ROBERT MC CHEYNE
“Um cristão que valia a pena”
Robert McCheyne não foi um homem como
os demais. Seu ministério, certamente muito breve, tornou-se uma das luzes mais
brilhantes do evangelho na Escócia. Pureza doutrinária e fervor evangélico
impregnaram por completo a pregação desse grande servo de Deus. Em McCheyne
encontramos aquela característica tão sublime — e muito rara, infelizmente — de
uma harmoniosa correspondência entre pregação e vida. A vida de McCheyne, que
alguém definiu como “um dos mais belos exemplos da obra do Espírito Santo”, foi
caracterizada por um alto grau de santidade e consagração.
A pequena cidade de Dundee, Escócia
“Alguns poucos crentes se protegem com Deus, mas a maioria se protege de
Deus”.
Robert Murray McCheyne
No inverno de 1831, iniciou seus
estudos na Divinity Hall, onde Thomas Chalmers era professor de Teologia, e
David Welsh o era de História Eclesiástica e Edward Irving, Horatius e Andrew
Bonar, seus fervorosos amigos
Todos os seus sermões são
caracterizados por uma profunda fidelidade ao texto bíblico e ele dedicava
várias horas por semana à pregação do evangelho, nos bairros pobres e mais
baixos de Edimburgo.
“Até mesmo nossas lágrimas de arrependimento estão manchadas de
pecado.”
Andrew Bonar escreveu sobre seu amigo:
“Poucos houve que, com tão completa dedicação, tenham-se consagrado à obra do
Senhor como fruto de um claro conhecimento de sua responsabilidade”.
“Sê diligente em todas as coisas; aquilo que valha
a pena fazê-lo, faze-o com todas as forças. E, sobre todas as coisas,
apresenta-te diante do Senhor com muita freqüência. Não tentes nunca ver um
rosto humano enquanto não tiveres visto primeiro o rosto Daquele que é nossa
luz e nosso tudo. Ora por teus semelhantes. Ora por teus professores e
companheiros.“
Em sua pregação, fazia com que os outros participassem de sua vida interior,
como de sua alma, à medida que crescia na graça e no conhecimento do Senhor e
Salvador. Começava o dia muito cedo cantando salmos ao Senhor. A isso se seguia
a leitura da Palavra para a própria santificação. Nas cartas de Samuel Rutherford
encontrou uma mina de riquezas espirituais. Entre outros livros que apreciava
ler estavam: Chamamento aos Inconversos, de Richard Baxter, e A Vida de David
Brainerd, de Jonathan Edwards.
Em novembro de 1836, foi ordenado
pastor na igreja de São Pedro, em Dundee. Permaneceu como pastor dessa
congregação até o dia de sua morte. A cidade de Dundee, como ele mesmo deixou
escrito, “era uma cidade dada à idolatria e de coração duro”. Mas não havia
nada em suas mensagens que buscasse o agrado do homem natural, pois não estava
em seu coração buscar o beneplácito dos inconversos. “Se o evangelho agradasse
ao homem carnal, então, deixaria de ser evangelho”.
Estava profundamente persuadido de que a primeira obra do Espírito Santo
na salvação do pecador era a de produzir convicção de pecado e de trazer o
homem a um estado de desespero diante de Deus.
“A menos que o homem seja posto no nível de sua miséria e culpa, toda a
nossa pregação será vã. Somente um coração contrito pode receber a um Cristo
crucificado”.
Sua pregação era caracterizada por um
elemento de declarada urgência e alerta. “Que Deus me ajude sempre a falar-vos com
clareza. Mesmo a vida daqueles que vivem mais anos é, na verdade, curta. No
entanto, essa vida curta que Deus nos deu é suficiente para que busquemos o
arrependimento e a conversão, pois logo, muito logo, passará. Cada dia que
passa é como um passo a mais em direção ao trono do juízo eterno. Nenhum de vós
permanece imutável; talvez estejais dormindo; não importa, pois a maré do tempo
que passa vos está levando mais para perto da morte, do juízo e da eternidade”.
Ao seu profundo amor pela almas se
somava uma profunda sede de santidade de vida. Escrevendo a um companheiro no
ministério, disse: “Acima de todas as coisas, cultiva teu próprio espírito. Tua
própria alma deveria ser o principal motivo de todos os teus cuidados e
desvelos. Mais que os grande talentos, Deus abençoa àqueles que refletem a
semelhança de Jesus em sua vida.
“Um ministro
santo é uma arma terrível nas mãos de Deus”. McCheyne talvez pregasse com mais
poder com sua vida do que com suas mensagens, e ele sabia bem, como nos disse
seu amigo Andrew Bonar, que “os ministros do Evangelho não só devem pregar
fielmente, mas também viver fielmente”.
Como pastor em Dundee, McCheyne
introduziu importantes inovações na congregação. Naquela época, as reuniões de
oração, se não eram desconhecidas, eram muito raras. McCheyne ensinou aos
membros a necessidade de congregar-se cada quinta-feira à noite a fim de unirem
o coração em oração ao Senhor e estudar Sua Palavra. Também destinava outro dia
durante a semana para os jovens. Seu ministério entre as crianças constitui a
nota mais brilhante de seu ministério.
