“vou me apressar, e não me demorar em guardar os Seus mandamentos”.
A longa vida e a santidade simples do caráter de Robert Cleaver Chapman”, escreveu o historiador Roy Coad, “fizeram-no notável patriarca e conselheiro dos Irmãos Abertos do século 19. É difícil estudar a vida de algum homem proeminente entre eles, durante alguma parte do século, que não foi influenciado de alguma maneira por este homem excepcionalmente piedoso e humilde. Barnstaple tornou-se a Meca dos Irmãos”.
Nascido na Dinamarca, em 1803, de uma rica família comerciante inglesa, Robert Cleaver Chapman cedo revelou uma aptidão por línguas e uma paixão pela literatura. A família Chapman tinha ligações estreitas tanto com anglicanos quanto com quakers. Aos 15 anos, ele foi a Londres para estudar Direito. Aos 20 anos, o popular e honrado jovem havia começado a praticar esta profissão.
Naquele mesmo ano, ele ouviu um pastor independente, Harrington Evans, pregar o Evangelho e confiou em Cristo para a salvação. Logo depois, Chapman pediu que Evans o batizasse. Evans achou que ele deveria esperar, mas Chapman insistiu: “vou me apressar, e não me demorar em guardar os Seus mandamentos”.
Os princípios que Harrington Evans ensinou influenciaram grandemente Chapman. Entre eles estão: 1) um alto conceito da autoridade das Escrituras; 2) recusa em fazer do batismo dos crentes uma prova de comunhão da igreja; 3) observância semanal da Ceia do Senhor; 4) um alto padrão de santidade que envolvia viver diferentemente dos incrédulos; e 5) um ardente desejo da união cristã.
Devido a seu testemunho intrépido, Chapman foi excluído pela família e amigos das ricas festas em Londres, no elegante bairro de West End. Então ele começou a visitar os mais pobres de Londres, mesmo depois de receber uma substancial herança.
Sua prática de Advocacia prosperava, mas Chapman ficava desiludido quando via cristãos levando outros cristãos à corte. Ele não compreendia como podiam tão facilmente colocar de lado proibições específicas contra as demandas de I Coríntios 6.
DO OESTE PARA BARNSTAPLE
Em 1832, Thomas Pugsley convidou Chapman para visitar Barnstaple, no oeste da Inglaterra. Foi provavelmente Pugsley quem apresentou Chapman a George Müller e os dois se tornaram amigos íntimos por toda a vida. Logo, a pequena e rigorosa congregação Batista na Capela Ebenezer – que havia demitido quatro ministros diferentes em nove anos – convidou Chapman para ser seu pastor.
Chapman orou, deu sua herança de presente e aceitou o convite. Quando os amigos o preveniam de que a sua pregação era muito confusa, ele respondia, “Existem muitos que pregam a Cristo, mas não muitos que vivem Cristo. Meu grande alvo será viver Cristo”.
Chapman tinha concordado em ministrar na Capela Ebenezer com uma condição: “que estivesse totalmente livre para ensinar tudo que encontrasse nas Escrituras”. Pacientemente começou ensinando e, ainda que às vezes pudesse ter forçado uma mudança com o voto da maioria, continuava visitando os lares e esperava resignadamente até que todos fossem de um só pensamento.
Quando um irmão visitante insistiu para Chapman adiantar-se sobre certos assuntos doutrinários, ele escreveu que “não poderia forçar a consciência dos meus irmãos e irmãs. E continuei meu ministério, instruindo-os pacientemente na Palavra. Eu sabia que bem poderia ter sustentado o caso com uma grande maioria, mas julguei ser mais agradável a Deus labutar em prol de guiar a todos para uma só mente”. Ele acrescentou depois: “no devido tempo, através da espera e com a bênção de Deus sobre nós, chegamos todos a um mesmo pensamento”.
Seis anos após ter vindo a Barnstaple, ele refletiu sobre esta maneira de fazer as coisas: “o que gozamos agora do amor mútuo e unidade do Espírito aqui, nunca teria sido nossa porção se qualquer outro curso tivesse sido tomado”.
