A Encarnação e o Nascimento de Cristo
Nº 57 Pregado na manhã de domingo, 23 de Dezembro, 1855, Por Charles Haddon
Spurgeon, Em New Park Street Chapel, Southark – Londres.
"E tu, Belém
Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que
governará em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias
da eternidade." Miquéias 5:2
Essa é a época do ano quando, querendo ou
não, estamos obrigados a associar o natal com o nascimento de Cristo, e não
posso entender como os protestantes consistentes podem ter esses dias como sagrado. No entanto, eu desejaria que houvesse
dez ou doze dias de Natal ao ano – porque há suficiente trabalho no mundo e um
pouco mais de descanso não faria mal ao povo trabalhador. O dia de Natal é
realmente uma benção para nós, particularmente porque nos congrega em redor da
lareira de nossas casas e nos reunimos uma vez mais com nossos amigos.
Vou de imediato ao ponto que tenho que comentar-lhes.
Vemos, em primeiro lugar, quem foi o que enviou Cristo. Deus o Pai fala aqui, e
diz: "de ti me sairá o que governará em Israel." Em segundo lugar, de
onde veio no momento de Sua encarnação?
Então, em primeiro lugar, QUEM ENVIOU
CRISTO?
A resposta nos é dada pelas próprias palavras do texto: "De ti", diz
o Senhor, falando pela boca de Miquéias, "de ti me sairá." É um doce pensamento que Jesus Cristo não veio sem a
permissão, autoridade, consentimento e ajuda de seu Pai. Foi enviado pelo Pai
para ser o Salvador dos homens. Ah, amados irmãos, quem conhece ao Pai, o
Filho, e o Espírito Santo como deveria conhecer-lhes, nunca coloca Um em detrimento
do Outro – não está mais agradecido a Um do que com Outro – Vê a Eles todos em
Belém, em Getsemani e no Calvário, Todos igualmente envolvidos na obra de
salvação. "De ti me sairá." Oh cristãos, têm colocado sua segurança
unicamente Nele? E, está unido a Ele?
I.
"De ti ME sairá"
No céu, houve um triste dia quando Satanás caiu, e levou consigo um terço das
estrelas do céu, quando o Filho de Deus, lançado de Sua grandiosa destra dos
trovões onipotentes, lançou o grupo rebelde ao fosso de perdição – porém, se pudéssemos
conceber uma tristeza no céu, deve ter
sido o dia mais triste da eternidade, quando o Filho do Altíssimo deixou o seio
de Seu Pai, onde havia descansado desde antes de todos os mundos. "Vá",
disse o Pai, "com a benção de teu Pai sobre Tua cabeça!" Logo vem o
despojar de seus vestidos. Como os anjos se reúnem em volta, para ver ao Filho
de Deus tirar suas vestes! Colocou de um lado Sua coroa - disse "Pai, eu
sou Senhor de tudo, bendito para sempre – porém, vou deixar minha coroa de
lado, e serei como os homens mortais." Dispõe-se de sua brilhante veste de
glória
– "Pai," diz
"colocarei
uma roupa de barro, da mesma que os homens usam." Logo, se
despe de todas Suas jóias com as quais era glorificado – coloca de lado Seus
mantos bordados de estrelas e suas túnicas de luz, para vestir-se com a simples
roupa do campesino da Galiléia. Quão solene deve ter sido esse despojar! Em
seguida, podem imaginar a separação? Os anjos servem ao Salvador ao largo das
ruas, até que se aproximam das portas, quando um anjo exclama: "Levantai,
ó portas, as vossas cabeças, levantai-vos, ó entradas eternas, e sairá o Rei da
Glória."
Oh! Sou do parecer que os anjos devem ter chorado quando
perderam a companhia de Jesus – quando o Sol do Céu lhes arrebatou toda Sua
luz. Porém, o seguiram. Desceram com Ele – e quando Seu espírito entrou na
carne, e se converteu em bebê, foi servido por esse poderoso exército angelical
- esses que depois de terem estado com Ele no casebre de Belém, e depois de
ver-lhe descansar no peito de Sua mãe, em seu caminho de volta ao alto,
apareceram para os pastores e disseram para eles que tinha nascido o Rei dos
judeus.
II.
II. Agora, em segundo
lugar, DE ONDE VEIO? Foi considerado bom e adequado que nosso
Salvador nascesse em Belém, e isso devido à
história dessa cidade, ao nome de Belém, e a posição de Belém: pequena em Judá
III.
