à Igreja toda, e deve ser estabelecida na face de todo o planeta.

 

O mundo só vai crer quando formos um. Estas palavras foram pronunciadas na oração sacerdotal de nosso Senhor Jesus Cristo. Creio que esta oração vai ser respondida, mas espero que isso ocorra ainda em nossa geração. O pesquisador Daniel Rickett afirma que nenhuma missão ou igreja pode sobreviver sozinha neste novo milênio. Para as mega-missões, mega-igrejas e as organizações cristãs que ainda estão nascendo, as parcerias interculturais tornaram-se um elemento vital para o sucesso ministerial, principalmente para alcançar regiões “fechadas”, como China, Índia, Norte da África e Oriente Médio. Creio que, mais do que nunca, a força missionária para a evangelização mundial não está apenas nas mãos da Igreja do chamado “mundo dos dois terços”, que inclui África, Ásia e América Latina, mas sim no conjunto total, ou seja, contando com a parceria da igreja do Norte.

 

3 – Falta de projetos dentro da realidade brasileira

 

O pesquisador e especialista em estatística George Barna diz que o mundo mudou e que quem não mudar, morrerá. Lembro também de um provérbio africano que diz: “Os cachorros de ontem não caçam os coelhos de hoje”. A lição mais importante que aprendemos com essas declarações é que os métodos do passado não servem para os dias de hoje. Isso também é verdade em relação aos métodos, estratégias, fórmulas e logística da Igreja do hemisfério Norte, que não servem para o hemisfério Sul.

 

A Bíblia também ensina uma lição semelhante quando relata a indignação do jovem Davi ao ver o gigante Golias desafiando o povo de Israel. O desafio do guerreiro filisteu chegou ao conhecimento do rei Saul e do exército israelense. A primeira providência do rei foi colocar sua armadura pesada no jovem Davi. Isso simboliza a imposição de paradigmas dos poderosos e do uso de métodos pré-estabelecidos. Davi colocou a armadura imediatamente, mas percebeu que era muito pesada e desconfortável para ele. O jovem pastor israelense estava acostumado a lutar e não tinha problemas de auto-estima, por isso disse: “Não posso andar com isto, pois não estou acostumado a fazer as coisas deste modo”. Davi enfrentou o gigante sem usar as armas convencionais do rei Saul e mesmo assim alcançou uma grande vitória, livrando o povo de Israel do exército inimigo ou de uma grande vergonha.

 

As Escrituras também mostram Davi usando a espada de Golias para cortar a cabeça do gigante. Posteriormente ele voltou a usar a mesma espada em algumas de suas batalhas. A experiência que adquiriu nas guerras fez dele um dos maiores especialistas em batalhas da história de Israel e ele chegou a treinar um dos melhores exércitos que seu povo conheceu.

 

Em resumo, o modelo bíblico indica que para iniciar um ministério não é preciso usar tantos aparatos, mas a necessidade de uso destes vem com o passar do tempo. As organizações baseadas no hemisfério Norte só enviam seus candidatos com o valor total ideal para irem ao campo. Hoje os missionários latinos podem viver bem com cerca de um quinto do sustento requerido pelos missionários vindos do hemisfério Norte.

 

4 – A barreira do idioma

 

Esta é uma grande desvantagem para a Igreja brasileira, que hoje é a terceira maior igreja do mundo em número de membros, atrás somente dos Estados Unidos e China. Poucos líderes nacionais falam inglês fluentemente para se comunicar com líderes internacionais. Em parte, esse é um dos motivos que impede o surgimento de parcerias internacionais mais eficazes, algo vital para o projeto missionário transcultural de levar o evangelho aos povos não alcançados. Por falta de preparo adequado e da fluência em outras línguas, o grande potencial dos missionários brasileiros acaba não encontrando liberdade suficiente para se desenvolver e cumprir o propósito eterno de realizar as boas obras reservadas de antemão a cada um de nós.

 

Hoje em dia existem cerca de 3.000 brasileiros trabalhando em tempo integral como missionários transculturais. Na média, existe um missionário para mais de 150 mil evangélicos do país. Enquanto isso, a Igreja Indiana, que é muito menor e possui menos recursos financeiros, conta com mais de 27.000 missionários transculturais, nove vezes mais que o Brasil.

