12 de março de 2023

OS TEMPOS DO FIM E A VOLTA DE JESUS

 



EDMÉIA WILLIAMS
Igreja Anglicana
Responsável há 27 anos por um projeto social no Morro Dona Marta, no Rio de Janeiro, ela critica a institucionalização da fé que faz com que as igrejas recaiam na prática comercial. “Vira uma igreja indiferente, ignorante” (Foto: Andre Arruda/ÉPOCA)
O joelho direito dói, mas a mulher sobe firme os degraus do Morro Dona Marta, na Zona Zul do Rio de Janeiro. Enquanto caminha, os moradores saem de suas casas para recebê-la com abraços, a despeito de sua imponência e expressões firmes. Ela conhece todos pelo nome e pergunta sobre parentes, estudo, trabalho. “Essa é minha família”, diz, apontando para os barracos. “Todo mundo aqui é meu filho. É tudo preto mesmo, ué. Minha favela é minha paróquia.”

Vigorosa aos 73 anos, Edméia Williams cuida, há 27, da Casa de Maria e Marta. Das 7 da manhã às 5 da tarde, a casa atende diariamente 98 crianças do Morro Dona Marta, oferecendo-lhes refeições, aulas de reforço escolar, informática, música e canto, além de material didático e roupa. O custo mensal de R$ 30 mil é bancado com doações obtidas por Edméia. O objetivo é que as crianças tenham acesso ao que não têm em casa, ganhem oportunidades de se desenvolver e, assim, consigam se desviar de um destino de violência.

Negra, fluente em quatro idiomas e formada em quatro cursos – pedagogia, psicologia, filosofia e música – além de em liderança cristã, no Instituto Haggai, em Cingapura, e em missiologia pelo Selly Oak College, na Inglaterra, Edméia é missionária da Igreja Anglicana, uma das igrejas oriundas da Reforma Protestante

A missionária Edméia faz parte do contingente de “novos luteros”. Seguidora de uma igreja que reúne no Brasil apenas 50 mil fiéis, sobretudo de classe média, Edméia é uma anglicana numa favela – nicho normalmente ocupado pelos pentecostais que tratam de abrir, nesses bolsões de pobreza, seus templos. Edméia não tem uma igreja no morro – e seu trabalho não pretende recrutar novos fiéis. Ela quer que as famílias beneficiadas por seu projeto sejam livres para fazer suas opções religiosas. Dissociada do bloco “gospel”, Edméia é crítica de um sistema que, segundo ela, chama as pessoas para serem “membros de igrejas, mas não seguidores de Cristo”. A institucionalização da fé, afirma, faz com que a igreja caia na soberba e na prática comercial. “Vira uma igreja indiferente, ignorante”, diz. “Detesto o termo evangélico. Dizem que o Rio de Janeiro tem mais de 20% de evangélicos na população, mas se tivesse 5% de discípulos de Jesus seria outra coisa.” Para Edméia, o que a fé cristã exige do fiel está no livro de Miqueias, no Antigo Testamento: “O que Deus quer de ti, homem? Que pratiques a justiça, que ame a misericórdia e que andes com integridade”.

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