9 de agosto de 2011

John Bunyan, autor de "o peregrino". o livro mais lido no mundo depois da bíblia






"O salário do pecado é a morte" "A alma que pecar, essa morrerá ". Caminhando pelo deserto deste mundo, parei num sítio
onde havia uma caverna (a prisão de Bedford): ali deitei-me para
descansar. Em breve adormeci e tive um sonho. Vi um homem
coberto de andrajos, de pé, e com as costas voltadas para a sua
habitação, tendo sobre os ombros uma pesada carga e nas mãos
um livro".
Faz três séculos que João Bunyan assim iniciou o seu livro,
o Peregrino. Os que conhecem as suas obras literárias podem
testificar de que ele é, de fato, "o Sonhador Imortal" - "Estando
ele morto, ainda fala". Contudo, enquanto miríades de crentes
conhecem o Peregrino, poucos conhecem a história da vida de
oração desse valente pregador.
Bunyan, na sua obra, Graça Abundante ao Principal dos
Pecadores, nos informa que seus pais, apesar de viverem em
extrema pobreza, conseguiram ensiná-lo a ler e escrever. Ele
mesmo se intitulou a si próprio de "o principal dos pecadores";
outros atestam que era "bem-sucedido" até na impiedade.
Contudo, casou-se com uma moça de família cujos membros
eram crentes fervorosos Bunyan era funileiro e, como acontecia
com todos os funileiros, era paupérrimo; ele não possuía um
prato nem uma colher - apenas dois livros: O Caminho do
Homem Simples para os Céus e A Prática da Piedade, obras que
seu pai, ao falecer, lhe deixara. Apesar de Bunyan achar
algumas coisas que lhe interessavam nesses dois livros, somente
nos cultos é que se sentiu convicto de estar no caminho para o
Inferno.
Descobre-se nos seguintes trechos, copiados de Graça
Abundante ao Principal dos Pecadores, como ele lutava em
oração no tempo da sua conversão:
"Veio-me às mãos uma obra dos 'Ranters', livro estimado
por alguns doutores. Não sabendo julgar os méritos dessas
doutrinas, dediquei-me a orar desta maneira: 'Ó Senhor, não sei
julgar entre o erro e a verdade. Senhor, não me abandones por
aceitar ou rejeitar essa doutrina cegamente; se ela for de ti, não
me deixes desprezá-la; se for do Diabo, não me deixes abraçála!'
- e, louvado seja Deus, Ele que me dirigiu a clamar;
desconfiando na minha própria sabedoria, Ele mesmo me guarda
do erro dos 'Ranters'. A Bíblia já era para mim muito preciosa
nesse tempo."
"Enquanto eu me sentia condenado às penas eternas,
admirei-me de como o próximo se esforçava para ganhar bens
terrestres, como se esperasse viver aqui eternamente... Se eu
pudesse ter a certeza da salvação da minha alma, como se
sentiria rico, mesmo que não tivesse mais para comer a não ser
feijão."
"Busquei o Senhor, orando e chorando e do fundo da alma
clamei: 'Ó Senhor, mostra-me, eu te rogo, que me amas com
amor eterno!' Logo que clamei, voltaram para mim as palavras,
como um eco: 'Eu te amo com amor eterno!' Deitei-me para
dormir em paz e, ao acordar, no dia seguinte, a mesma paz
permanecia na minha alma. O Senhor me assegurou: 'Amei-te
enquanto vivias no pecado, amei-te antes, amo-te depois e
amar-te-ei por todo o sempre'."
"Certa manhã, enquanto tremia na oração, porque
pensava que não houvesse palavra de Deus para me sossegar,
Ele me deu esta frase: 'A minha graça te basta'."O meu
entendimento foi tão iluminado como se o Senhor Jesus olhasse
dos céus para mim, pelo telhado da casa, e me dirigisse essas
palavras. Voltei para casa chorando, transbordando de gozo e
humilhado até o pó."
"Contudo, certo dia, enquanto andava no campo, a
consciência inquieta, de repente estas palavras entraram na
minha alma: 'Tua justiça está nos céus.' E parecia que, com os
olhos da alma, via Jesus Cristo à destra de Deus, permanecendo
ali como minha justiça... Vi, além disso, que não é o meu bom
coração que torna a minha justiça melhor, nem que a prejudica;
porque a minha justiça é o próprio Cristo, o mesmo ontem, hoje
e para sempre. As cadeias então caíram-me das pernas; fiquei
livre das angústias; as tentações perderam a força; o horror da
severidade de Deus não mais me perturbava, e voltei para casa
regozijando-me na graça e no amor de Deus. Não achei na Bíblia
a frase: 'Tua justiça está nos céus.' Mas achei 'o qual para nós foi
feito por Deus sabedoria e justiça, e santificação, e redenção' (1
Coríntios 1.30) e vi que a outra frase era verdade.
"Enquanto eu assim meditava, o seguinte trecho das
Escrituras penetrou no meu espírito com poder: 'Não pelas obras
de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua
misericórdia, nos salvou.' Assim fui levantado para as alturas e
me achava nos braços da graça e misericórdia. Antes temia a
morte, mas depois clamei: 'Quero morrer.' A morte tornou-se
para mim uma coisa desejável. Não se vive verdadeiramente
antes de passar para a outra vida. 'Oh!' - pensava eu - 'esta vida
é apenas um sonho em comparação à outra!' Foi nessa ocasião
que as palavras 'herdeiros de Deus' se tornaram tão cheias de
sentido, que eu não posso explicar aqui neste mundo. 'Herdeiros
de Deus!' O próprio Deus é a porção dos santos. Isso vi e disso
me admirei, contudo, não posso contar o que vi... Cristo era um
Cristo precioso na minha alma, era o meu gozo; a paz e o triunfo
por Cristo eram tão grandes que tive dificuldade em conter-me e
ficar deitado."