 

Deve-se considerar ainda a situação daquela nação, que tem o grande desafio de alcançar os diversos povos e línguas que vivem em seu próprio território, principalmente no norte do país. São mais de 600.000 vilas e cidades, das quais apenas 100.000 possuem ao menos um obreiro cristão. Uma das vantagens nas parcerias feitas pelas missões indianas é que, por causa da colonização inglesa, a grande maioria dos líderes cristãos fala inglês. Além disso, a maioria dos missionários indianos que deseja trabalhar com etnias não alcançadas pode permanecer em sua própria nação. Porém, a lingual geral (inglês) continua sendo um benefício inegável para aqueles irmãos.

 

O sistema educacional da América Latina não contribui para um bom aprendizado da língua inglesa nas escolas. Muitas vezes o missionário é mal compreendido quando diz que precisa de recursos para estudar inglês fora do país, o que acelera o aprendizado. É preciso mudar essa ideia equivocada de que o missionário não pode considerar o aprendizado do inglês como parte da sua preparação para a obra missionária.

 

5 - Cultura Egoísta

 

Infelizmente, a cultura predominante na liderança evangélica brasileira é egoísta. Somente pensam nos que estão próximos e nas necessidades de suas própria igrejas e/ou denominações. Pesquisas indicam que somente o vergonhoso índice de 1% dos recursos da Igreja no mundo é investido em missões transculturais aos não alcançados. Contra fatos não há argumentos.

 

Esta realidade é perpetuada na igreja brasileira. As igrejas pentecostais e renovadas, embora sejam conhecidas pelo seu zelo evangelístico, são as que menos contribuem para alcançar pessoas fora do Brasil. A média de contribuição individual para missões transculturais é de apenas R$ 1,30 por ano. Ou seja, cada evangélico brasileiro contribui com menos de um dólar.

 

O Brasil não é um país tão pobre quanto se pensa. Trata-se de uma das 10 maiores economias do mundo. O problema é uma grande discrepância na distribuição da renda nacional. Merece atenção o fato de que a maioria das igrejas que apóia a obra missionária é pequena. A discrepância na distribuição de renda é refletida nas grandes igrejas, que dividem muito mal a sua arrecadação quando se trata de missões. Centenas de igrejas grandes não têm um programa de investimento mensal na obra missionária, estando mais preocupadas com novas construções e o conforto apenas de seus membros. Para ajudar na avaliação de nível de comprometimento, elaboramos uma escala para medir o envolvimento de uma igreja com missões transculturais. Essa escala não se baseia em valores absolutos, mas sim na proporção do investimento em missões comparado ao total de arrecadação mensal. Com ela pretendemos identificar a distribuição de renda dentro das igrejas brasileiras. O patamar mais baixo é o das igrejas omissas (que investem de 0 a 4% de suas entradas em missões transculturais); o seguinte é o das igrejas passivas (com investimento de 5 a 9%); em seguida vêm as igrejas interessadas (que contribuem com 10 a 19%); chegando até a categoria de envolvidas (20 a 29%). A partir daí, pode-se atingir níveis mais positivos: ser amiga de missões (contribuindo com 30 a 39% de seus recursos), apaixonada por missões (investimento de 40 a 49%), culminando com as verdadeiramente comprometidas com missões (que investem mais de 50%). Até agora só encontramos somente duas igrejas que se enquadrariam nesse último nível. Para os que criticam a necessidade de finanças vindas de fora do país, é bom lembrar que a maioria das igrejas pesquisadas não poderia ser chamada nem mesmo de envolvida com missões.

 

6 – Medo desmedido da igreja do Norte

 

As organizações missionárias do hemisfério Norte demonstram um medo desmedido de associar-se com as organizações do Sul. O argumento usado é que se trata de paternalismo. O canadense Oswald Smith percebeu isso e chegou a dizer que: “O nacionalismo se manifesta em quase todos os países, e está dificultando crescentemente a obra missionária. O seu lema é: África para os africanos, Índia para os indianos, e China para os chineses”. Alguns missiólogos baseiam-se em investimentos mal feitos no passado para argumentar que não se deve enviar recursos a nações pobres. Isso vai contra o relato bíblico.

