O QUE PREGAVAM NOS AVIVAMENTOS?
O
movimento desses corajosos avivalistas sacudiu a Inglaterra de uma ponta à
outra. A princípio, as pessoas nas altas camadas, tentaram desprezá-los. Os
homens letrados escarneciam deles como fanáticos; os ‘sábios' faziam piadas, e
inventavam apelidos para eles; a igreja fechou-lhes as portas; os
não-conformistas deixaram-nos de lado; a massa ignorante perseguia-os. Mas o
movimento desses poucos evangelistas continuou, e se fez sentir em cada parte
do país. se
igualar a eles.
- Eles pregavam em todo lugar. Se o púlpito de uma paróquia da Igreja
estava aberto para eles, eles alegremente se colocavam à disposição. Se não
pudessem conseguir um púlpito, eles estavam igualmente prontos para pregar em
um celeiro. Nenhum lugar lhes parecia impróprio. No campo ou ao lado de uma
rua, num parque ou num mercado, em travessas ou vielas, em porões ou sótãos, em
cima de uma barrica ou de uma mesa, em cima de um banco ou de um degrau, aonde
quer que pudessem reunir ouvintes, os reformadores espirituais do século
passado estavam prontos para falar-lhes a respeito de suas almas. --
- Eles estavam prontos a tempo e fora de tempo para fazer o trabalho de
pescadores de homens e circundavam o mar e a terra levando avante a obra do
Pai. E isto era algo novo. Podemos nós imaginar que isto produziu um grande
resultado?
- Eles pregavam de modo simples. Eles corretamente concluíram que o
primeiro requisito a ser alcançado em um sermão, é que seja entendido. Eles
perceberam claramente que milhares de hábeis e bem compostos sermões eram
totalmente inúteis, porque estavam acima da capacidade dos ouvintes.
- Eles se esforçaram para descer ao nível do povo, e para falar o que o
povo podia entender. Para alcançar isto, eles não se envergonhavam de
crucificar o seu estilo e de sacrificar sua reputação de eruditos. Para atingir
este objetivo, eles usaram ilustrações e exemplos em abundância, e, como seu
Mestre divino, fizeram uso de lições extraídas de cada objeto na natureza.
- Eles colocaram em prática o dito de Agostinho: ‘Uma chave de
madeira não é tão bonita quanto uma de ouro, mas se ela puder abrir a porta
enquanto a de ouro não, ela é muito mais útil.' Eles reviveram o estilo dos
sermões através dos quais Lutero e Latimer costumavam obter eminente sucesso. Em
poucas palavras, eles perceberam a verdade que o grande reformador alemão
queria dar a entender quando disse: ‘Ninguém pode ser um bom pregador para o
povo, senão estiver disposto a pregar de uma maneira que possa parecer infantil
e vulgar a alguns'. E tudo isto era também completamente novo há cem anos
atrás.
- Eles pregavam com fervor e de modo direto. Eles colocaram de lado
aquele modo enfadonho, frio, pesado e sem vida de pregar, o qual há muito havia
feito dos sermões um sinônimo do que é tedioso.
-Eles proclamavam as palavras de fé com fé, e a história da vida, com
vida. Eles falavam com ardente zelo, como homens que estavam totalmente
persuadidos de que o que diziam era verdade, e que ouvir o que pregavam era
algo da maior importância para o benefício eterno deles.
- Eles falavam como homens que tinham uma mensagem de Deus para você, e
que precisavam entregá-la, e que tinham que obter sua atenção enquanto a
comunicavam. –
- Eles colocavam o coração, a alma e sentimentos nos seus sermões e
despediam seus ouvintes para casa convencidos, afinal, de que o pregador fora
sincero e queria o bem deles. - Eles acreditavam que você deve falar do coração
se você deseja falar ao coração, e que deve haver indiscutível fé e convicção
no púlpito para que venha a haver fé e convicção nos bancos. Tudo isto, eu
repito, era algo que havia se tornado quase que obsoleto no passado. Podemos
nós imaginar que isto arrebatou o povo e produziu um imenso efeito?
1-Uma das coisas que os reformadores
espirituais do século passado ensinaram constantemente era a suficiência e
supremacia das Sagradas Escrituras. A Bíblia, toda e não mutilada, era a sua
única regra de fé e prática. Eles aceitavam todas as suas afirmativas sem
questioná-las ou colocá-las em dúvida. Eles não sabiam nada a respeito de porção
alguma das Escrituras que não fosse inspirada. Eles nunca admitiram que o homem
tenha em si alguma ‘faculdade verificadora', pela qual as asseverações das
Escrituras pudessem ser avaliadas, rejeitadas ou aceitas. Eles nunca se
esquivaram de asseverar que não pode haver erro na Palavra de Deus e que,
quando não podemos entender ou conciliar algumas partes do seu conteúdo, a
falta está no intérprete e não no texto. Em toda a pregação, eles eram
eminentemente homens de um só livro. Estavam contentes em depositar sua
confiança naquele livro e por ele resistir ou sucumbir. Esta era uma das
características de suas pregações. Eles honravam, amavam e reverenciavam a
Bíblia.
2- Além disso, os reformadores do
século dezoito ensinavam constantemente a total corrupção da natureza humana.
