( O avô das missões
modernas )
William foi influenciado por grandes pregadores bretões,
poderosos ministros evangélicos que sofreram, triunfaram e morreram pela fé na
Escócia.Seu pai foi um apóstolo do reavivamento, revelado na história dos
poderosos movimentos do Espírito Santo. Na geração de William ocorreria um novo
reavivamento, 100 anos mais tarde, em 1840, quando Deus o usou grandemente.
William Chalmers Burns era amigo de Robert Murray McCheyne, era missionário e
pregador itinerante, e acabou seus dias como missionário à China, onde conheceu
e influenciou a J. Hudson Taylor.
Seu
nascimento
Nasceu em 10 de Abril de 1815,
na cidade de Dun,Escócia.Sua inclinação era correr atrás de riquezas que lhe
pudessem trazer junto prazeres. Advogados eram ricos e viviam em belas casas e
mansões, e portanto, ele se tornou um Advogado. Ele cegamente falou a seus pais
que ele não queria ser um pobre pregador e que ele estava indo para o mundo em
busca de dinheiro.
Sua Conversão
Antes
de obter o seu diploma, Deus alterou os planos de William. Isto aconteceu
através das suas duas irmãs, que não se conformavam com o descuido com que
William tratava sua alma. William era obediente aos pais, inteligente,
brilhante, amava aos seus familiares e amigos, no entanto ele não era salvo e
estava a caminho do inferno. Elas foram compelidas pelo Espírito a escrever
para William uma carta urgente, admoestando-o a largar o mundo e aceitar o
glorioso Filho de Deus como Salvador e Senhor. William foi grandemente tocado
pela carta e pediu para as irmãs enviarem para ele alguma literatura que o
ajudasse. Elas enviaram o livro de Thomas Boston - "Fourfold
State"-. Outro livro que ajudou por este tempo foi o livro de Pike -
"Early Piety". Sozinho com Deus, com lágrimas nos olhos, ele
creu em Deus para salvação. A esse respeito ele disse: "Eu tinha a
esperança de ser salvo pela soberania do infinitamente gracioso Deus; e quase
no mesmo instante, eu senti que podia deixar minha presente ocupação e devotar
minha vida a Jesus, como ministro do glorioso evangelho pelo qual eu tinha sido
salvo".
Seu
Chamado para a pregação
Logo após a sua conversão,
William chegou inesperadamente na casa de seu pai, que era pastor em Kilsyth, e
entrou na sala. Surpreso, seu pai lhe perguntou: "William, o que você está
fazendo aqui?!". Ele havia cavalgado trinta e seis milhas de Edimburgo até
Kilsyth, trazendo as boas novas de sua conversão. Então ele virou-se para a sua
mãe e disse: "Mãe, o que você diria se eu te contasse que eu quero ser um
ministro do evangelho acima de tudo o mais!?". Nem precisa dizer qual era
o pensamento de sua mãe. Ela e toda a sua família estavam entusiasmados com a
notícia. Imediatamente puseram-se a ouvir o relato de sua conversão, como
aconteceu aquela revolução em sua vida. Gastaram a manhã conversando sobre
isso, ao redor da lareira. Sua mãe, observando o rosto decidido de seu filho, e
a nova expressão de alegria em sua face, sabia que, por mais precipitado que
parecesse, a sua decisão de ser um ministro do evangelho era algo para a vida e
para a morte. Nada o demoveria disso.
Logo o jovem William
deixou as coisas deste mundo de lado. O odor das "ervas do Egito"
eram ofensivas a ele, enquanto que a vida de autocontrole e piedade que ele
buscou viver eram provas da profundidade da atuação do Espirito Santo na sua
alma. Foi na universidade de Glasgow que ele ouviu um médico missionário
chamado Dr. Carlton falando sobre a sua viagem à China, de como ele se
colocou no altar de Deus para um trabalho missionário para com os ímpios
esquecidos naquela terra distante e a forma como Deus o enviou. Mais tarde esse
relato seria usado por Deus para estimulá-lo a também ser um missionário.