 

O apóstolo Paulo não era natural da Antioquia, foi para lá a convite de Barnabé e recebeu parte do seu sustento de Filipos. Ele menciona isto de uma maneira especial, dizendo que Filipos foi a única igreja que investiu no seu ministério após ter saído para a Macedônia.

 

Quando penso nisto, vejo a lição extraordinária que os líderes muçulmanos estão nos dando. Eles enviam obreiros avançados de diversas nações, inclusive de países pobres, que são financiados por países muçulmanos ricos, como Arábia Saudita, Líbia, Catar, Emirados Árabes Unidos e outros.

 

Podemos imaginar um exemplo baseado no que eles estão fazendo. Levantar 4.500 equipes multinacionais com pessoas do hemisfério Sul (que tem abundância de obreiros interessados) e treiná-las para a tradução da Bíblia nas línguas faltantes. Estas equipes seriam compostas de tradutores, alfabetizadores, evangelistas e enfermeiros financiados majoritariamente por nações ricas. Este trabalho seria feito através de uma parceria em que cada país contribuiria proporcionalmente com o salário mínimo vigente em território nacional. Isto seria uma revolução que ajudaria a concluir uma das tarefas mais difíceis da obra hoje, que é a tradução da Bíblia para todas as línguas. Se algo parecido não for feito urgentemente, o alvo proposto pela Visão 2025, de ter um tradutor da Bíblia em cada língua até o ano 2025 será apenas mais um sonho lindo das organizações missionárias.

 

Creio que já chegou a hora de superarmos os modelos vigentes e nossos medos, pois a Igreja do Senhor é feita de muitas partes. Deus distribui dons especiais para a edificação do corpo. A natureza da Igreja é que cada parte distinta deve fazer o seu trabalho de maneira única. Portanto, para que ocorra a expansão da Igreja precisamos de mais obreiros, mais oração, mais contribuições financeiras e mais cuidado pastoral realizados em parceria. Somente assim faremos com que a dinâmica do reino se estabeleça. Um bom livro que aborda essa maneira de trabalhar conjuntamente foi escrito por Daniel Rickett e tem o sugestivo título “Building Strategic Relationships – A Practical Guide to Partnering With Non-Westerner Missions” (Construindo Relacionamentos Estratégicos – Um guia prático para as parcerias com as missões não ocidentais). Infelizmente não dispomos desse material em português, mas ele traz contribuições valiosas, segundo a perspectiva de um membro da Igreja do hemisfério Norte.

 

K. P. Yohannan, um líder de missões indiano que mora nos Estados Unidos, faz algumas observações importantes sobre essa questão:

 

Cristãos norte-americanos sozinhos, sem muito sacrifício, podem suprir financeiramente todas as necessidades das igrejas no terceiro mundo. Por que nós não podemos gastar pelo menos um décimo do que usamos para nós mesmos na causa da evangelização mundial? Se as Igrejas dos Estados Unidos sozinhas tivessem feito este comprometimento em 1986, haveria 4.8 bilhões de dólares disponíveis para a evangelização mundial. Se a abundância dos americanos me influenciou, a abundância dos cristãos me influenciou mais ainda! Nos Estados Unidos existem 5.000 livrarias evangélicas que vendem artigos religiosos que ultrapassam minha capacidade de imaginação. Tudo isso enquanto mais de 4.000 das 7.148 línguas do mundo ainda estão sem uma única porção da Bíblia na sua própria língua. 80% das pessoas do mundo nunca possuíram uma Bíblia, enquanto os americanos têm em média quatro Bíblias por residência.

 

Se a igreja do Senhor que está no Norte não fizer a sua parte neste processo de parceria, estará omitindo os dons que o Senhor lhe tem dado para contribuir para a expansão do Reino.

 

Spencer Johnson, autor do best-seller Quem Mexeu No Meu Queijo?, enfatiza a necessidade de mudança de paradigmas em várias áreas da vida. Ele reforça a afirmação categórica do pesquisador cristão George Barna: “Quem não mudar, morrerá”. Vemos a necessidade de mudança de pensamento da Igreja do hemisfério Norte em relação a parcerias com a igreja do Sul, principalmente com as igrejas do Brasil e América Latina. O fato de brasileiros receberem apoio financeiro não os torna dependentes de um país, mas sim da providência de Deus, concretizada pela sua Igreja espalhada pela Terra.