Precisou de um longo tempo para chegar ao culto público na Ceia do Senhor e alguns saíram quando a congregação começou a praticá-lo. A cerimônia consistia de um período devocional aberto a vários irmãos para pregar, orar ou escolher um hino. Em seguida todos que eram nascidos de novo estavam convidados a participar do pão e vinho. Na imediata sequência, Chapman ou algum outro professor reconhecido dava o ensino final. Chapman nunca afirmou que este modelo estava declarado nas Escrituras, mas sentia-o assegurar dois essenciais princípios bíblicos: liberdade para os irmãos tomarem parte da forma como o Espírito os guiasse e o reconhecimento de dons específicos em certos irmãos.
Anos depois, quando aqueles que tinham deixado Ebenézer demandaram pelo edifício, Chapman consultou documentos e descobriu que a congregação atual tinha boas razões legais para ficar com a capela. “Contudo” escreveu depois, “nós lhe demos a capela, da mesma maneira que eu deveria dar meu casaco ao homem que o exigisse. Vocês não ficarão surpresos quando eu contar que logo o Senhor deu-nos uma capela muito melhor. Ele não será devedor ao homem”.
Em agosto de 1836, conversando com Chapman, a ideia de Müller sobre o batismo como exigência para a comunhão mudou, sobretudo com respeito à toda questão da recepção para a comunhão da igreja. Então, sob a influência de Chapman, Müller decidiu que “nós devemos receber todos aqueles que Cristo têm recebido (Rm 15.7), independentemente da medida de graça ou conhecimento que eles tenham alcançado até então”.
O genro de George Müller disse que Chapman foi um dos mais antigos e íntimos amigos de Müller. Chapman estava provavelmente com Müller quando este decidiu começar o trabalho com órfãos.
Em 1843, Müller recebeu fundos para Chapman pagar a construção de uma nova capela na rua Grosvenor, em Barnstaple. Chamada simplesmente “A sala”, logo foi lotada com multidões que vinham ouvir a bem desenvolvida pregação de Chapman. Ele havia aprendido expressar profundas verdades na mais simples linguagem. Pessoas de todas classes sociais aceitavam a Cristo e tornavam-se parte da congregação.
O antigo advogado também gostava muito de pregar ao ar livre. Ele descobriu logo que, em Barnstaple, as pessoas não viriam para a capela ouvir o Evangelho, então resolveu levar o Evangelho para onde as pessoas estavam.
CASA ABERTA A QUALQUER PESSOA
Recusando melhores alojamentos, Chapman ocupava uma cabana em uma área de favela, localizada entre tavernas e casas de jogo. Ele procurava viver próximo daqueles a quem veio servir. Também reconheceu que, para ele, o orgulho era um pecado que o rondava sempre. “Meu orgulho nunca levou a melhor!”, zombaria mais tarde por ter escolhido viver em alojamentos. O jovem solteiro abria sua casa aos visitantes e às vezes uns vinte sentavam-se à sua mesa. O hospedeiro confiava em Deus para as provisões e elas sempre chegavam a tempo para a próxima refeição. Havia grande animação na mesa, mas nenhuma conversa frívola era permitida. Um dos regulamentos da casa proibia alguém de falar mal de uma pessoa ausente – Chapman graciosamente reprovava qualquer um que infringisse esta política.
Chapman insistia em limpar os sapatos de seus hóspedes. “Nos tempos antigos”, ele dizia, “era costume lavar os pés dos santos. Agora que não é mais este o costume, faço o que mais se aproxima disso e limpo os seus sapatos”. (Naqueles dias, as águas de esgoto e o lixo cobriam as ruas e ficavam grudados nos sapatos das pessoas).