O jovem Burns foi licenciado
para pregar e ocupar o lugar no púlpito de Robert Murray McCheyne, na igreja de
St. Peter , em Dundee. Ele aceitou a oferta, tendo a idade de 24 anos, dizendo:
"Eu sou realmente impróprio, eu não sou adequado para assumir este árduo
porém nobre trabalho. Mas, o que importa? Gloria seja dada a Jesus, sua graça é
suficiente para mim, porque seu poder se aperfeiçoa na fraqueza!".
De acordo com o que se percebe
nos livros a respeito de McCheyne, havia uma extraordinária similaridade entre
estes dois servos de Deus, porém seus dons e temperamentos eram notoriamente
diferentes. McCheyne era um poeta, de temperamento suave, meigo, dócil.
Destacava-se o amor e a reverência. Em Burns via-se palavras mais fortes,
diretas ao pregar a verdade de Deus. Ele fazia o povo tremer ante o poder de
Deus. Em outras palavras, McCheyne era um pastor e Burns era um evangelista.
McCheyne gastava o seu tempo em adoração, oração e contemplação do grande amor
de Cristo demostrado no calvário, enquanto que Burns preocupava-se muito com as
almas que iam para o inferno sem salvação, passando o tempo em agonia de alma
pelos não salvos.
Um dia, sua mãe fora fazer
compras em Glasgow e o perdeu na multidão. Recuou sobre seus próprios passos e
encontrou Burns com a expressão de grande sofrimento e agonia. Sua mãe
perguntou se ele estava doente ou com dor. Ele então respondeu: "Ó mamãe,
ó mamãe!! O andar destas pessoas sem Cristo em direção ao inferno parte o meu
coração".
Sua atuação na igreja em
St.Peter, o relato do Dr. F.B.Mayer explica que Burns era jovem, inexperiente,
sem nenhum peculiar dom poético na pregação, mas que foi grandemente respeitado
pela sua congregação , porque, ainda que suas palavras eram poucas, diretas,
pouco adornadas, no entanto vinham cheias de poder, como flechas lançadas por
um exímio atirador. Essa flechas atingiam em cheio o coração e a consciência
dos ouvintes. Por tudo isso o povo o considerava como um "mensageiro de
Deus". Literalmente pode-se dizer dele que suas palavras não eram cheias
de sabedoria humana, mas uma demonstração do Espírito e de poder. O resultado
visível foi um aumento no entendimento espiritual do povo e um tom elevado de
solenidade e sobriedade se tornou generalizado entre os crentes daquela igreja.
O templo já tinha se enchido
antes, mas agora a multidão se tornou mais densa e entusiástica que antes. As
salas se encheram de pessoas até não Ter mais lugar. Alma após alma vinham a
ele para dizer como encontraram paz ao crer nas palavras que ele havia pregado.
Assim, os primeiros quatro meses em Dundee foram meramente um prefácio de
coisas melhores que os meses seguintes foram testemunha.
Reavivamento em Kilsyth
Enquanto
Burns ministrava na Igreja de St. Peter, Dundee, em Kilsyth o Senhor estava
começando a se mover de uma maneira extraordinária. O pai de William decidiu
pregar diante do monumento a James Robe, protagonista de um reavivamento na
Igreja em Kilsyth à 100 anos atras. Seu objetivo era entusiasmar os crentes a
orarem por um novo avivamento e pela salvação das almas perdidas. "Deus
não está morto!" ele exclamava. "O Evangelho não perdeu o seu poder.
Somos nós que perdemos o nosso poder junto à Deus. Deus está pronto agora mesmo
para nos dar a mesma benção que Ele deu a 100 anos atrás - e muito mais! Vocês
estão prontos para deixar que Deus sonde os vossos corações, para ver que
ali não há pecado que faça o Senhor voltar atrás em suas bênçãos?"