 

Poderia citar como exemplo, entre vários na América Latina, um casal que investiu dez anos de sua vida no preparo para se tornar tradutor da Bíblia. Eles foram aprovados por sua denominação para ser missionários, mas o maior desafio que têm enfrentado é levantar o sustento integral. Chegaram a pensar que desenvolvendo um ministério local facilmente teriam o sustento depois de algum tempo, o que não aconteceu. No entanto, o ministério vital a que eles se propuseram continua com falta de obreiros única e exclusivamente por não termos estrategistas na área de missões que apresentem propostas concretas para uma mudança de atitude. Se houvesse uma parceria com a Igreja do Norte, exemplos como estes deixariam de existir e a força missionária aos não-alcançados poderia ser multiplicada facilmente em mais de 100 vezes.

 

Edison Queiroz, um experiente pastor e mobilizador de missões transculturais, que pastoreou a 1ª Igreja Batista em Santo André – SP (que foi um modelo em missões nos anos 80), baseado em sua experiência nos EUA, nos traz as seguintes observações:

 

1. A Igreja Americana está muito voltada para si mesma. Há um movimento de formar mega-igrejas, onde os ministérios são voltados e especializados para as pessoas que vivem ao redor da igreja e o enfoque é somente alcançar a cidade.

 

2. Os americanos não crêem no potencial dos estrangeiros. Eles não consideram que as pessoas alcançadas no campo podem tornar-se missionários.

 

3. Eles têm muito dinheiro, e quando investem no campo querem controlar excessivamente as ofertas.

 

4. Alguns têm muitas tradições quanto à obra missionária que precisam ser quebradas. Por exemplo, a necessidade de ter doutorado para poder ir ao campo, excesso de benefícios para os missionários, etc.

 

5. O denominacionalismo aqui também é exacerbado. Poucas denominações fazem parcerias com outras e também com agencias missionárias.

 

6. Existe também o problema cultural, com uma forte tendência a olharem outras culturas como inferiores

 

7. Tudo isto sem contar todo o background político que tem sido um grande impedimento também.

 

7 – Tradicionalismo

 

O tradicionalismo tem feito que os trabalhos realizados à maneira latina sejam criticados por lideranças conservadoras. Isto tem prejudicado o aparecimento de trabalhos genuinamente latinos. Se quisermos ver latinos chegando aos não-alcançados em grande quantidade, precisamos apoiá-los. A maioria das escolas de treinamento ainda copia currículos de instituições do Norte e procuram impor essa “fórmula” aos latinos.

 

Aqui, uma vez mais, somos remetidos ao relato bíblico referente a Davi, filho de Jessé, no campo de batalha. Todos viram sua coragem e desejo de enfrentar o incircunciso Golias. Assim, a primeira coisa que fizeram foi oferecer-lhe uma armadura pesada que impedia seus movimentos. Sua reação natural foi rejeitá-la. Quando agiu do modo como estava acostumado, sem a armadura, o resultado foi a vitória do povo de Israel num momento crucial de sua história. Davi não ficou preso à tradição e guardou a espada do gigante morto. Posteriormente, usou outras vezes a espada que conquistara até ficar tão acostumado com o manejo dela que chegou a treinar outros soldados. Os homens de Davi formaram o melhor exército da história de Israel. Do mesmo modo, precisamos dar liberdade para os latinos desenvolverem-se aprendendo com seus próprios erros e acertos. Antigamente, missionários estrangeiros acabavam assumindo todas as funções e treinavam poucas pessoas para substituí-los. A proposta agora é acabarmos com esse tipo de tradição humana que não desenvolve todo o potencial dos candidatos. Vemos, então, que a questão financeira é apenas um aspecto da cooperação, que inclui ainda treinamento de qualidade e trabalho conjunto.

 

8 – Diferenças culturais

 

A forma de atuar dos brasileiros é bem diferente da dos povos do Norte. Os brasileiros são mais orientados para o trabalho com pessoas do que com tarefas. Isso já está mudando nas grandes cidades. Mesmo assim, essa característica é muito importante, pois esse é justamente o perfil da maioria dos povos não-alcançados da Terra.