As 03:30h da madrugada, Chapman levantava-se para um banho frio. Ele andava 16 quilômetros antes do seu café da manhã às 07:00 horas, depois gastava a manhã sozinho na leitura, meditação e oração. Depois da refeição do meio-dia visitava crentes, fazia evangelismo porta-a-porta, lidava com a correspondência e conversava com hóspedes. Depois do jantar, ele muitas vezes participava de estudos bíblicos em casa. Às 21:00 horas tomava um banho quente e ia para a cama. “Controlado demais”, alguns poderão dizer. Mas isto produziu nele uma riqueza de experiência com Deus e com homens que era inigualada naquele tempo, ou mesmo hoje.
Chapman almejava por alguém para trabalhar com ele em Barnstaple. Ele acreditava que uma equipe, igual a Müller e Craik, podia ensinar melhor os conceitos bíblicos de ministério. Mas era dele a tarefa difícil de esperar os dons aparecerem, então encorajava o uso deles enquanto aqueles que ele havia treinado saiam para outras áreas da Inglaterra ou além-mar, para a Índia e a Espanha. A respeito dos dons espirituais, ele disse que “o mero falar – e o falar para edificar – são coisas diferentes. Enquanto os dotados são algumas vezes vagarosos para exercitar seus dons, os não dotados de maneira nenhuma são igualmente reticentes!”.
CONSELHEIRO PARA MUITOS.
A discórdia estava se formando em Plymouth. Numa tentativa de fazer uma reconciliação entre J. N. Darby e B. W. Newton, Chapman presidiu uma reunião em Londres, em 1848. Tregelles referiu-se a ele como “o chefe do encontro” e disse que sob a sua influência, a atmosfera era “toda de autojulgamento e humilhação”. Chapman também assistiu outros encontros de líderes durante o tempo de tribulação e sempre insistiu no amor, na tolerância e na unidade em Cristo.
Quando Chapman falava com um irmão que considerava os assuntos de forma diferente dele, ele comentava que ambos “julgavam um motivo de auto-humilhação o não poderem concordar inteiramente” e sentia que isso não era “razão para conflito e separação. Deus logo faria de Seus filhos um só, se eles fixassem sempre seus rostos, como o querubim, na direção do trono da graça”.
Mais tarde, depois dos confrontos de Plymouth, Chapman encontrou-se com outros líderes em Bath para discutir o transtorno. Ali, Chapman chamou a atenção de J. N. Darby: “você deveria ter esperado bem mais tempo antes de se separar”. “Eu esperei seis meses”, respondeu Darby. “Se tivesse sido em Barnstaple, nós teríamos esperado seis anos”, disse Chapman.
Em outra ocasião, Chapman disse aos seus amigos: “é melhor perder a sua carteira do que a sua calma!” Disse também: “quando a intercessão mútua toma o lugar da acusação mútua, logo as diferenças e as dificuldades dos irmãos são vencidas”.
Quando professores e assembleias foram forçados a escolher partidos, depois da controvérsia de Bethesda, Chapman tornou-se um líder entre os Irmãos Abertos ou Independentes. Henry Pickering escreveu que “seu coração se abriu para todos que são de Cristo, e assim, qualquer que fosse o nome que levassem, eram bem-vindos por ele. Da mesma forma, suas intercessões abrangiam toda Igreja de Deus”. Os escritos e o espírito de Chapman foram admirados por muitos não pertencentes aos Irmãos, incluindo C. H. Spurgeon.
“Chapman lamentava a amargura e o comportamento temerário que eram sustentados algumas vezes no nome de Cristo”, escreveu seu biógrafo Frank Holmes. “Para todos que o ouvissem tinha palavras aconselhando controle. Seu receio constante era que, buscando manter a verdade, homens agissem na carne e contrários às Escrituras”.
Ele era chamado a muitas partes para aconselhar assembleias problemáticas. Este era seu dom particular: lidar com situações e pessoas difíceis.
Anos depois, J. N. Darby ouviu por acaso algum dos seus partidários exclusivistas criticando Chapman. “Deixem Robert Chapman em paz”, ele insistiu. “Nós falamos sobre os lugares celestiais, mas ele vive neles”.
PREGADOR E PASTOR
Neste tempo, mais de 800 pessoas ouviam Chapman pregar aos domingos. Seus sermões completos às vezes eram impressos no jornal local.