Eles nada sabiam da idéia moderna de que Cristo está em todos os homens, e de
que todos possuem algo de bom dentro de si, que precisa apenas ser despertado e
usado para poder salvá-los. Eles nunca agradaram a homens ensinando isso. Eles lhes
diziam claramente que estavam mortos e que precisavam viver; que se encontravam
culpados, perdidos, desamparados, desesperados e em perigo iminente de
destruição eterna. Por mais estranho e paradoxal que possa parecer a alguns, o
primeiro passo deles no propósito de tornar bom o homem, era mostrar-lhes que
eles eram completamente maus, e o seu argumento primordial, no sentido de
persuadir as pessoas a fazerem alguma coisa por suas almas, era convencê-los de
que não podiam fazer nada por elas.
3- Além disso, os reformadores do
século passado ensinavam constantemente que a morte de Cristo na cruz era o
único meio de expiação para o pecado do homem, e que, quando Cristo morreu, Ele
morreu como nosso substituto - ‘o Justo pelo injusto'. Este, na verdade, era o ponto
cardinal em quase todos os seus sermões. Eles nunca ensinaram a doutrina
moderna de que a morte de Cristo foi apenas um grande exemplo de
auto-sacrifício. Eles viam nela algo muito mais elevado, maior e mais profundo
do que isto. Viam nela o pagamento do assombroso débito do homem para com Deus.
Eles amavam a pessoa de Cristo, se regozijavam nas Suas promessas e instavam os
homens a andarem segundo o exemplo dEle. Mas o assunto que eles se deliciavam
em tratar, acima de todos os outros, era o sangue redentor que Cristo derramou
por nós na cruz.
4- Além disso, os reformadores do
século dezoito ensinavam constantemente a grande doutrina da justificação pela
fé. Eles anunciavam aos homens que a fé era a coisa necessária a fim de
obterem, para suas almas, benefício na obra de Cristo; que antes de virmos a
crer, estamos mortos e não temos benefício nenhum em Cristo e que a partir do
momento em que cremos, passamos a viver e ter pleno direito a todos esses
benefícios. Justificação por tornar-se membro de igreja, justificação sem
crença e confiança, eram noções que eles não toleravam. Tudo, se você crer e a
partir do momento em que crê; nada, se você não crer - era a própria essência
da pregação deles.
5- Além disso, os reformadores do
século dezoito ensinavam constantemente a necessidade universal de conversão do
coração e uma nova criação pelo Espírito Santo. Eles proclamavam em todo lugar
às multidões a que se dirigiam: ‘Vocês precisam nascer de novo'. Filiação
a Deus através do batismo, filiação a Deus ao mesmo tempo em que fazemos a
vontade do diabo, eles nunca admitiram. A regeneração que eles pregavam não era
algo dormente, apático e inerte. Era alguma coisa que podia ser vista,
discernida e conhecida através de seus efeitos.
6- Além disso, os reformadores do século
dezoito ensinavam constantemente a ligação inseparável entre verdadeira fé e
santidade pessoal. Eles nunca aceitaram por um só momento, que estar arrolado
como membro de igreja ou a simples profissão de fé eram provas de que um homem
era crente, se ele não vivesse uma vida piedosa. Um verdadeiro crente, eles
sustentavam, deve sempre ser reconhecido por seus frutos e estes frutos devem
ser plena e inequivocamente manifestos em todas as áreas da vida. ‘Ausência de
frutos, ausência de graça,' era o teor invariável da pregação deles.
7- Finalmente, os reformadores do
século dezoito ensinavam constantemente as doutrinas igualmente verdadeiras do
ódio eterno de Deus pelo pecado e o amor de Deus pelos pecadores. Eles nada
sabiam a respeito de um amor insuficiente para salvar do inferno e de um céu
aonde santos e não santos são ambos finalmente admitidos. Eles usavam, tanto a
respeito do céu como a respeito do inferno, a linguagem mais clara possível.
Nunca recuaram em declarar, nos termos mais claros, a certeza do julgamento de
Deus e da ira porvir, se os homens persistirem na impenitência e incredulidade;
e apesar disso, nunca cessaram de magnificar as riquezas da bondade e compaixão
de Deus e de conclamar todos os pecadores a arrependerem-se e voltarem-se para
Deus antes que fosse tarde demais.
Estas eram as principais verdades que
os evangelistas ingleses do século passado pregavam constantemente. Estas eram
as principais doutrinas que eles estavam constantemente proclamando, quer na
cidade quer no campo, quer em igrejas quer em céu aberto, quer entre ricos quer
entre pobres. Estas foram as doutrinas através das quais eles viraram a
Inglaterra de cabeça para baixo, e fizeram homens do campo e trabalhadores de
minas de carvão chorarem até que suas faces sujas ficassem marcadas pelas
lágrimas; cativaram a atenção de nobres e filósofos, tomaram de assalto as
fortalezas de Satanás, arrancaram milhares como que tições do fogo, e mudaram o
caráter da época. Você pode chamá-las de doutrinas simples e elementares se
desejar. Diga, se lhe agradar, que você não vê nada de grande, surpreendente,
novo ou peculiar nesta lista de verdades. Mas é inegável o fato de que Deus
abençoou estas verdades, a ponto de reformar a Inglaterra há cem anos atrás. O
que Deus abençoou não despreze o homem.
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