1) Em primeiro lugar, considerou-se que Cristo nascesse em Belém,
devido à história de Belém. A pequena aldeia de Belém era muito querida para
todo israelita. Creio que a primeira menção que temos de Belém é triste. Ali
morreu Raquel. “E aconteceu que, tendo ela trabalho em seu parto, lhe disse a
parteira: Não temas, porque também este filho terás. E aconteceu que,
saindo-se-lhe a alma (porque morreu), chamou-lhe Benoni; mas seu pai chamou-lhe
Benjamim. Assim morreu Raquel, e foi sepultada no caminho de Efrata; que é
Belém. (Genesis 35:16-20) Esse é um incidente
singular: quase profético, pois Benjamim é uma figura de Jesus e não podia
Maria ter chamando seu o filho Jesus de
seu Benoni? Pois ele ia ser "o filho de minha dor." Simão lhe disse:
(E uma espada traspassará também a tua própria alma); para que se manifestem os
pensamentos de muitos corações. (Lucas 2:35) Mas, ainda que ela podia ter-lhe
chamado Benoni, Deus seu Pai o chamou Benjamim, o filho de minha mão direita – O
nascimento de Benjamim em Belém é quase uma profecia que Benoni: Benjamim, o
Senhor Jesus, devia nascer em Belém.
IV.
V.
Porém, outra mulher faz esse lugar celebre. O nome dessa mulher
era Noemi. Ali em Belém, em dias posteriores, viveu
essa mulher ,de nome Noemi, quando talvez a pedra que o amor de Jacó por Raquel
tinha levantado já estivesse coberta pelo musgo e sua inscrição talvez já
borrada pelo tempo.. Noemi foi uma mulher que o Senhor tinha amado e abençoado,
mas ela teve uma vida difícil. "Não
me chameis Noemi; chamai-me Mara; porque grande amargura me tem dado o
Todo-Poderoso" (Rute 1:20) No entanto, ela não estava
sozinha em meio de todas suas perdas, pois agarrou-se a ela Rute, a moabita,
cujo sangue gentil devia se unir com a torrente pura e sem mancha do judeu, que
devia gerar ao Senhor nosso Salvador, o grandioso Rei tanto dos judeus como dos
gentios. O belíssimo livro de Rute tinha todo seu cenário em Belém. Foi em
Belém que Rute saiu a recolher espigas nos campos de Boaz; foi ali que Boaz a olhou, e lá que ela se prostrou em terra
diante de seu senhor; foi ali que foi celebrado seu matrimônio, e nas ruas de
Belém, Boaz e Rute receberam uma bênção que os fez frutíferos, de tal forma que
Boaz converte-se no pai de Obede, e Obede pai de Jessé, e Jessé gerou a Davi.
VII.
Esse último feito cinge
Belém com glória: o fato de Davi ter nascido ali – o poderoso herói
que matou ao gigante filisteu. Belém era uma cidade real, porque reis foram
gerados ali. Ainda que Belém fosse pequena, tinha muito para ser estimada –
porque era como certos principados que temos na Europa, que não são celebrados
por nada a não ser terem gerado consortes das famílias reais da Inglaterra. Era
um direito, então, pela história, que Belém devia ser o lugar do nascimento de
Cristo.
VIII.
2) Mais adiante, existe algo no nome do lugar. "Belém
Efrata." A palavra "Belém" tem um duplo significado: quer dizer
"casa de pão," e "casa da guerra." Cristo não devia nascer na "casa do pão?" Ele é o pão
de seu povo, de Quem recebe seu alimento. Como nossos pais comeram o maná no
deserto, assim nós vivemos de Cristo aqui embaixo. Famintos frente ao mundo,
não podemos alimentar-nos de suas sombras, nós precisamos de algo mais
substancial, e nesse pão do céu, feito do corpo ferido de nosso Senhor Jesus, e
cozido no forno de Suas agonias, encontramos um bendito alimento. Não existe alimento como Jesus para a alma desesperada ou
para o mais forte dos santos.
O mais humilde da família de Deus, vá a Belém por seu pão –
e o homem mais forte, que come sólidos alimentos, vá a Belém por eles. Casa do
Pão! De onde poderia vir nosso alimento fora de Ti? Temos provado ao Sinai,
porem em seus picos afiados não crescem frutos, e suas alturas espinhosas não produzem
o trigo que possa alimentar-nos. Fomos ao próprio Tabor, onde Cristo foi
transfigurado, e, no entanto, ali não fomos capazes de comer Sua carne e beber
Seu sangue. Porém, você, Belém, casa de pão, corretamente foi nomeada – pois
ali se lhe deu ao homem pela primeira vez o pão da vida.
IX.
E também é chamada "a casa da guerra;" porque Cristo é
para os homens "casa do pão", ou do contrário, "casa da
guerra."
X.
Enquanto Ele é
alimento para o justo, faz guerra ao ímpio, segundo Sua própria palavra:
"Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada;
Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua
mãe, e a nora contra sua sogra; E assim
os inimigos do homem serão os seus familiares." ( Mateus10:34-36) Pecador!