Ele sempre encorajava pessoas jovens porque acreditava que podia aprender alguma coisa de crentes mais jovens. Embora mais idoso, não se esquecia de que havia praticado um ministério completo antes de ter 29 anos.
Quando Chapman recebeu a notícia de que seu querido amigo George Müller havia falecido (1898), sentou-se por cinco minutos com a cabeça curvada. Depois disse, “não é para qualquer homem julgar seu Mestre, mas eu fui salvo cinco anos antes de George Müller. Acho que deveria ter ido primeiro”.
Chapman continuou partilhando do púlpito de Barnstaple até os 98 anos. Os ouvintes diziam que “suas palavras sempre foram de peso, mas sua influência – a própria atmosfera que sua presença criava – era ainda mais poderosa”.
Falta espaço para contar da sua viagem evangelística de 960 quilômetros, sozinho, através da Irlanda. Ou do seu repetido trabalho missionário pioneiro na Espanha. Ou dos missionários que inspirou e que fizeram grande trabalho na Índia. Ou dos 165 sublimes hinos que compôs. Esses hinos demonstram o seu interesse na cruz de Cristo, especialmente o trabalho da cruz no caráter cristão.
Em 2 de junho de 1902, em seu centésimo ano, ele sofreu uma paralisia parcial. Em 12 de junho, Robert Cleaver Chapman, que ensinou às pessoas o que significa amar, entrou no repouso do seu Senhor.
LIÇÕES PRINCIPAIS
No prefácio para a segunda edição da sua biografia sobre Chapman, Frank Holmes descreveu as lições que aprendeu enquanto fazia pesquisas para o livro:
“1) Deus ainda está ativo e responde a fé; 2) ainda é possível seguir a prática do Novo Testamento na adoração e serviço; 3) nenhuma igreja local estaria tão ordenada a impedir o completo e regular exercício de dons por um pastor ou evangelista eu seu meio (se isto tivesse sido feito em Barnstaple, o ministério de Chapman teria sido impossível); 4) o amor nunca falha”.
Então Holmes desejou que sua biografia de Robert Cleaver Chapman “fosse usada para inquietar as águas do tradicionalismo, com resultados saudáveis”.
Nascido na Dinamarca, em 1803, de uma rica família comerciante inglesa, Robert Cleaver Chapman cedo revelou uma aptidão por línguas e uma paixão pela literatura. A família Chapman tinha ligações estreitas tanto com anglicanos quanto com quakers. Aos 15 anos, ele foi a Londres para estudar Direito. Aos 20 anos, o popular e honrado jovem havia começado a praticar esta profissão.
Naquele mesmo ano, ele ouviu um pastor independente, Harrington Evans, pregar o Evangelho e confiou em Cristo para a salvação. Logo depois, Chapman pediu que Evans o batizasse. Evans achou que ele deveria esperar, mas Chapman insistiu: “vou me apressar, e não me demorar em guardar os Seus mandamentos”.
Os princípios que Harrington Evans ensinou influenciaram grandemente Chapman. Entre eles estão: 1) um alto conceito da autoridade das Escrituras; 2) recusa em fazer do batismo dos crentes uma prova de comunhão da igreja; 3) observância semanal da Ceia do Senhor; 4) um alto padrão de santidade que envolvia viver diferentemente dos incrédulos; e 5) um ardente desejo da união cristã.
Devido a seu testemunho intrépido, Chapman foi excluído pela família e amigos das ricas festas em Londres, no elegante bairro de West End. Então ele começou a visitar os mais pobres de Londres, mesmo depois de receber uma substancial herança.
Sua prática de Advocacia prosperava, mas Chapman ficava desiludido quando via cristãos levando outros cristãos à corte. Ele não compreendia como podiam tão facilmente colocar de lado proibições específicas contra as demandas de I Coríntios 6.