Os
crentes ouviram estas palavras e não se furtaram a buscar a face de Deus em
humilhação e contrição permanecendo assim muito tempo. A sensação geral era de
estar no "vale dos ossos secos". Nesta atmosfera foi que William
chegou de Dundee para passar um tempo na companhia dos irmãos da igreja e de
seus familiares, por ocasião da Ceia do Senhor, onde foi fortemente relembrado
o custo da salvação - o precioso sangue de Cristo. William veio somente como um
membro da igreja e não pretendia pregar, mas os planos de Deus eram diferentes.
Seu tio, Dr. Burns, pediu para que ele pregasse em seu lugar. William aceitou e
pregou no Sábado e no Domingo e seu discurso causou tanta impressão nos
ouvintes, que seu pai e seu tio pediram que ele pregasse uma vez mais na
Terça-feira, no mercado. Esta Terça, dia 23 de julho de 1839, permanece como um
dos grandes dias em toda a história dos reavivamentos. Aquela manhã foi fixada
por toda a eternidade dentro do conselho de Jeová como uma nova etapa na
história da redenção de Deus.
Durante
a noite anterior, o povo de Deus se colocou em oração durante a noite toda,
esquecendo-se das horas, tão ocupados estavam em suas orações. Por muitas
semanas William Burns estava tão ocupado em oração que nem ele descansou. Por
causa da chuva, a grande multidão que tinha se ajuntado no mercado agora se
reunia dentro da igreja, com suas roupas de trabalho, homens, mulheres e
crianças , junto com alguns dos mais devassos pecadores do distrito. Eles
cantaram o Salmos 102, e quando o narrador do hino leu as seguintes linhas:
"O tempo do seu favor chegou!
Atente bem, é agora vem o fim."
Atente bem, é agora vem o fim."
A
palavra AGORA tocou seu próprio coração (o de William) e encorajou-o na
esperança de que o tempo de Deus era agora, e estava em Suas mãos realizar um
novo avivamento. O texto escolhido foi um outro salmo, o 110. Foi um sermão
muito cuidadoso em sua ordem de exposição, e também evangelístico em seu
ensino. Quando William ia chegando ao fim do seu sermão, ele subitamente
sentiu-se guiado pelo Espírito Santo para contar alguns dos poderosos
avivamentos na história da Escócia. Contou sobre John Livingstone, como Deus
operara por meio dele no reavivamento à 100 anos atrás. Contou que Livingstone
estava por terminar a mensagem, quando caiu uma chuva sobre o povo, e como o povo
começou a se movimentar par ir embora, ele disse: "Se uns pequenos pingos
de chuva tão facilmente afastam vocês de ouvir a mensagem de Deus, então que
dirá no dia do julgamento, quando Deus fará chover fogo e enxofre sobre os que
rejeitam a Cristo?" Então Livingstone os incitava a buscar a
"cidade de refúgio" em Cristo. O resultado disso foi que 500 pessoas
foram convertidas por ocasião de seu sermão.
Enquanto
Burns contava a história, a emoção ia tomando conta da multidão. O que se
seguiu foi memorável. O próprio William narrou assim: " Eles (o povo)
choravam e se lamentavam, intermeado com súbitos momentos de alegria e oração,
junto com alguns do povo de Deus. A impressão que eu tive do púlpito era do
estado dos ímpios na volta de Cristo, no dia do julgamento. Alguns demonstravam
grande agonia - outros caiam no chão como mortos".
Este
movimento prosseguiu durante semanas, permanecendo estável e aprofundando-se
cada vez mais. William, que pretendia voltar a Dundee naquele dia, ainda pregou
mais três vezes naquele mesmo dia, e nos dias seguintes. Mal acabava a primeira
pregação já em seguida começava o outro. Às vezes ia até tarde da noite,
e assim se sucedia no dia seguinte. Esse temor e emoção tomou conta da cidade e
arredores, lembrando um pouco o avivamento que se deu nos EUA sob Jonathan
Edwards. O tema das conversas era sobre as coisas do Senhor. Era
verdadeiramente o céu na terra, na região de Kilsyth. Toda a Escócia ouviu a
grande nova com alegria, e centenas de intercessores por avivamento
literalmente saltaram de alegria.
