Nesta
manhã, nossa porção será esta:“Porque um menino nos nasceu,
um filho se nos deu.” A
frase é dupla, porém, o leitor cuidadoso logo descobrirá uma distinção; é uma
distinção que mostra uma diferença. “Porque um menino nos nasceu,
um filho se nos deu.”
Como
Jesus Cristo foi um menino em Sua natureza humana, nasceu gerado pelo Espírito
Santo, nasceu da Virgem Maria. Nasceu como
qualquer outro homem que tenha vivido sobre a face da terra. Mas como Jesus Cristo é o Filho de Deus, não é nascido, mas
dado, gerado por Seu Pai desde antes de todos os mundos, gerado, não criado, da
mesma natureza que o Pai. A
doutrina da eterna condição de Filho de Deus deve ser recebida como uma verdade
indubitável. Portanto, eu digo que Jesus Cristo, como um Filho, não nos
é nascido, mas dado. Ele é uma dádiva que nos é concedida, “Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que enviou Seu
Filho Unigênito ao mundo.” Ele não nasceu neste mundo como Filho de Deus, mas
foi enviado, ou foi
dado, de tal forma que vocês podem perceber que a distinção é muito sugestiva e
nos transmite verdade em grandes quantidades. “Porque um menino nos nasceu, um
filho se nos deu.”
I. Em
primeiro lugar, é assim? É verdade que um menino nos nasceu, um
Filho nos foi dado? É um fato que uma criança nasceu, nasceu
em Belém, foi envolvido em panos e deitado em uma manjedoura. É um fato também,
que um Filho é dado. Não temos nenhuma pergunta a respeito. O infiel poderá
contestar, mas nós que professamos ser crentes nas Escrituras recebemos como
uma verdade inegável que Deus deu Seu Filho unigênito para ser o Salvador dos
homens. Mas o que se pode questionar é:
este menino nasceu para NÓS? Foi dado para NÓS?
Este é o tema de ávida investigação. Temos
nós um interesse pessoal no menino que nasceu em Belém? Sabemos que Ele é nosso
Salvador? Tem trazido as boas novas para
nós? Sabemos que Ele NOS pertence e
que nós lhe pertencemos? Eu afirmo que este é um tema de
grave e solene investigação.
Pois muitos não sabem como
responder estas perguntas e Isso acontece com muitos cristãos. Parecem ser o
próprio retrato da piedade: sua vida é admirável e sua conversa celestial, mas
sempre estão clamando:
“Amo o Senhor ou não?
Pertenço-Lhe ou não?”
Assim é que os melhores homens se
fazem perguntas enquanto que os piores presumem. Oh, tenho visto homens sobre
cujo eterno destino eu tenho sérias dúvidas, cujas inconsistências de vida eram
palpáveis e flagrantes, que têm tagarelado com relação a sua segura porção em
Israel e sua esperança infalível, como se eles acreditassem que outros seriam
tão facilmente enganados como eles próprios. Agora, que explicação daremos
para esta temeridade? Aprendamo-la da seguinte
ilustração:
Podem
ver um grupo de homens cavalgando ao longo de um caminho estreito em um
penhasco à beira-mar. É um passo muito perigoso, pois o caminho é abrupto e um
tremendo precipício margeia o caminho ao lado esquerdo. Se uma das patas do
cavalo resvalar, despencar-se-ia para a destruição. Vejam quão cautelosamente
os cavaleiros avançam, quão cuidadosamente pisam os cavalos. Mas
observem aquele cavaleiro, com que velocidade avança, como se corresse uma
corrida de obstáculos com Satanás.
Vocês levantam suas mãos ao alto, em uma agonia de terror, tremendo porque a
qualquer momento a pata de seu cavalo pode resvalar e se precipitar ao abismo;
vocês perguntarão: por que esse cavaleiro é tão descuidado? O homem
é um cavaleiro cego que cavalga um cavalo cego. Não podem ver onde estão. Ele
pensa que atravessa um caminho seguro e por isso cavalga tão rápido.