DO OESTE PARA BARNSTAPLE
Em 1832, Thomas Pugsley convidou Chapman para visitar Barnstaple, no oeste da Inglaterra. Foi provavelmente Pugsley quem apresentou Chapman a George Müller e os dois se tornaram amigos íntimos por toda a vida. Logo, a pequena e rigorosa congregação Batista na Capela Ebenezer – que havia demitido quatro ministros diferentes em nove anos – convidou Chapman para ser seu pastor.
Chapman orou, deu sua herança de presente e aceitou o convite. Quando os amigos o preveniam de que a sua pregação era muito confusa, ele respondia, “Existem muitos que pregam a Cristo, mas não muitos que vivem Cristo. Meu grande alvo será viver Cristo”.
Chapman tinha concordado em ministrar na Capela Ebenezer com uma condição: “que estivesse totalmente livre para ensinar tudo que encontrasse nas Escrituras”. Pacientemente começou ensinando e, ainda que às vezes pudesse ter forçado uma mudança com o voto da maioria, continuava visitando os lares e esperava resignadamente até que todos fossem de um só pensamento.
Quando um irmão visitante insistiu para Chapman adiantar-se sobre certos assuntos doutrinários, ele escreveu que “não poderia forçar a consciência dos meus irmãos e irmãs. E continuei meu ministério, instruindo-os pacientemente na Palavra. Eu sabia que bem poderia ter sustentado o caso com uma grande maioria, mas julguei ser mais agradável a Deus labutar em prol de guiar a todos para uma só mente”. Ele acrescentou depois: “no devido tempo, através da espera e com a bênção de Deus sobre nós, chegamos todos a um mesmo pensamento”.
Seis anos após ter vindo a Barnstaple, ele refletiu sobre esta maneira de fazer as coisas: “o que gozamos agora do amor mútuo e unidade do Espírito aqui, nunca teria sido nossa porção se qualquer outro curso tivesse sido tomado”.
Precisou de um longo tempo para chegar ao culto público na Ceia do Senhor e alguns saíram quando a congregação começou a praticá-lo. A cerimônia consistia de um período devocional aberto a vários irmãos para pregar, orar ou escolher um hino. Em seguida todos que eram nascidos de novo estavam convidados a participar do pão e vinho. Na imediata sequência, Chapman ou algum outro professor reconhecido dava o ensino final. Chapman nunca afirmou que este modelo estava declarado nas Escrituras, mas sentia-o assegurar dois essenciais princípios bíblicos: liberdade para os irmãos tomarem parte da forma como o Espírito os guiasse e o reconhecimento de dons específicos em certos irmãos.
Anos depois, quando aqueles que tinham deixado Ebenézer demandaram pelo edifício, Chapman consultou documentos e descobriu que a congregação atual tinha boas razões legais para ficar com a capela. “Contudo” escreveu depois, “nós lhe demos a capela, da mesma maneira que eu deveria dar meu casaco ao homem que o exigisse. Vocês não ficarão surpresos quando eu contar que logo o Senhor deu-nos uma capela muito melhor. Ele não será devedor ao homem”.
Em agosto de 1836, conversando com Chapman, a ideia de Müller sobre o batismo como exigência para a comunhão mudou, sobretudo com respeito à toda questão da recepção para a comunhão da igreja. Então, sob a influência de Chapman, Müller decidiu que “nós devemos receber todos aqueles que Cristo têm recebido (Rm 15.7), independentemente da medida de graça ou conhecimento que eles tenham alcançado até então”.
O genro de George Müller disse que Chapman foi um dos mais antigos e íntimos amigos de Müller. Chapman estava provavelmente com Müller quando este decidiu começar o trabalho com órfãos.
Em 1843, Müller recebeu fundos para Chapman pagar a construção de uma nova capela na rua Grosvenor, em Barnstaple. Chamada simplesmente “A sala”, logo foi lotada com multidões que vinham ouvir a bem desenvolvida pregação de Chapman. Ele havia aprendido expressar profundas verdades na mais simples linguagem. Pessoas de todas classes sociais aceitavam a Cristo e tornavam-se parte da congregação.