 

Creio que, com um bom treinamento, poderemos ver equipes mistas, compostas de latinos, europeus e norte-americanos trabalhando juntos para expansão do Reino na face da Terra. Creio que é hora de as organizações investirem não só nos missionários que já estão no campo, mas também no treinamento daqueles que um dia servirão à causa do Senhor.

 

9 – Cultura da Infidelidade

 

Infelizmente, a cultura normal do brasileiro é não cumprir com os compromissos assumidos, o que não implica numa punição visível. Os missionários que dependem de promessas de crentes têm ficado frustrados, decepcionados e muitos deles até mesmo amargurados. O quadro não é muito diferente com as igrejas. Muitas delas enviam seus candidatos com um compromisso assinado, algumas vezes registrado em atas, e o resultado acaba sendo desanimador, pois não raro as promessas não saem do papel.

 

A mudança de pastor, construção de um templo, método de trabalho da igreja ou uma crise financeira pode ser um argumento forte o suficiente para cortar o sustento do missionário. Assim, o missionário acaba sendo visto como algo descartável ou até mesmo supérfluo. Na maioria das vezes essas mudanças ocorrem sem tempo hábil para um planejamento ou comunicação prévia com o missionário, que pode acabar forçado a abandonar o campo.

 

Fizemos uma pesquisa com um cadastro de 20.000 pesssoas que assinaram um cartão de compromisso de sustento. Os números mostram que a média dos mantenedores fiéis a seu compromisso é de apenas 5%. Vale lembrar que esses compromissos são assinados. Este não é um quadro verificado apenas por nós, mas podemos dizer sem medo de errar que, de uma forma ou de outra, todas as agências sofrem com essa falta de fidelidade. Conversei sobre isso com um líder de outra organização missionária e ele me disse que eles têm trabalhado arduamente na área de fidelização, no entanto somente o mesmo percentual de 5% na fidelidade dos compromissos assumidos é alcançado.

 

10 – Denominacionalismo exagerado

 

Quando se pensa em missões transculturais aos povos não alcançados, é preciso deixar o denominacionalismo exagerado de lado. O trabalho missionário deve ser feito em conjunto em várias frentes.

 

Somente o trabalho missionário pode unir a Igreja, pois é uma das poucas questões que não gera polêmicas teológicas. Jesus nos alertou que o mundo somente vai crer quando formos um. Muitos líderes preocupam-se em colocar uma placa denominacional acima de tudo. Contudo, eles nem imaginam que em alguns lugares é impossível exibir publicamente o nome da igreja evangélica. Isso sem falar no escândalo que é para algumas culturas verem dois ou mais grupos criticando abertamente um ao outro.

 

Como seriam nossas igrejas se os missionários que aqui chegaram tivessem a mesma visão? Hoje seríamos meras congregações das igrejas do hemisfério Norte. Há muitas igrejas interessadas em ver suas “extensões” nos países do hemisfério Norte, especialmente entre a comunidade de brasileiros que vivem como imigrantes nos países ricos. Infelizmente, poucas igrejas rompem com esse pensamento e trabalham juntas pela extensão do Reino e não por uma expansão denominacional. Por causa disso, os números mostram que menos de 0,2 % das igrejas brasileiras tem um missionário trabalhando entre os povos não alcançados.

 

Olhando para as Escrituras, não há indícios de que os apóstolos deveriam ficar permanentemente em Jerusalém e governar a Igreja. Tampouco havia o conceito difundido hoje em dia por certos grupos de que “apóstolo” é o líder principal de um grupo de igrejas. Paulo nunca manteve um controle dominador “apostólico” das igrejas implantadas por ele.

 

11 – Cultura do retorno financeiro

 

Por que investir num tradutor da Bíblia para uma língua que ainda não dispõe dela e cujos falantes não conhecem a escrita? Isso não traz retorno financeiro e implica em grande investimento a longo prazo. Essa é a idéia mais comum no contexto brasileiro. Dificilmente lembramos que João Ferreira de Almeida começou a tradução da Bíblia para o português aos 16 anos de idade e morreu sem vê-la concluída.