Campos de Dundee, Escócia
Ao seu zelo por santidade de vida
uniu-se seu afã por pureza de testemunho entre os membros de sua congregação.
McCheyne era consciente de que a igreja — como parte do Corpo místico de Cristo
— devia manifestar a pureza e santidade Daquele que havia morrido para oferecer
uma Igreja santa e sem mancha ao Pai. Por isso, seu zelo pela observância de
disciplina na congregação:
“Ao começar meu ministério entre vós, eu era em extremo ignorante da
grande importância que na Igreja de Cristo tem a disciplina eclesiástica.
Pensava que meu único e grande objetivo nesta congregação era o de orar e
pregar e não a importância devida a disciplina na igreja: dei-me conta de que
não somente a pregação era uma ordenança de Cristo, mas também o exercício da
disciplina eclesiástica, principalmente treinar os crentes no hábito diário de
orar e admoestar sobre o viver santo, orientando-os que as coisas desse mundo
são impecilhos para o avanço do Reino de
Deus.”
Enquanto o vigor e a força espiritual
de sua alma alcançavam uma grandeza gigantesca, a saúde física de McCheyne se
via minada e debilitada conforme transcorriam os dias. Ao final de 1838, uma
violenta palpitação do coração, ocasionada por seus árduos labores
ministeriais, obrigaram o jovem pastor a retirar-se para um descanso.
Durante sua ausência, o Espírito
Santo começou a operar um maravilhoso avivamento na Escócia. Este avivamento
começou em Kilsyth sob a pregação do jovem pastor W. C. Burns, que havia
substituído McCheyne enquanto durava sua convalescença. Num curto espaço de
tempo, a força do Espírito Santo, que impulsionava o avivamento, se deixou
sentir em muitos lugares. Em Dundee, onde os cultos se prolongavam até tarde da
noite todos os dias da semana, as conversões foram muito numerosas. Era como se
toda a cidade houvesse sido sacudida pelo poder do Espírito.
Dundee na época de Mc cheyne
Em novembro do mesmo ano, McCheyne,
recuperado de sua enfermidade, regressou a sua congregação. Os membros da
igreja de São Pedro transbordaram de alegria ao ver de novo o rosto amado de
seu pastor. A igreja estava absolutamente lotada e, enquanto todos esperavam
que McCheyne ocupasse o púlpito, um silêncio absoluto reinada entre os que
estavam ali congregados. Muitos membros derramaram lágrimas de gratidão ao
rever o rosto de seu pastor. Mas, ao finalizar o culto e movidos pelo poder de
sua pregação, muitos foram os pecadores que derramaram lágrimas de
arrependimento.
O regresso de McCheyne a Dundee
marcou um novo episódio em seu ministério e também na igreja escocesa. Era como
se a partir daquele momento, o Senhor se houvesse disposto a responder às
orações que o jovem pastor elevara no princípio de seu ministério, suplicando
por um avivamento. Ali, onde McCheyne pregara, o Espírito acrescentava novas
almas à Igreja.
Na primavera de 1843, quando McCheyne
regressara de uma série de reuniões especiais em Aberdeenshire, caiu
repentinamente enfermo. Lá ele havia visitado a vários enfermos de febre
infecciosa, e a constituição enfermiça e débil de McCheyne sucumbiu ao contágio
da mesma. No dia 25 de março de 1843 partiu para estar com o Senhor.
“Em todas as partes onde chegava a
notícia de sua morte”, escreveu Bonar, “o semblante dos crentes se enchia de
tristeza. Talvez não tenha havido outra morte que impressionasse tanto aos
santos de Deus na Escócia como a deste grande servo de Deus que consagrou toda
a sua vida à pregação do evangelho eterno. Com freqüência, ele costumava dizer:
‘Vivei de modo que, um dia, sintam de
vós saudades’, e ninguém que
houvesse visto as lágrimas que se verteram por ocasião de sua morte teria
dúvidas em afirmar que sua vida havia sido o que ele havia recomendado a
outros. Não tinha mais do que 29 anos quando o Senhor o levou.
ARCO DE ENTRADA CA CIDADE DE DUNDEE NA ERA VICTORIANA
“No dia do enterro, foram suspensas
todas as atividades em Dundee. Do lugar do velório até o cemitério, todas as
ruas e janelas estavam abarrotadas de uma grande multidão. Muitas almas se
deram conta naquele dia de que um príncipe de Israel havia caído, enquanto
muitos corações indiferentes experimentaram uma terrível angústia ao contemplar
o solene espetáculo.
“O túmulo de Robert McCheyne ainda
pode ser visto na parte nordeste do cemitério que circunda a igreja de São
Pedro. Ele se foi para as montanhas de mirra e para as colinas de incenso, até
que desponte o dia e fujam as sombras. Terminou sua obra. Seu Pai celestial não
tinha para ele nenhuma outra planta para regar nem outra vide para cuidar, e o
Salvador, que tanto o amou em vida, agora o esperava com Suas palavras de
boas-vindas: ‘Bem está, servo bom e fiel. (…) Entra no gozo do teu senhor’
(Mateus 25.21)”.
(Traduzido por Francisco Nunes
de Mensajes Bíblicos, de Robert Murray McCheyne, publicado por The
Banner of Truth Trust. (c) 1961 The Banner of Truth Trust, para Editora dos
Clássicos.)