O Reavivamento em Dundee e Perth
Ao retornar para Dundee em Agosto de 1839 William encontrou o mesmo
cenário que havia deixado em Kilsyth. Se sua oração antes era cheia de poder,
agora também tinha se tornada mais profunda. Robert McCheyne estava doente,
quase à morte, no Líbano e William se colocou em oração junto à sua
congregação em Dundee por McCheyne. No final da sua primeira pregação em
Dundee, William fez um breve relato do que estava acontecendo em Kilsyth e
chamou os não-convertidos a deixar a sua condição de pecado. Dr. Andrew Bonar
narrou estes fatos assim: "de repente o poder de Deus pareceu descer, e
todos começaram a chorar de grande emoção - a mão de Deus se revelou neste dia
e nas semanas seguintes".
Tão grande era a fome pela Palavra que Burns pediu ajuda a outros
pregadores. Ele dificilmente encontrava tempo para comer ou dormir, porque a
multidão seguia-o por onde ele fosse em Dundee. Era claro para todos que o
jovem ministro tinha construído seu ministério em Kilsyth e Dundee sobre o
fundamento que tinha deixado seu pai e McCheyne, mas também era claro que o
fator principal do avivamento era o extraordinário poder de Burns na pregação e
na oração. Como John Welsh, ele gastava noites em intercessão agonizante pelas
almas dos perdidos. "Oh! Suas orações! Eu não consigo fugir delas" -
disse certa vez um seu ouvinte.
"Com a calma da exaltação, com santa persuasão, e com riqueza
suprema na exposição, ele podia mostrar a glória de Cristo e as maravilhas da
redenção; então, com um brilho espiritual, terminava com uma visão que parecia
que os céus se abriam para que eles o vissem, e centenas de corações se
prostrassem em adoração, num senso de presença inefável de Deus",
palavras estas ditas por outro ouvinte.
Em seguida, retornou McCheyne de sua viagem à terra santa, e juntou-se a
William na tarefa de fortalecer os jovens convertidos na fé e levar mais almas
à Cristo.
Convites de toda a Escócia chegavam ao jovem William, mas ele somente
podia ir onde o Espírito Santo de Deus o enviasse. A próxima cena de poderosa
visitação do Espírito Santo foi na cidade de Perth. William foi ali para pregar
por três dias e acabou ficando três meses. Ele mesmo descreve o que aconteceu
ali: " A igreja era uma massa sólida de vida, mas vida física e não
espiritual. Eu tinha clara direção para falar baseado em Dt. 32:35 em meu
sermão: "Minha é a vingança e a recompensa, ao tempo em que resvalar o seu
pé; porque o dia da sua ruína está próximo, e as coisas que lhes hão de suceder
se apressam a chegar". Eu tomei como base o sermão de Jonathan Edwards
. Durante a pregação, estas afirmações foram acompanhadas de uma medida
extraordinária do Espírito Santo, e o sentimento dos ouvintes se tornou tão
intenso que, quando um homem nas galerias exclamou audivelmente, "Senhor
Jesus, venha e me salve", a grande massa da congregação deu um audível
sinal de emoção ao chorar em voz alta. Eu imediatamente comecei a repetir, como
em Kilsyth, o convite de Isaías, dizendo que Jesus é o Dom de Deus que traz
libertação. Homens e mulheres literalmente se banharam em choro, em agonia de
alma."