 

É impressionante ver o relato de como a Bíblia foi traduzida para a língua tibetana. Foram 90 anos de trabalho árduo e os missionários morávios que começaram o trabalho não o viram ser concluído. A determinação daqueles que se dispõem a ser pioneiros é admirável.

 

Quando se investe em um obreiro nacional para implantar uma igreja onde já existem muitas outras, o resultado geralmente é rápido. Logo se estabelece uma congregação que muitas vezes envia todos os recursos para a sede. Manter um missionário em campos não-alcançados é caro e dá muito trabalho. Esquecemos daqueles que pagaram o preço para trabalhar em nossa pátria, deixando sua família, cultura e igreja para que nós tivéssemos acesso ao evangelho.

 

Há missionários sendo enviados para lugares onde a comunidade brasileira é forte, principalmente onde há um retorno financeiro rápido, pois almejam alcançar os imigrantes que buscam melhores oportunidades de ganho financeiro. A questão é: por que não existe um investimento proporcional para se alcançar os confins da Terra, principalmente aqueles que nunca ouviram uma vez sequer a mensagem do evangelho? Acaba existindo uma confusão na cabeça de muitas pessoas sobre o que realmente é um trabalho missionário transcultural.

 

Todos os obreiros no reino de Deus são levitas e por isso deveríamos ver o princípio bíblico ser aplicado. A tribo dos levitas recebia 110% de ofertas. A contribuição era 10% de cada uma das outras 11 tribos, que retinham 90%. Este quadro foi mudado e quando foi instituído o dízimo dos dízimos os levitas passaram a ficar com 99%. Mesmo assim recebiam 10% a mais do que as demais tribos. A questão é: “Até que ponto os levitas de hoje são somente os músicos, como pregam muitas igrejas?”

 

É impressionante ver que os salários dos missionários transculturais parecem ser cortados e diminuídos por qualquer motivo, enquanto o mesmo não acontece com os salários pastorais. No conceito da maioria das igrejas brasileiras, o missionário é visto como uma pessoa de segunda categoria ou um extraterrestre. Essa atitude precisa ser mudada, e para isso é necessário eliminarmos essa cultura do retorno financeiro.

 

O “normal” para muitas igrejas brasileiras é fazer campanhas para ajudar os missionários. Geralmente elas só conseguem arrecadar artigos que não têm mais nenhuma utilidade, coisas já desgastadas e que dificilmente podem ser usadas pelos missionários. A idéia predominante é de que os missionários são pessoas que não “deram certo” na igreja e por isso são vistos como uma espécie de “cidadãos de segunda classe”

 

12 – Barreira Financeira

 

A distância geográfica entre o Brasil e os povos não-alcançados da Ásia, Oriente Médio, Norte da África e Sahel é muito grande, o que gera maiores necessidades financeiras. Vejamos um exemplo prático: o custo de uma passagem aérea para um britânico visitar um país africano como o Níger corresponde a menos de um salário mínimo da Inglaterra. Enquanto isso, para um brasileiro voar até o Níger o custo é de aproximadamente oito salários mínimos do Brasil. Ou seja, um britânico precisaria trabalhar menos de um mês para viajar, enquanto o missionário brasileiro necessitaria dedicar-se a quase oito meses!

 

O salário mínimo mensal no Brasil é de aproximadamente 340 dólares americanos. A metade da população brasileira recebe menos de dois salários mínimos por mês. A logística e estratégia para manter um missionário na região dos povos menos alcançados do mundo é caríssima. O líder de uma missão brasileira foi desafiado para o trabalho da China, que tem 490 etnias não alcançadas e cerca de 320 milhões de pessoas que nunca ouviram do evangelho. Ele apenas disse: “Não temos interesse na China porque fica distante e não temos estrutura para dar o cuidado missionário”. Eu disse isso ao líder de uma missão da China e sua resposta foi: “Será que Deus continuará distante dos chineses por causa disso?”

 

Sem pessoas como o apóstolo Paulo, Hudson Taylor, David Linvigstone, William Carey, Adoniran Judson, Daniel Berg, Gunnar Vingren, William Bagby, Ashbel Simonton, Nájua Dib e Ronaldo Lidório, o que seria de nós e de tantos outros povos? Mas quando lemos sobre a vida desses e de outros homens de Deus, jamais vemos que dinheiro foi uma barreira intransponível, pois o Senhor sempre levantava pessoas para ajudá-los na questão financeira. Dinheiro não pode ser um impedimento para a continuação da obra.

