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15 de fevereiro de 2013
BLAISE PASCOAL - O MATEMÁTICO QUE ORAVA
O Deus dos Cristãos
Blaise Pascal
O Deus dos Cristãos não consiste num Deus simplesmente autor das verdades geométricas e da ordem dos elementos; é a parte dos pagãos e dos epicuristas. Não consiste simplesmente num Deus que exerce a sua providência sobre a vida e sobre os bens dos homens, para dar uma feliz sequência de anos aos que o adoram; é a porção dos judeus. Mas, o Deus de Abraão e de Jacob, o Deus dos Cristãos, é um Deus de amor e de consolação: é um Deus que enche a alma e o coração que ele possui; é um Deus que lhes faz sentir interiormente a sua miséria e a sua misericórdia infinita, que se une ao fundo da sua alma; que a enche de humildade, de alegria, de confiança, de amor; que os torna incapazes de outro fim que não seja ele mesmo.
O Deus dos Cristãos é um Deus que faz sentir à alma que ele é o seu único bem; que todo o seu repouso está nele; que não terá alegria senão em amá-lo; e que lhe faz ao mesmo tempo abominar os obstáculos que a retêm e a impedem de o amar com todas as suas forças. O amor-próprio e a concupiscência que a detêm lhe são insuportáveis. Esse Deus lhe faz sentir que ela tem esse fundo de amor-próprio e que só ele pode curá-la.
(Eis o que é conhecer Deus como cristão. Mas, para conhecê-lo dessa maneira, é preciso conhecer ao mesmo tempo a sua miséria, a sua indignidade, e a necessidade que se tem de um mediador para se aproximar de Deus e para se unir a ele. É preciso não separar esses conhecimentos porque, uma vez separados, são não só inúteis, mas nocivos.)
O conhecimento de Deus sem o da nossa miséria faz o orgulho. O conhecimento da nossa miséria sem o de Jesus Cristo faz o desespero. Mas, o conhecimento de Jesus Cristo nos isenta não só do orgulho como do desespero, porque encontramos nele Deus, a nossa miséria e a via única de a reparar.
Podemos conhecer Deus sem conhecer as nossas misérias, ou as nossas misérias sem conhecer Deus; ou mesmo Deus e as nossas misérias, sem conhecer o meio de nos livrarmos das misérias que nos afligem. Mas, não podemos conhecer Jesus Cristo sem conhecer ao mesmo tempo Deus e as nossas misérias, assim como o remédio das nossas misérias; porque Jesus Cristo não é simplesmente Deus, mas um Deus reparador das nossas misérias.
Assim, todos os que procuram Deus fora de Jesus Cristo e que se detêm na natureza, ou não acham nenhuma luz que os satisfaça, ou chegam a formar para si um meio de conhecer Deus e de o servir sem mediador, e por isso caem ou no ateísmo ou no deísmo, que são duas coisas que a religião cristã detesta quase que igualmente.
É preciso, pois, tender unicamente a conhecer Jesus Cristo, uma vez que é só por ele que podemos pretender conhecer Deus de maneira que nos seja útil.
Ele é que é o verdadeiro Deus dos homens, isto é, dos miseráveis e dos pecadores. É o centro de tudo e o objeto de tudo: e quem não o conhece não conhece nada na ordem do mundo, nem em si mesmo. Com efeito, além de só conhecermos Deus por Jesus Cristo, só nos conhecemos a nós mesmos por Jesus Cristo.
Sem Jesus Cristo, é preciso que o homem esteja no vício e na miséria; com Jesus Cristo, o homem fica isento de vício e de miséria. Nele estão toda a nossa virtude e toda a nossa felicidade; fora dele, só há vício, miséria, erros, trevas, desespero, e só vemos obscuridade e confusão na natureza de Deus e em nossa própria natureza.
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