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9 de outubro de 2017

O PREÇO DE SER FIEL / JOÃO CALVINO

“Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes, participa das aflições do evangelho, segundo o poder de Deus,” "que nos salvou e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos dos séculos,"(II Timóteo 1:8-9, )
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EMBORA Deus mostre Sua glória e majestade no evangelho, a ingratidão dos homens é tamanha, que temos que ser exortados a não nos envergonharmos desse evangelho. E por quê? Porque Deus requer a adoração de todas as criaturas. Ainda assim, a maioria delas se rebela contra Ele, e o despreza. Embora os homens sejam tão perversos a ponto de se voltarem contra seu Criador, não sejamos nós como esses tais e tenhamos sempre em mente esta porção da Escritura: a não nos envergonharmos do evangelho, visto ser ele o testemunho de Deus.


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A mente de Timóteo talvez estivesse abalada. Assim, S. Paulo lhe diz: "ainda que o mundo me despreze, ainda que zombe de mim e me odeie, você não deve ser movido por essas coisas, porque sou o prisioneiro de Jesus Cristo. Deixe que o mundo fale mal de mim, isso não me ofende. Deus concede na minha causa, pois esta é também a Sua causa. Sofro não por ter feito o mal, tendo sempre Sua verdade do meu lado. Portanto, a causa da minha perseguição é o fato de eu ter sido fiel a a Palavra de Deus".

Não diminuamos Jesus Cristo no testemunho que Lhe devemos, ao calarmos nossas bocas no momento em que se deve é manter Sua honra e a autoridade de Seu evangelho. E, ainda, quando virmos nossos irmãos em aflição pela causa de Deus, juntemo-nos a eles, e assistamo-los em sua aflição. Não nos turbemos pelas tempestades que surgem, mas permaneçamos constantes em nosso propósito, levantando-nos como testemunhas para o Filho de Deus, vendo que Ele é tão gracioso a ponto de nos usar em tão boa causa. Percebamos com clareza que os homens sofrem ou por causa de seus próprios pecados ou por causa da verdade de Deus.
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Não há pessoa alguma que não gostaria de escapar de aflições. Isso é de acordo com a natureza humana. E, embora confessemos, sem dissimular, que é uma graça ímpar que Deus nos concede ao permitir aos homens que sofram aflições mantendo Sua causa, não há um sequer de nós que não gostaria de se livrar de perseguição. Isso tudo porque não observamos a lição de S. Paulo, que diz: "o evangelho traz problemas". Jesus Cristo foi Ele mesmo crucificado, e Sua doutrina vem junta com muitos sofrimentos. Ele poderia,quisesse,  determinar   que   Sua   doutrina   fosse   recebida   sem   qualquer oposição, mas a Escritura deve ser cumprida: “Domina no meio dos teus inimigos" (Salmo 110.2).

Devemos ir até Ele sob esta condição: estar dispostos a sofrer oposição, porque os ímpios se levantam contra Deus quando Ele os chama para Si. Portanto, é impossível a nós ter o evangelho sem ter também aflição. Aquele que deseja se ver livre da cruz de Cristo não entendeu o evangelho e nem o motivo de sua própria salvação.
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Não devemos nos envergonhar de nossos irmãos. Quando ouvimos denúncias malignas contra eles, e os vemos desprezados pelo mundo, estejamos sempre com eles, e esforcemo-nos para fortalecê-los, pois o evangelho não pode ser espalhado sem muita luta.

Assim, tal como quando se acende o fogo, e tal como quando o trovão se propaga no ar, há sempre tensão quando o evangelho é pregado.

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Ora, se o evangelho traz aflição, e se é do feitio de Jesus Cristo que se realize nos membros de Seu corpo, a igreja, aquilo que Ele sofreu em Sua pessoa, e que os membros sejam diariamente crucificados, será que seria correto que nos retirássemos de tal situação?
 Vendo que toda a esperança da salvação se encontra no evangelho, devemos descansar nisso e ter em mente o que S. Paulo diz, a saber, que, para aprendermos, devemos assistir nossos irmãos quando estiverem em apuros e quando forem perseguidos pelos ímpios.
Devemos escolher ser companheiros dos nossos irmãos e sofrer as reprimendas e escárnios do mundo, ao invés de sermos honrados com boa reputação ao darmos as costas àqueles que sofrem por essa causa, que é nossa tanto quanto deles.

Inclinamo-nos a ser fracos e pensamos que seremos devorados por perseguições, assim que nossos inimigos nos assaltam. Mas a bíblia nos garante que não nos faltará o auxílio e o socorro do nosso Deus. Ele nos arma e nos dá um poder invencível para que permaneçamos firmes e estimulados. Por essa razão S. Paulo acrescenta: "segundo o poder de Deus" [v.8].
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Porém, tal como dissemos, qualquer um gostaria de ter algum disfarce ou atenuador para evitar que perseguição recaia sobre si. "Se Deus me der graça, sofrerei com alegria por Seu nome, na certeza de que é a maior bênção que eu poderia receber".