 

13 – Concentração de Poder

 

O sistema das igrejas evangélicas prioriza a entrada de recursos econômicos e não os feligresses. Prova disso é que onde existe retorno financeiro abundante e rápido há uma concentração de igrejas em detrimento dos lugares onde a população é mais pobre.

 

O Movimento Brasil 2010 tem trabalhado para ver este quadro mudado. Eles realizam pesquisas sobre a realidade religiosa do país com o objetivo de mostrar aos pastores a desproporção na distribuição das igrejas, visando, assim, uma alocação mais eqüitativa de obreiros até o ano 2010. O alvo é ver uma igreja implantada para cada 1.000 habitantes da nação brasileira.

 

Uma estatística publicada pelo movimento mostra o exemplo de São Caetano do Sul, no estado de São Paulo. Essa cidade briga com Brasília pelo primeiro lugar em renda per capita da nação brasileira. Existem mais de 60 igrejas em somente 15 quilômetros quadrados. Como resultado dessa pesquisa, um pastor deixou uma cidade do interior paranaense para se mudar para São Caetano do Sul!

 

Quando olho para fatos como este, me admira a pouca atenção dada os desafios da Turquia, por exemplo, país com 70 milhões de pessoas e menos de 2.000 crentes. Em metade dos estados daquela nação não há nenhum obreiro. O que motiva um crente a ir morar onde já existem muitos outros cristãos? O certo não seria as pessoas desejarem levar o evangelho para as regiões onde existem poucos ou mesmo nenhum crente?

 

14 – Liderança centralizadora

 

Na América Latina, principalmente no Brasil, a maioria das igrejas segue o modelo de uma igreja-sede com várias congregações. Isso parece ser herança do sistema católico, onde uma diocese controla várias paróquias.

 

A maioria da liderança das igrejas no Brasil não é participativa, mas sim dominante, seguindo o modelo dos caudilhos. O quadro é o mesmo em toda a América Latina, África e muitos países asiáticos. Infelizmente, a maioria desses líderes não tem demonstrado amor e compaixão pelos povos não alcançados.

 

Pedi a uma missionária para fazer uma pesquisa com os missionários da Horizontes para ver quantos deles foram influenciados por seus pastores para irem aos povos não alcançados. Chegamos à impressionante estatística de que 95% deles não foram incentivados, orientados ou desafiados por seus pastores. O mais estarrecedor de tudo é que vários destes pastores na verdade tentaram dissuadi-los a não aceitarem os desafios dos povos não-alcançados e negligenciados pela igreja. A Horizontes somente recebe os candidatos com o apoio de suas igrejas, por meio de uma carta de apresentação. Portanto, é possível imaginar que a primeira batalha do candidato começa com quem deveria apoiá-lo.

 

Os líderes principais das sedes não dão nenhuma autonomia às congregações. Então, se tais congregações têm um candidato a missões, ele não pode ter apoio financeiro, pois estará desviando o dinheiro da sede. A realidade é que o investimento per capita do Brasil em missões transculturais é o irrisório valor de apenas R$ 1,30 por ano. Como brasileiro, tenho orado para que os pastores presidentes tenham visão, revelação, sonhos, teofanias ou uma palavra do Senhor para que invistam em missões transculturais.

 

Também tenho orado e incentivado outros a orar para que o Senhor chame os filhos destes pastores presidentes e empresários para missões transculturais, pois sei que se eles forem aos campos não-alcançados não lhes faltará sustento e poderão influenciar seus pais a mudarem a atitude com relação a missões. Se cada uma destas igrejas investisse somente 10% de suas entradas em missões, ocorreria uma revolução extraordinária jamais vista na história da Igreja.