Ou, para variar o quadro, algumas
vezes, quando as pessoas dormem, se levantam e caminham, sobem em certos
lugares onde outros nem pensariam aventurar-se. Alturas de vertigem que
transtornariam nosso cérebro parecem seguras a elas. Assim existem muitos sonâmbulos
espirituais em nosso meio, que pensam que estão despertos. Mas não estão. Sua
mesma presunção em se aventurarem aos altos lugares da confiança em si mesmos
demonstra que são sonâmbulos; não estão despertos, são homens que caminham e falam
em seus sonhos. Então, é realmente um assunto
de sério questionamento para todos os homens que querem ser salvos no fim saber
se este menino nasceu para NÓS, e se este Filho é dado para NÓS?
Agora, vou ajudá-los a responder
à pergunta.
1. Se este menino que reside agora diante dos olhos de sua fé, envolto
em panos na manjedoura de Belém, nasceu para vocês,
então vocês nasceram de novo.
Pois
este menino não nasceu para vocês a menos que vocês tenham nascido para este
menino. Todos os que têm um interesse em Cristo são, na plenitude do
tempo, convertidos pela graça, revividos e renovados. Todos os redimidos não são, todavia, convertidos, mas
o serão. Antes que chegue a hora de sua morte, sua natureza será transformada,
seus pecados serão lavados e passarão da morte para a vida. Se alguém me disser
que Cristo é seu Redentor, embora não tenha experimentado nunca a regeneração,
esse homem expressa algo que desconhece; sua religião é vã e sua esperança é um
engano. Unicamente os homens que são
nascidos de novo podem reclamar que o bebê nascido em Belém lhes pertence.
“Mas,”
dirá alguém, “como posso saber se sou nascido de novo ou não?”
Respondam esta pergunta fazendo
por sua vez outra pergunta: Houve alguma mudança operada pela graça divina dentro
de você? São seus amores totalmente o
contrário do que eram antes? Odeia agora as coisas vãs que uma vez admirou, e busca
essa preciosa pérola que em um tempo depreciava? Foi seu coração inteiramente renovado em seus
objetivos? Pode dizer que a propensão de seu
desejo foi transformada? Vira seu
rosto para Sião e seus pés estão no caminho certo no caminho da graça? Enquanto
seu coração que antes ansiava os profundos sabores do pecado, anseia agora ser
santo?
E enquanto que antes amavas os prazeres do mundo, agora
tornaram-se como desperdícios e escórias para você, pois só amas os prazeres de coisas celestiais e
anseias gozar mais deles na terra, para que esteja preparado para gozar sua
plenitude a seguir.
Foi renovado internamente? Pois,
observa, meu querido leitor, o novo nascimento não consiste em lavar a parte
exterior do copo e do prato, porém, na limpeza do homem interior. É totalmente
em vão por a pedra sobre o sepulcro, lavá-lo até que fique extremamente branco
e adorná-lo com as flores da estação; o sepulcro mesmo deve ser limpo. Os ossos
do morto que jazem nesse ossuário do coração humano devem ser limpos. Não,
devem ser revividos. O coração não deve ser mais uma
tumba de morte, mas um templo de vida.
Assim sucede consigo, leitor? Pois lembre, pode ser muito diferente no exterior, mas
se não for transformado no interior, este menino não nasceu para você.
Mas
faço outra pergunta. Embora o principal assunto da regeneração se encontre no
interior, sem dúvida se manifesta no exterior. Diga-me, então, houve uma mudança em você no exterior? Pensa
que outros que olham para você são forçados a dizer: este homem não é o que
costumava ser? Acaso seus amigos não observam
uma mudança? Não têm rido de você pelo que
consideram ser hipocrisia sua, seu puritanismo, sua severidade? Acredita
agora que, se um anjo o seguisse em sua vida secreta, e seguisse sua pista até
seu aposento, e o visse de joelhos, detectaria algo em você que nunca teria
podido ver antes? Pois escuta, meu querido leitor,
deve haver uma mudança na vida exterior, pois caso contrário não há mudança no
interior.