Burns era um grande pregador ao ar livre. Onde os homens se congregavam,
ele estava ali para pregar a eles: no mercado, nas feiras, nos parques. Ele era
o homem dos homens. Centenas podiam ouvi-lo. Algumas vezes, como John Wesley,
às cinco da manha se podia ouvir as suas palavras. Algumas vezes McCheyne
deixava Dundee e se juntava a Burns em seus encontros evangelísticos. Como a
multidão crescia cada vez mais, ele escreveu uma carta à McCheyne para que ele
o ajudasse, e dedicasse a sua vida inteira à evangelização e ao fortalecimento
na fé dos novos convertidos. Nessa
carta ele clamou que McCheyne deixasse a acomodação. "Não espere pela
chamada da igreja. A chamada de Cristo é melhor. Almas estão perecendo. Vamos
socorrê-los. Não me
entenda mal; eu não estou desvalorizando o trabalho pastoral, mas apenas vendo
que a necessidade urgente está aqui". McCheyne respondeu dizendo que
ele estava buscando cumprir o que o Senhor tinha para ele: "Nós não
podemos ver com os olhos dos outros. Temos que cumprir o caminho que o Senhor
tem para nós - isto é o mais importante. O trabalho de Deus pode florescer por
nós, se ele florescer mais ricamente em nós". Pouco tempo depois o
Senhor o chamaria para a glória (1843).
William Chalmers Burns pregou em muitas cidades, espalhando o evangelho
por toda a Escócia. Muitos livros podiam ser escritos demonstrando o caráter e
o ministério dele. Mas creio que até aqui temos uma idéia de como era esse
grande homem de Deus. Ele se tornou conhecido posteriormente porque foi um
missionário ousado na China.
Do Canadá para a China
De
Dundee, o Espirito Santo chamou Burns para ir ao Canadá, onde permaneceu dois
anos, pregando em Montreal e outras cidades. Sofreu muito nas mãos dos
romanistas, que dificultaram o evangelho; Mesmo com o trabalho intenso, não
negligenciava a comunhão pessoal com Deus: "Eu tenho algumas suaves e
doces visões de Cristo assentado ao lado direito do Pai".
Não
devemos nos esquecer que a chamada original de Burns era para ir pregar o
evangelho em terras distantes, aos pagãos. Lembre-se que ele se ofereceu à
Sociedade Missionária da Universidade de Glasgow para ir à Índia, mas eles não
puderam enviá-lo. Quando foi chamado ele estava no meio do reavivamento em seu
país, e então não poderia deixá-lo; porém ele não se esqueceu do seu chamado.
Agora no Canadá, ele sentiu que havia chegado o tempo de ir pregar a mensagem
onde ainda não havia sido proclamada. Orava: "Óh, abençoado Espírito
Santo, que terra pagã Tu queres me enviar agora?". Mais tarde veio uma
carta de Londres, perguntando aos irmãos na Escócia se podiam recomendar algum
missionário para ser enviado à China. Quando Burns tomou conhecimento da carta
, entendeu ser este um sinal enviado por Deus para o seu chamado. Ele escreveu
ao comitê em Londres: "Eu estou pronto a ser queimado pelo Reino de Deus.
Eu estou pronto a sofrer qualquer dificuldade, se eu, por qualquer meio, possa
salvar alguns. O desejo do meu coração é tornar conhecido meu glorioso Redentor
para aqueles que nunca ouviram falar dele". O comitê em Londres
recebeu a sua carta com grande entusiasmo, já que eles conheciam o sofrimento
de Burns com os Romanistas na Escócia e Canadá, e sabiam que, se há um homem na
Escócia que tinha paixão pelas almas, esse homem era William Chalmer Burns.