Podemos dizer: "somos frágeis e seremos rapidamente vencidos pela crueldade de nossos inimigos", mas Paulo, entretanto, remove essa desculpa ao dizer: “Deus há de nos fortalecer" e "não podemos olhar para nossa própria força". Pois é certo que se nunca entrarmos em conflito com nossos inimigos teremos medo até mesmo de nossas próprias sombras. Conscientes dessa fraqueza, vamos à solução. Devemos considerar o quão difícil é para nós aturar os nossos inimigos. Portanto, humilhemo-nos perante Deus, oremos a Ele para que estenda Sua mão e nos segure em todas as nossas aflições. Se esta doutrina fosse bem gravada em nossos corações, estaríamos mais preparados do que estamos para sofrer.

Embora o Senhor nos tenha mostrado que Seu poder sempre nos amparará, somos tentados a permitir que nossa fragilidade nos impulsione a abandonarmos a cruz e a fugir da perseguição. Mas Paulo aqui acrescenta uma lição que nos envergonha estrondosamente, caso não almejemos glorificar a Jesus Cristo sofrendo perseguição. Ele diz: "Deus nos salvou e chamou com uma santa vocação" [v.9].

Oh! Deus nos tirou do fogo do inferno! Estávamos irremediavelmente condenados, mas Ele nos trouxe salvação e nos chamou a participarmos dela. Portanto, visto que Deus Se mostrou tão liberal, voltarmo-nos contra Ele não é uma malícia vergonhosa? Atentemos para a acusação de S. Paulo contra os inconstantes, que não querem lutar contra os ataques feitos contra eles por causa do evangelho. Sem dúvida que o apóstolo pensou em consolar os fiéis do futuro e que, por isso, mostrou o que Deus já havia feito por eles.
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Portanto, se Deus já nos salvou e nos chamou com santa vocação, acaso nos deixaria pelo meio do caminho? visto que Ele já cumpriu tudo isso, pensaremos que Ele nos abandonará aqui, zombando de nós, e nos negando Sua graça, ou tomando-a nula? Não, não! Pelo contrário, devemos esperar que Ele trará Sua obra à perfeita completude.

Portanto, continuemos com bravura, pois Deus já mostrou Seu poder em nosso favor. Não duvidemos que Ele continuará a fazê-lo, e que haveremos de ter uma vitória perfeita sobre Satanás e sobre nossos inimigos, e que Deus, o Pai, já deu todo o poder nas mãos de Jesus Cristo, que é nosso cabeça e capitão, para sermos co-participantes disso.

Deus nunca falhará quando vier a necessidade. E por quê? Porque Ele já nos salvou, Ele já nos chamou com uma santa vocação, o Senhor nos tomou para Si, Ele nos fez Sua herança celeste e agora somos dEle, do Seu rebanho. Se estivermos persuadidos disso e firmes daí em diante, seguiremos sempre adiante na causa, sabendo que estamos sob Sua proteção. Ele tem força suficiente que supera todos os nossos inimigos, e que faz certa a nossa salvação.

Não devemos temer em virtude de nossa fragilidade, pois Deus prometeu nos assistir. E nisso que devemos pensar para que recebamos e apliquemos aquilo que nos é dito. O Senhor levará a nossa salvação até um fim! Ele nos ajudará no meio das perseguições e nos habilitará a superá-las. Quando nos convencermos de vez dessas coisas, não será necessário muito poder retórico para nos fortalecer contra tentações. Triunfaremos sobre todos os nossos inimigos, embora sejamos vistos pelo mundo como  pisoteados e veementemente superados. Porém, devemos atentar para esta declaração que S. Paulo acrescenta acerca da salvação mencionada por ele e da santa vocação. Ele diz: "não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça" (v.9)
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Pois Ele não olhou para nossas obras ou para nossa dignidade quando nos chamou para a salvação. Ele o fez por mera graça. Portanto seremos menos desculpáveis ao desobedecermos a Suas ordenanças, percebendo que não somente fomos comprados com o sangue do Nosso Senhor Jesus Cristo, mas também que Ele cuidou de nossa salvação antes mesmo da fundação do mundo. Observemos, aqui, que S. Paulo condena nossa ingratidão, por sermos tão infiéis a Deus a ponto de não testemunharmos acerca do Seu evangelho, lembrando que somos chamados por Ele para isso. E, para expressar melhor esse propósito, o apóstolo acrescenta que isso "nos foi dado em Cristo Jesus, antes dos tempos dos séculos", antes que o mundo tivesse rumo ou começo: foi revelado na vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Nos é informado aqui que nossa salvação não depende de nosso merecimento. Deus nunca examinou quem éramos, nem do que éramos dignos, quando nos escolheu para Si. Mas, uma vez que os homens não podem, devido ao orgulho que neles habita, se abster de imaginar algum valor em si mesmos, eles pensam que Deus está sob a obrigação de buscá-los. Mas S. Paulo diz claramente: "propósito e graça" [v.9].

Somos, então, devedores a Ele por tudo, pois Ele nos tirou do fundo do poço da destruição, onde estávamos jogados, e nos deu toda a esperança da recuperação. Portanto, há bons motivos para que nos submetamos inteiramente a ele e confiemos em Sua benignidade, sendo totalmente tomados por ela. Depositemos nossa firmeza nesse alicerce, tal como eu disse antes, caso contrário, veremos nossa salvação perecer e desaparecer.



Fonte: Coletânea de sermões de Calvino publicada pela Wm.B. Eerdmans em 1949 nos Estados Unidos.
Tradução: Lucas Grassi Freire


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