 

15 - Cultura espiritual

 

Os discípulos conviveram com o Mestre por mais de três anos aqui na Terra. Todos os dias ouviam Jesus lhes ensinando as Escrituras e mesmo assim não as entendiam. Finalmente, o Senhor abriu o entendimento deles para que pudessem compreender as Escrituras, como vemos em Lucas 24: 45-48. O objetivo da ida de Jesus para a cruz era resgatar todos os pecadores para a glória de Deus. Ele cumpriu a sua parte, completou cabalmente a sua missão, e depois passou a tocha aos discípulos, dizendo: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (João 20: 21b). Essa tarefa deveria começar por Jerusalém. Muitos têm ensinado que a Jerusalém simboliza a nossa cidade. É preciso lembrar que os discípulos remanescentes não eram naturais de Jerusalém. Eles eram da Galiléia. O único cidadão da região de Jerusalém foi Judas, o traidor.

 

O ensino do Senhor era que as pessoas, quando se convertiam, deveriam ir primeiro aos seus. Após receberem a preparação do Mestre sobre a Grande Comissão, a visão passada a eles era alcançar todos os povos, tribos línguas e nações. A conclusão óbvia é que deviam ir a Jerusalém porque lá todas as nações do mundo estariam representadas. Isso sempre ocorria na festa de Pentecostes, que naquele ano foi marcada pela descida do Espírito Santo.

 

Os renomados pastores e escritores Andrew Murray e Oswald Smith enfatizavam em seus dias que o maior obstáculo para missões são os próprios pastores. Isso não é diferente em nossos dias.

 

Posso relatar casos que envolvem vários missionários. Eles constantemente visitam igrejas com o objetivo de levantar os recursos para as passagens ou sustento. Vários pastores aproveitam para levantar ofertas fazendo um apelo dramático para que os crentes dêem tudo o que puderem para a obra missionária e o missionário presente ali. Ao final do culto, alguns desses pastores nem procuram o missionário, enquanto outros dão apenas o dízimo da oferta recolhida. São raros os pastores que demonstram fidelidade quando se trata de ofertas. Conforme afirmavam Andrew Murray e Oswald Smith trata-se de um problema espiritual.

 

Se queremos ver um avivamento missionário nesta nação, devemos orar para que o Senhor abra o entendimento da liderança da Igreja brasileira e eles possam ver além da sua própria região ou paróquia. Que eles possam ter a mesma visão de John Wesley, que disse: “A minha paróquia é o mundo”.

 

Conclusão

 

Muitos líderes nacionais e estrangeiros têm profetizado que o Brasil é um “celeiro de missões”. Isso é verdade, pois trata-se de um celeiro cheio. Mas ele não terá serventia se não for usado para alimentar os povos menos alcançados pelo evangelho. Uma frase do hino nacional brasileiro afirma que o país está “deitado eternamente em berço esplêndido”. Isso também poderia ser aplicado a este país “gigante pela própria natureza” quando se trata de missões transculturais. É preciso despertar o “gigante” de seu “berço esplêndido” e mostrar que ele é também “belo, forte, impávido colosso”.

 

Para que isso aconteça será preciso empregar uma força descomunal. Esta força terá que vir de um cordão de três dobras , formado pela parceria entre a igreja estabelecida no Norte, a igreja do Sul e o Senhor Jesus. Somente trabalhando juntos, em espírito de oração, poderemos ver o potencial missionário do Brasil ser plenamente desenvolvido.

 

O pastor e líder político Martin Luther King Jr afirmava que: “Esperar que Deus faça tudo enquanto não fazemos nada não é fé, é superstição”. Este esforço tem que ser urgente, pois esta é a época de colheita, em que os adolescentes e jovens estão interessadíssimos em entregar sua vida para a propagação do evangelho entre os não alcançados. Estes jovens brasileiros e latinos que estão sendo recrutados, treinados e enviados aos povos não-alcançados podem viver com um valor 20% menor do que um norte-americano gastaria. Isso sem falar na maior facilidade que os latinos têm de ser aceitos pelo povo local

 

Creio que se não houver um grande esforço de recrutar, treinar e enviar este contingente o quanto antes, a colheita pode ser perdida. Este esforço tem que ser gigantesco, proporcional ao tamanho do Brasil, que tem dimensões continentais. Para efeitos de comparação, constata-se que o Brasil é maior que toda a Europa e o Leste Europeu juntos. Assim, o planejamento de investimento tem que ser pensado dentro de uma perspectiva continental.

 

Pr. Davi Botelho - Diretor Missões Horizontes