Então,
após viver situações que lembravam o Pentecostes, esse ardente apóstolo foi
abruptamente transferido para uma terra que não gosta de estrangeiros - uma
terra de ídolos e adoradores pagãos. Ao invés de pregar para milhares, agora
pregava para dois ou três. Tinha nesta ocasião a idade de 31 anos. Eu creio que
nenhum outro episódio mostra tão claramente o caráter deste homem, como o fato
de deixar popularidade, prestígio, saúde e o amor dos amigos e pelos amigos em
função das almas perdidas num país distante. Perguntado pelo Sínodo
quando ele estaria pronto para ir `a China, respondeu:
"AGORA!", mesmo sem precisar voltar à Escócia . Ele foi o primeiro
missionário Inglês à China enviado pela igreja Presbiteriana.
Enquanto
esperava a saída do navio em Junho, ele pregava diariamente na Inglaterra. Seus
pais, seu irmão Isley e sua esposa vieram para visitá-lo e permaneceram até que
ele deixou à Inglaterra. A sua saída da Inglaterra foi repentina. O navio à
vela - The Mary Bannatyne - dependia dos ventos favoráveis para partir, então
não havia dia marcado para sair. Num dia, ao anoitecer, após pregar na igreja
escocesa de Woolwich, perto de Londres, veio a notícia de que o navio ia partir
e o esperava em Portsmouth. William rapidamente partiu de trem até o local e
embarcou no navio para a longa viagem. O último sinal que seu irmão -
Isley - conseguiu ver de William foi ele
estar em pé, junto ao convés, com a Bíblia levantada na mão direita, apontando
para ela com a esquerda, "como se", disse Isley, "para
dizer que ali estava a única coisa digna de viver em todo o mundo, e que a
Bíblia era o meio de união eterna entre aquele que parte e aquele que fica. O
navio ia desaparecendo na escuridão...
Eu continuava a ver a William, na mesma atitude, mesmo que agora desaparecido
totalmente na escuridão. Eu fui separado, não somente de um irmão, mas de um
verdadeiro santo de Deus".
William
embarcou, esperando nunca mais ver seus amados e sua amada Escócia novamente.
Seu
diário durante a viagem é extremamente interessante. Era Junho quando deixou a
Inglaterra e não chegaria a Hong Kong antes de Novembro. Durante este tempo
William continuou como tinha começado, orando pela sua família em sua cabine ao
amanhecer e ao anoitecer, e, quando o capitão permitia, em outras partes do
navio. Estudava o chinês, usando o Novo Testamento em chinês do Dr. Morrinson,
tomando conhecimento desta língua, e indo além de suas próprias expectativas,
aprendendo rapidamente esta nova língua. Numa noite de Sábado, perto da ilha de
Luzon, abateu-se-lhes uma violenta tempestade, a ponto de romper o mastro
principal. A tempestade durou até Segunda-feira, deixando o barco à deriva, ao
sabor das ondas, levando-o em direção da costa perigosamente. Porém, inesperadamente,
o vento mudou de direção e os livrou. Mais tarde William acrescentou que
acreditara ser esta tempestade para o bem espiritual de muitos dos seus
companheiros de viagem. Certamente eles ficaram impressionados com a fé, a
firmeza na verdade de Deus que William demonstrou neste período. O capitão
permitiu que realizasse cultos de adoração no barco. Como ele disse, para ele
morrer ou viver era algo de pouco valor , mas sim o salvar almas. E era isso
que ele buscava fazer em qualquer circunstância.
A China
Burns trabalhou em Canton onde ele tentou pregar em Chinês para
prisioneiros em uma jaula comum. Dali ele foi para a ilha de Amoy e traduziu
uma edição do "O Peregrino" e um livro de hinos. Depois, de cidade em
cidade, ele ia distribuindo literatura evangelística e pregando ao ar livre.
Durante uma destas viagens, ele parou em Pechuia, uma cidade central e
comercial muito importante. Ali um avivamento começou, e foi tal que relembrava
o avivamento que ele presenciou na Escócia. O povo voltava com grande comoção
para os caminhos de Deus, e os chineses destruíam seus ídolos e símbolos
ancestrais - objetos amados pelos chineses como símbolo de veneração. A
simplicidade e o zelo destes novos convertidos literalmente estontearam a
comunidade e o movimento alastrou-se espontaneamente como fogo, de vila em
vila.