O antigo advogado também gostava muito de pregar ao ar livre. Ele descobriu logo que, em Barnstaple, as pessoas não viriam para a capela ouvir o Evangelho, então resolveu levar o Evangelho para onde as pessoas estavam.
CASA ABERTA A QUALQUER PESSOA
Recusando melhores alojamentos, Chapman ocupava uma cabana em uma área de favela, localizada entre tavernas e casas de jogo. Ele procurava viver próximo daqueles a quem veio servir. Também reconheceu que, para ele, o orgulho era um pecado que o rondava sempre. “Meu orgulho nunca levou a melhor!”, zombaria mais tarde por ter escolhido viver em alojamentos. O jovem solteiro abria sua casa aos visitantes e às vezes uns vinte sentavam-se à sua mesa. O hospedeiro confiava em Deus para as provisões e elas sempre chegavam a tempo para a próxima refeição. Havia grande animação na mesa, mas nenhuma conversa frívola era permitida. Um dos regulamentos da casa proibia alguém de falar mal de uma pessoa ausente – Chapman graciosamente reprovava qualquer um que infringisse esta política.
Chapman insistia em limpar os sapatos de seus hóspedes. “Nos tempos antigos”, ele dizia, “era costume lavar os pés dos santos. Agora que não é mais este o costume, faço o que mais se aproxima disso e limpo os seus sapatos”. (Naqueles dias, as águas de esgoto e o lixo cobriam as ruas e ficavam grudados nos sapatos das pessoas).
As 03:30h da madrugada, Chapman levantava-se para um banho frio. Ele andava 16 quilômetros antes do seu café da manhã às 07:00 horas, depois gastava a manhã sozinho na leitura, meditação e oração. Depois da refeição do meio-dia visitava crentes, fazia evangelismo porta-a-porta, lidava com a correspondência e conversava com hóspedes. Depois do jantar, ele muitas vezes participava de estudos bíblicos em casa. Às 21:00 horas tomava um banho quente e ia para a cama. “Controlado demais”, alguns poderão dizer. Mas isto produziu nele uma riqueza de experiência com Deus e com homens que era inigualada naquele tempo, ou mesmo hoje.
Chapman almejava por alguém para trabalhar com ele em Barnstaple. Ele acreditava que uma equipe, igual a Müller e Craik, podia ensinar melhor os conceitos bíblicos de ministério. Mas era dele a tarefa difícil de esperar os dons aparecerem, então encorajava o uso deles enquanto aqueles que ele havia treinado saiam para outras áreas da Inglaterra ou além-mar, para a Índia e a Espanha. A respeito dos dons espirituais, ele disse que “o mero falar – e o falar para edificar – são coisas diferentes. Enquanto os dotados são algumas vezes vagarosos para exercitar seus dons, os não dotados de maneira nenhuma são igualmente reticentes!”.
CONSELHEIRO PARA MUITOS.
A discórdia estava se formando em Plymouth. Numa tentativa de fazer uma reconciliação entre J. N. Darby e B. W. Newton, Chapman presidiu uma reunião em Londres, em 1848. Tregelles referiu-se a ele como “o chefe do encontro” e disse que sob a sua influência, a atmosfera era “toda de autojulgamento e humilhação”. Chapman também assistiu outros encontros de líderes durante o tempo de tribulação e sempre insistiu no amor, na tolerância e na unidade em Cristo.
Quando Chapman falava com um irmão que considerava os assuntos de forma diferente dele, ele comentava que ambos “julgavam um motivo de auto-humilhação o não poderem concordar inteiramente” e sentia que isso não era “razão para conflito e separação. Deus logo faria de Seus filhos um só, se eles fixassem sempre seus rostos, como o querubim, na direção do trono da graça”.
Mais tarde, depois dos confrontos de Plymouth, Chapman encontrou-se com outros líderes em Bath para discutir o transtorno. Ali, Chapman chamou a atenção de J. N. Darby: “você deveria ter esperado bem mais tempo antes de se separar”. “Eu esperei seis meses”, respondeu Darby. “Se tivesse sido em Barnstaple, nós teríamos esperado seis anos”, disse Chapman.