Se não conheces Belém como "a casa do pão", então ela será para ti
uma "casa de guerra." Se nunca bebes o doce mel dos lábios de Jesus –
se não és como a abelha que sorve do delicioso e doce licor da Rosa de Saron,
então, dessa mesma boca sairá uma espada de dois gumes contra ti – e essa mesma
boca da quão os justos sacam seu pão, será para ti a boca da destruição e a
causa de teu mal. Jesus de Belém, casa de pão e casa de guerra, nós confiamos
em que lhe conhecemos como nosso pão. Oh, que alguns que não estão em guerra
Contigo possam ouvir em seus corações, assim como em seus ouvidos, o hino:
"Paz na terra, e indulgente Misericórdia; Deus e os pecadores
reconciliados."
XI.
XII.
Agora, vamos nos referir a essa palavra: "Efrata".
Esse era o antigo nome do lugar, que os judeus conservavam e amavam. Seu significado é "Fecundidade" ou
"abundância" Ah! Que adequado foi que Jesus nascera na casa da
fecundidade – pois, de onde vem minha fertilidade e sua fertilidade, meu irmão,
senão de Belém? Nossos pobres corações infrutíferos nunca produziram nenhum
fruto, nenhuma flor, até que foram regados com o sangue do Salvador. É a sua
encarnação que enriquece o solo de nossos corações. Por toda terra havia
espinhas salientes, e venenos mortais, antes que Ele viesse – porem nossa fertilidade
vem Dele. "Sou como a faia verde; de mim é achado o teu fruto."
(Oséias 14:8) "todas as minhas fontes estão em ti." (Salmo 87:7) Se
nós somos como árvores plantadas junto à corretes de águas, dando fruto na
estação própria, não é porque tenhamos sido naturalmente frutíferos, mas antes,
por causa das correntes de águas juntos as quais fomos plantados. Jesus é que
nos faz fecundos. "Quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto"
(João 15:5) Gloriosa Belém Efrata! Bem nomeada! Fértil casa de pão – a casa de
abundante provisão para o povo de Deus!
XIII.
XIV.
3) Continuando, notemos a
posição de Belém. É dito que é "pequena para estar entre as famílias de
Judá." Por que é dito isso? Porque Jesus Cristo sempre vai em meio dos pequenos. Ele nasceu na
pequena aldeia "para estar entre as famílias de Judá." Não na alta
colina de Basã, nem no monte 14 real de Hebron, nem nos palácios de Jerusalém,
mas sim na humilde, porem ilustre, aldeia de Belém. Há uma passagem em Zacarias
que nos ensina uma lição: diz que um varão que cavalgava sobre um cavalo
vermelho, estava entre as murtas que estavam na baixada. (Zacarias 1:8-10)
Agora, as murtas crescem nas baixadas – e o homem cavalga seu cavalo sempre
trota ali. Ele não vai por cima da montanha – Ele cavalga entre os humildes de
coração. "Olharei, para o pobre e abatido de espírito, e que treme da
minha palavra." (Isaías 66:2) Há alguns pequenos entre nós hoje:
"pequena para se achar entre os milhares de Judá." Ninguém escutou
antes o nome de vocês, não é verdade? Se os enterram e escrevem seus nomes em
suas tumbas, passariam despercebidos. Os que passassem ali diriam: "esse
não significa nada para mim: nunca o conheci." Não sabe muito de si
próprio, nem possui uma grande opinião sobre você mesmo – talvez a duras penas
possa ler. Ou, se têm algumas habilidades e talentos, é desprezado pelos homens
– ou, se não é depreciado por eles, você se despreza a si próprio. É um dos
pequenos. Bem, Cristo sempre nasce em Belém entre os pequeninos. Cristo nunca
entra nos grandes corações – Cristo não habita nos grandes corações, mas nos
pequeninos.
Os espíritos poderosos e orgulhosos nunca têm a Jesus Cristo, pois
Ele entra por portas baixas, e nunca entrará por portas altas e elevadas. Quem
tem um coração quebrantado, e um espírito humilhado, terá ao Salvador, e
ninguém mais. Ele não cura nem ao príncipe nem ao rei, mas sim, mas "ele
sara aos quebrantados de coração e ata-lhes suas feridas" (Salmo 147:3).
Que doce pensamento! Ele é o Cristo dos pequeninos. "E tu, Belém Efrata,
posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que governará em
Israel." Não podemos abandonar esse ponto sem outro pensamento aqui, quão
maravilhosamente misteriosa foi essa providência que trouxe a mãe de Jesus
Cristo para Belém, no mesmo momento que ia dar a luz! Seus pais moravam em
Nazaré – e com que motivo teriam desejado viajar nessa hora? Naturalmente,
teriam ficado em casa – não é nada provável que sua mãe teria feito uma viagem
a Belém encontrando-se nessa condição especial. Porém, Augusto César promulga
um edito que todo o mundo deve ser recenseado. Muito bem, então que sejam
recenseados em Nazaré. Não – agradou a Ele que todos deveriam ir para Sua
cidade. Mas, por que Augusto pensou nisso precisamente nesse momento em
especial? Simplesmente porque enquanto o
homem pensa seu caminho, o coração do rei está nas mãos do SENHOR. (Provérbios
21:1)
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