Os últimos dias de um santo
Com exceção de uma curta visita à Escócia sete anos mais tarde, em 1854,
o resto de seus dias foram gastos na China. Ali, vestido como um nativo
daquele país, e somente com companhia chinesa ele procurou tornar
conhecido as verdades salvadoras do seu glorioso evangelho. Foi em Shangai que
Burns entrou em contato com outro homem de Deus, Hudson Taylor. Taylor percebeu
rapidamente que ali estava um pioneiro no evangelho, um homem único em termos
de piedade e amor pelas almas. Mais e mais vezes Taylor comentava em suas
audiências na Inglaterra e Estados Unidos como sua própria vida havia sido
influenciada e enriquecida com a vida de William Chalmers Burns. Taylor assim
escreveu a respeito de Burns: "Aqueles meses felizes foram de uma alegria
e conforto inexplicáveis para mim. Seu amor pela Palavra era admirável, e sua
santidade, vida de reverência e constante comunhão com Deus fez crescer nossa
comunhão ao ponto do meu coração ficar profundamente impressionado com ele. Sua
participação nos avivamentos e suas perseguições no Canadá, Dublin e no sudeste
da China foram instrutivos tanto quanto interessantes. Com um verdadeiro
discernimento espiritual ele geralmente apontava para os propósitos de Deus nas
dificuldades, com isso Deus estava dando as nossas vidas um grande valor,
pois participamos nos planos de Deus. Sua visão especialmente a respeito
do evangelismo como sendo o grande trabalho da Igreja, e a ordem bíblica de
envio de evangelistas como uma ordem perdida, e que devia ser restaurada, foram
pensamentos que estimularam e produziram a conseqüente organização missionária
ao interior da China."
J. Hudson Taylor se tornou o fundador da Missão ao Interior da China, e
pode se dizer com segurança que esse poderoso movimento espiritual teve origem
com William Chalmers Burns, pois ele influenciou grandemente a vida e o
pensamento do fundador.
Em 1867, William foi para Nieuchwang, na esperança de estabelecer uma missão na Manchuria. Sua saúde, porém, estava gradualmente deteriorando, e, em janeiro de 1868 ele teve uma queda abrupta da temperatura e em seguida uma febre alta, da qual ele nunca se recuperou. Um santo do lugar, chamado Wanghwang, que era seu auxiliar no ministério, cuidava dele com ternura. "às vezes ele sorria" disse Wanghwang, e eu perguntava porquê. Ele respondia: "Deus está falando comigo agora, e eu estou extremamente feliz" Seus últimos pensamentos forma a respeito do cuidado com os crentes chineses. Dizia: "quando eu for, vocês não terão mais um missionário aqui. Vocês precisam orar muito, pensar e ler muito, só então vocês poderão obter sabedoria. Aleluia! Eu encontrarei vocês no Céus".
Em 1867, William foi para Nieuchwang, na esperança de estabelecer uma missão na Manchuria. Sua saúde, porém, estava gradualmente deteriorando, e, em janeiro de 1868 ele teve uma queda abrupta da temperatura e em seguida uma febre alta, da qual ele nunca se recuperou. Um santo do lugar, chamado Wanghwang, que era seu auxiliar no ministério, cuidava dele com ternura. "às vezes ele sorria" disse Wanghwang, e eu perguntava porquê. Ele respondia: "Deus está falando comigo agora, e eu estou extremamente feliz" Seus últimos pensamentos forma a respeito do cuidado com os crentes chineses. Dizia: "quando eu for, vocês não terão mais um missionário aqui. Vocês precisam orar muito, pensar e ler muito, só então vocês poderão obter sabedoria. Aleluia! Eu encontrarei vocês no Céus".
