João
Wycliffe é chamado pelos mais respeitados historiadores de “A Estrela da Manhã da Reforma”.
Sua vida e obra testificam esta menção honrosa. É impossível compreender a
Reforma Protestante sem antes conhecer a vida deste homem.
VIDAWycliffe nasceu, provavelmente, no ano de 1330, em Yorkshire, Inglaterra. foi estudar na Universidade de Oxford, lá ele passou a maior parte da sua vida, estudando e lecionando. Chegou a ser famoso por sua lógica e erudição. Aos 31 anos foi ordenado pela igreja católica, mesmo tendo os estudos como eu principal labor. Em 1372, com 42 anos, recebeu seu doutorado em teologia, já como um reformador doutrinário. Suas convicções e seus escritos causaram inquietação em Oxford. A oposição foi tão forte que em 1381 ele precisou sair de lá, retirando-se para sua paróquia em Lutterworth.
Seu tempo foi extraordinariamente turbulento, não havia nada de pacífico ou sossegado. A Inglaterra estava em guerra com a França. A peste bubônica tinha devastado um
terço da população européia, só em Londres foram mais de cem mil mortes. A
igreja católica estava contaminada por imoralidade e obsessão pelo poder. Foi o
século chamado de “Cativeiro
Babilônico da igreja”, quando o papa residia em Avignon, na França.
No final do século, ocorreu o chamado “Grande
Cisma”, momento em que houve dois papas ao mesmo tempo, e depois
três, cada um alegando ser o papa legítimo e o autêntico sucessor de São Pedro.
Tudo isso certamente cooperou para a inquietação de Wycliffe.
Wycliffe desiludiu-se
profundamente com o poder, as riquezas, a corrupção e os abusos de autoridade
por parte dos líderes da igreja. Portanto, passou a escrever folhetos atacando
as autoridades eclesiásticas. Isto agradou a coroa inglesa, que o colocou a seu
serviço. Ele defendeu os direitos da Inglaterra em manter suas rendas dentro de
suas próprias fronteiras. Insistiu também que se os clérigos não vivessem em um
estado de graça, poderiam ter seus dotes removidos pelo poder civil.
DOUTRINAS
Muitas
foram as contribuições de Wycliffe.
Em primeiro
lugar, atacou a autoridade do papa. “Ele negou o supremo poder papal
da igreja, negou o domínio do papa nas nações, negou o poder do papa em perdoar pecados e,
de fato,
Em segundo lugar, se opôs a
doutrina da transubstanciação, a qual afirma que o pão e o vinho
transformavam-se no corpo e sangue de Cristo no momento da consagração. Ele ensinou a “presença
real” de Cristo no
Sacramento da Ceia do Senhor, algo que mais tarde foi igualmente defendido por Calvino.
Isso causou um tremendo alvoroço e inquietação aos sacerdotes da igreja.
Em terceiro lugar, Wycliffe
entendeu que “as
Sagradas Escrituras são a suprema autoridade para todo cristão e o padrão de fé
e de toda a perfeição humana” (OLSON,
p. 368). Esta afirmação foi extremamente ousada, pois a igreja católica
medieval considerava que a tradição tinha a mesma autoridade das Escrituras, e
que a palavra do papa era a própria Palavra de Deus. Se a autoridade saísse das
mãos do papa e da tradição, todo o sistema eclesiástico romano ruiria.
Mas ele
não parou por aí, afirmou também que as Escrituras são infalíveis, livres de
qualquer erro, interpretam a si mesmas, e que o Espírito Santo ilumina a mente
dos leitores enquanto lêem e estudam. A crença da época era de que apenas a
igreja podia interpretar a Bíblia, tanto que a Escritura permanecia em latim,
sendo entendida apenas pelos sacerdotes.
“Wycliffe
foi o primeiro, em séculos, a ensinar a absoluta autoridade da Escritura, em
contraste com o erro papista sobre a autoridade da igreja” (HANKO,
p. 122).
A TRADUÇÃO DA BÍBLIA
Por entender que a Bíblia pertence ao povo de Deus, este precisa
conhecê-la e estudá-la. Mas o povo não tinha acesso, por não saber o latim e
pela escassez de cópias. Resoluto, Wycliffe se empenhou na primeira tradução do
Novo Testamento para o inglês. Ele não tinha conhecimento das línguas originais
(hebraico, aramaico e grego), portanto usou a versão em latim “Vulgata Latina” para
a tradução.
Obviamente, a tradução para o inglês foi proibida e
condenada pela igreja. Num Concílio posterior à sua morte, foi decretado que
todos os seus escritos fossem queimados.
LOLARDOS
As idéias de Wycliffe ganharam adeptos, que foram chamados de
lolardos, este grupo começou ainda na Universidade de Oxford. Suas doutrinas
eram claras, taxativas e revolucionárias. A Bíblia deveria ser colocada na mão
do povo, na linguagem do povo. Eles entendiam a pregação como a principal
função dos ministros. Condenaram o celibato, alegando que este
produzia imoralidade, aberrações sexuais, abortos e infanticídios. Declararam
que o culto às imagens, as peregrinações, as orações em favor dos mortos e a doutrina
da transubstanciação não passam de pura magia e superstição.
Foram amplamente perseguidos e
queimados. Porém nunca foram completamente aniquilados. Mais tarde, os lolardos
misturaram-se com os primeiros protestantes.
O bispo Courtenay foi um perseguidor atroz de Wycliffe e mais tarde dos lolardos, mas o pré-reformador jamais se intimidou diante das ameaças da igreja de Roma. Em 1381 compareceu novamente diante da corte para ser inquirido por suas declarações contrárias às práticas da igreja. Doze de suas teses reafirmavam que a igreja havia abandonado as escrituras e que conduzia erroneamente seus negócios. As autoridades de Oxford instituíram uma corte formada por 12 mestres para tratar da questão da Eucaristia, e sem sequer mencionar o nome de Wycliffe, condenaram os que declaravam que afirmavam que o pão e o vinho continuavam a ser pão e vinho depois de consagrados, e de que o corpo de Cristo se faz presente apenas figuradamente na eucaristia. Wycliffe, apesar de tudo, continuou a pregar e a lecionar na universidade, mas quando apelou para o concílio real o duque de Lancaster posicionou-se contra ele e o proibiu de falar sobre a questão da ceia do Senhor na universidade de Oxford. Ele então declarou: “Creio que no fim a verdade prevalecerá”.
MORTE
Dois anos após o seu
primeiro derrame, Wycliffe teve outro derrame e morreu, em dezembro de 1384. A
igreja não conseguiu condená-lo em vida. No entanto, em 1415, o Concílio de
Constança o condenou por 260 pontos de heresia. Foi este Concílio que ordenou
que seus escritos fossem queimados.
Por ele ter sido enterrado em solo sagrado, em 1428 o papa
ordenou que seus corpo fosse exumado, seus ossos queimados e suas cinzas
espalhadas no rio Swift.
Os historiadores Phillip e David
Schaff, sobre este fato, escreveram:
“Queimaram
seus ossos até as cinzas e as lançaram no rio Swift, um ribeiro vizinho que
corre próximo. E assim o ribeiro levou suas cinzas para o Avon; o Avon para o
Severn; o Severn para os mares estreitos; e estes para o grande oceano. E então
as cinzas de Wycliffe vêm a ser o emblema de sua doutrina que agora é difusa
pelo mundo afora” (LAWSON, p. 464-5).
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