Em vão me mostra a árvore, e me
diz que a natureza da árvore mudou. Se vejo que está produzindo uvas
silvestres, é ainda um vinhedo silvestre. E se o comparo com as maçãs de Sodoma
e as uvas de Gomorra, é uma árvore maldita e condenada, independentemente de
sua experiência imaginária. A prova
do cristão está na sua vida. Para outras pessoas, a prova de nossa conversão
não é o que sentimos, mas o que fazemos.
Para você mesmo, seus sentimentos poderão ser uma evidência suficiente, mas
para o ministro e para outras pessoas que o julgam, o caminhar exterior é o
guia principal. . Agora, permitam-me observar que a vida exterior de um homem
pode ser muito semelhante a de um cristão, contudo, pode ser que não haja
nenhuma religião nele.
Vocês já viram alguma vez dois atores
na rua com espadas, pretendendo lutar
entre si? Vejam como cortam e cerceiam, e se atacam mutuamente, até se chega
temer que logo se cometa um assassinato. Dão a impressão que estão fazendo a
sério e você chega a pensar em chamar a polícia para que os separe. Veja com
que violência um lança tremendo golpe na cabeça do outro, que seu camarada o
evita com destreza, protegendo-se oportunamente. Só observá-los um minuto para
perceber que todos esses cortes e investidas seguem uma ordem preestabelecida. A luta é fingida, depois de tudo. Não lutam tão
ferozmente como fariam se fossem inimigos verdadeiros.
Da mesma maneira, às vezes, tenho
visto um homem que parece estar muito irado contra o pecado. Mas basta
observá-lo por um pouco de tempo para ver que é unicamente o truque de um
espadachim. Não ataca espontaneamente, não há
intenção em seus golpes; tudo é pretensão, é um mero teatro. Os espadachins, depois que terminam seu espetáculo,
dão-se as mãos e dividem os ganhos que a multidão boquiaberta lhes
proporcionou; e o mesmo faz esse homem, aperta a mão do diabo privadamente e os
dois enganadores compartilham os despojos. O hipócrita e o diabo são depois
de tudo muito bons amigos, e se regozijam mutuamente por seus ganhos: o diabo
olhando maldosamente, porque ganhou a alma do que professa a fé; e o hipócrita
rindo-se, porque ganhou suas riquezas mal adquiridas. Cuidem, então, que sua
vida exterior não seja uma mera encenação, mas que
seu antagonismo contra o pecado seja real e intenso; dêem golpes à direita e à
esquerda, como se verdadeiramente quisessem matar o monstro e jogar seus
membros aos ventos do céu.
há outra maneira pela qual você
pode provar. Não só se transformou seu eu interno e seu eu externo também, mas a
verdadeira raiz e o princípio da sua vida devem ser totalmente novos. Enquanto estamos em pecado, vivemos para o eu, mas quando somos renovados, vivemos para Deus. Enquanto não somos regenerados, nosso princípio é
buscar nosso próprio prazer, nosso próprio avanço; mas o homem que não vive com
uma meta totalmente diferente a essa, não nasceu de novo verdadeiramente.
Transformem os princípios de um homem e terão transformado seus sentimentos,
terão transformado suas ações. Agora, a graça transforma os princípios de um
homem. Coloca o machado na raiz da árvore. Não corta com serra algum galho grosso
nem tenta alterar a seiva; mas proporciona uma nova raiz e nos planta em um
terreno novo. O eu mais íntimo do homem, as profundas rochas de seus princípios
sobre as quais descansa a superfície do terreno de suas ações, a alma de sua
condição humana é inteiramente transformada e ele é uma nova criatura em
Cristo.
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