O pai de William tinha sido chamado para a glória a alguns anos antes,
mas sua mãe ainda estava viva, e enquanto ainda tinha forças ele escreveu para
ela uma poucas linhas de conforto e de despedida.
Um irmão missionário estava com Burns quando o fim chegou. Ele leu para ele o salmo favorito de todos os filhos da Escócia . No silencio patético daquele quarto solitário, a voz da leitor foi abruptamente interrompido com essas solenes palavras, "SIM, AINDA QUE EU ANDE PELO VALE..."; e a voz de Burns se tornou mais forte e completou o Salmo para ele. Então após ler o décimo quarto capítulo do evangelho de João e repetindo a oração do Senhor, William juntou todas as forças que ainda tinha, e com grande alegria, juntou-se na final e triunfante nota, "PARA ELE SEJA O REINO, O PODER E A GLORIA...", a voz falhou, a face calma se tornou acinzentada. O fim logo chegou.
Um irmão missionário estava com Burns quando o fim chegou. Ele leu para ele o salmo favorito de todos os filhos da Escócia . No silencio patético daquele quarto solitário, a voz da leitor foi abruptamente interrompido com essas solenes palavras, "SIM, AINDA QUE EU ANDE PELO VALE..."; e a voz de Burns se tornou mais forte e completou o Salmo para ele. Então após ler o décimo quarto capítulo do evangelho de João e repetindo a oração do Senhor, William juntou todas as forças que ainda tinha, e com grande alegria, juntou-se na final e triunfante nota, "PARA ELE SEJA O REINO, O PODER E A GLORIA...", a voz falhou, a face calma se tornou acinzentada. O fim logo chegou.
O corpo foi sepultado num cemitério para estrangeiros em Nieuchwang, mas
depois foi removido para um novo lugar, no qual se lê a seguinte inscrição:
REV. WILLIAM C. BURNS, M. A.
Missionário para os chineses.
Nascido em Dundee, Escócia,
em 1º de Abril de 1815.
Chegou à China em Novembro de 1847.
Morreu em Nieuchwang, em 4 de Abril de 1868.
Missionário para os chineses.
Nascido em Dundee, Escócia,
em 1º de Abril de 1815.
Chegou à China em Novembro de 1847.
Morreu em Nieuchwang, em 4 de Abril de 1868.
"Você conhece William Burns?", um missionário foi perguntado.
"Se eu conheço?" disse o missionário, "toda a China o conhece e
sabe que ele foi o homem mais santo que aqui viveu!".
Que vida! Que vida vivida para Deus! Certamente a vida deste crente é um
estímulo para todos nós nestes dias fáceis, dias de luxúria e egocentrismo
disfarçado.
A antítese apostólica resume bem a vida de Burns: "COMO NÃO TENDO
NADA, E POSSUINDO TODAS AS COISAS".
"Tão vividamente eu relembro os momentos, a poucos anos
atrás", escreveu seu irmão e biógrafo, "quando ele retornou da China,
ele tinha consigo apenas algumas páginas impressas em Chinês, uma bíblia
inglesa e uma chinesa, uma roupa chinesa simples, um ou dois pequenos livros,
uma lanterna chinesa e uma bandeira azul escrito: "O barco do
evangelho". Certamente ele era um homem muito, muito pobre", disse
seu irmão Isley.
Sim, isto está absolutamente correto, e ao mesmo tempo absolutamente
falso. Desde que Cristo estava com ele, e ele viveu somente para Ele e para
torná-lO conhecido, ele era rico acima de toda a imaginação. Uma vez ele disse:
"estar em união com Cristo, que é o Leão de Israel, e caminhar muito
próximo a Ele, que é Sol e Escudo - é tudo o que um pobre pecador necessita
para ser feliz entre este mundo aqui e o Céus". Que assim seja
conosco também.
Fonte: Adaptado
e resumido por Valdir Noll a partir do livro William Chalmers Burns -
James A. Stewart - Editora Lamplighter Publications.
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