Em outra ocasião, Chapman disse aos seus amigos: “é melhor perder a sua carteira do que a sua calma!” Disse também: “quando a intercessão mútua toma o lugar da acusação mútua, logo as diferenças e as dificuldades dos irmãos são vencidas”.
Quando professores e assembleias foram forçados a escolher partidos, depois da controvérsia de Bethesda, Chapman tornou-se um líder entre os Irmãos Abertos ou Independentes. Henry Pickering escreveu que “seu coração se abriu para todos que são de Cristo, e assim, qualquer que fosse o nome que levassem, eram bem-vindos por ele. Da mesma forma, suas intercessões abrangiam toda Igreja de Deus”. Os escritos e o espírito de Chapman foram admirados por muitos não pertencentes aos Irmãos, incluindo C. H. Spurgeon.
“Chapman lamentava a amargura e o comportamento temerário que eram sustentados algumas vezes no nome de Cristo”, escreveu seu biógrafo Frank Holmes. “Para todos que o ouvissem tinha palavras aconselhando controle. Seu receio constante era que, buscando manter a verdade, homens agissem na carne e contrários às Escrituras”.
Ele era chamado a muitas partes para aconselhar assembleias problemáticas. Este era seu dom particular: lidar com situações e pessoas difíceis.
Anos depois, J. N. Darby ouviu por acaso algum dos seus partidários exclusivistas criticando Chapman. “Deixem Robert Chapman em paz”, ele insistiu. “Nós falamos sobre os lugares celestiais, mas ele vive neles”.
PREGADOR E PASTOR
Neste tempo, mais de 800 pessoas ouviam Chapman pregar aos domingos. Seus sermões completos às vezes eram impressos no jornal local.
Ele sempre encorajava pessoas jovens porque acreditava que podia aprender alguma coisa de crentes mais jovens. Embora mais idoso, não se esquecia de que havia praticado um ministério completo antes de ter 29 anos.
Quando Chapman recebeu a notícia de que seu querido amigo George Müller havia falecido (1898), sentou-se por cinco minutos com a cabeça curvada. Depois disse, “não é para qualquer homem julgar seu Mestre, mas eu fui salvo cinco anos antes de George Müller. Acho que deveria ter ido primeiro”.
Chapman continuou partilhando do púlpito de Barnstaple até os 98 anos. Os ouvintes diziam que “suas palavras sempre foram de peso, mas sua influência – a própria atmosfera que sua presença criava – era ainda mais poderosa”.
Falta espaço para contar da sua viagem evangelística de 960 quilômetros, sozinho, através da Irlanda. Ou do seu repetido trabalho missionário pioneiro na Espanha. Ou dos missionários que inspirou e que fizeram grande trabalho na Índia. Ou dos 165 sublimes hinos que compôs. Esses hinos demonstram o seu interesse na cruz de Cristo, especialmente o trabalho da cruz no caráter cristão.
Em 2 de junho de 1902, em seu centésimo ano, ele sofreu uma paralisia parcial. Em 12 de junho, Robert Cleaver Chapman, que ensinou às pessoas o que significa amar, entrou no repouso do seu Senhor.
LIÇÕES PRINCIPAIS
No prefácio para a segunda edição da sua biografia sobre Chapman, Frank Holmes descreveu as lições que aprendeu enquanto fazia pesquisas para o livro:
“1) Deus ainda está ativo e responde a fé; 2) ainda é possível seguir a prática do Novo Testamento na adoração e serviço; 3) nenhuma igreja local estaria tão ordenada a impedir o completo e regular exercício de dons por um pastor ou evangelista eu seu meio (se isto tivesse sido feito em Barnstaple, o ministério de Chapman teria sido impossível); 4) o amor nunca falha”.
Então Holmes desejou que sua biografia de Robert Cleaver Chapman “fosse usada para inquietar as águas do tradicionalismo, com resultados saudáveis”.
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