Bunyan, na sua luta para sair da escravidão do vício e do
pecado, não fechava a alma dos perdidos que ignoravam os
horrores do inferno. Acerca disto ele escreveu:
"Percebi pelas Escrituras que o Espírito Santo não quer
que os homens enterrem os seus talentos e dons, mas antes que
despertem esses dons... Dou graças a Deus, por me haver
concedido uma medida de entranhas e compaixão, pela alma do
próximo, e me enviou a esforçar-me grandemente para falar
uma palavra que Deus pudesse usar para apoderar-se da
consciência e despertá-la. Nisso o bom Senhor respondeu ao
apelo de seu servo, e o povo começou a mostrar-se comovido e
angustiado de espírito ao perceber o horror do seu pecado e a
necessidade de aceitar a Jesus Cristo."
"De coração, clamei a Deus com grande insistência que
Ele tornasse a Palavra eficaz para a salvação da alma... De fato,
disse repetidamente ao Senhor que, se o meu enforcamento
perante os olhos dos ouvintes servisse para despertá-los e
confirmá-los na verdade, eu o aceitaria alegremente."
"O maior anelo em cumprir meu ministério era o de entrar
nos lugares mais escuros do país... Na pregação, realmente,
sentia dores de parto para que nascessem filhos para Deus. Sem
fruto, não ligava importância a qualquer louvor aos meus
esforços; com fruto, não me importava com qualquer oposição."
Os obstáculos que Bunyan tinha de encarar eram muitos e
variados. Satanás, vendo-se grandemente prejudicado pela obra
desse servo de Deus, começou a levantar barreiras de todas as
formas. Bunyan resistia fielmente a todas as tentações de
vangloriar-se sobre o fruto de seu ministério e cair na
condenação do Diabo. Quando, certa vez, um dos ouvintes lhe
disse que pregara um bom sermão, ele respondeu: "Não precisa
dizer-me isso, o Diabo já cochichou a mesma coisa no meu
ouvido antes de sair da tribuna."
Então o inimigo das almas suscitou os ímpios para caluniálo
e espalhar boatos em todo o país, a fim de induzi-lo a
abandonar seu ministério. Chamavam-no de feiticeiro, jesuíta,
cangaceiro e afirmavam que vivia amancebado, que tinha duas
esposas e que os seus filhos eram ilegítimos.
Quando o Maligno falhou em todos esses planos de desviar
Bunyan do seu ministério glorioso, os inimigos denunciaramno
por não observar os regulamentos dos cultos da igreja oficial.
As autoridades civis o sentenciaram à prisão perpétua,
recusando terminantemente a revogação da sentença, apesar de
todos os esforços de seus amigos e dos rogos da sua esposa -
tinha de ficar preso até se comprometer a não mais pregar.
Acerca da sua prisão, ele diz: "Nunca tinha sentido a
presença de Deus ao meu lado em todas as ocasiões como
depois de ser encerrado... fortalecendo-me tão ternamente com
esta ou aquela Escritura até me fazer desejar, se fosse lícito,
maiores provações para receber maiores consolações".
"Antes de ser preso, eu previa o que aconteceria, e duas
coisas ardiam no coração, acerca de como podia encarar a
morte, se chegasse a tal ponto. Fui dirigido a orar pedindo a
Deus me fortalecesse com toda a força, segundo o poder da sua
glória, em toda a fortaleza e longanimidade, dando com alegria
graças ao Pai. Quase nunca orei, durante o ano antes de ser
preso, sem que essa Escritura me entrasse na mente e eu
compreendesse que para sofrer com toda a paciência devia ter
toda a fortaleza, especialmente para sofrer com alegria."
"A segunda consideração foi na passagem que diz: 'Mas
nós temos tido dentro de nós mesmos a sentença de morte para
que não confiássemos em nós mesmos, porém em Deus que
ressuscita os mortos'. Cheguei a ver, por essa Escritura que, se
eu chegasse a ponto de sofrer como devia, primeiramente tinha
de sentenciar à morte todas as coisas que pertencem à nossa
vida, considerando-me a mim mesmo, minha esposa, meus
filhos, a saúde, os prazeres, tudo, enfim, como mortos para
comigo e eu morto para com eles.
"Resolvi, como Paulo disse, não olhar para as coisas que
se vêem, mas sim, para as que se não vêem, porque as coisas
que se vêem, são temporais, mas as coisas que se não vêem,
são eternas. E compreendi que se eu fosse prevenido apenas de
ser preso, poderia, de improviso, ser chamado, também, para ser
açoitado, ou amarrado ao pelourinho. Ainda que esperasse
apenas esses castigos, não suportaria o castigo de desterro. Mas
a melhor maneira para passar os sofrimentos seria confiar em
Deus, quanto ao mundo vindouro; quanto a este mundo, devia
considerar o sepulcro como minha morada, estender o meu leito
nas trevas, dizer à corrupção: Tu és meu pai', e aos vermes: 'Vós
sois minha mãe e minha irmã' (Jó 17.13,14).
"Contudo, apesar desse auxílio, senti-me um homem
cercado de fraquezas. A separação da minha esposa e de nossos
filhos, aqui na prisão torna-se, às vezes, como se fosse a
separação da carne dos ossos. E isto não somente porque me
lembro das tribulações e misérias que meus queridos têm de
sofrer; especialmente a filhinha cega. Minha pobre filha, quão
triste é a tua porção neste mundo! Serás maltratada, pedirás
esmolas; passarás fome, frio, nudez e outras calamidades! Oh!
os sofrimentos da minha ceguinha quebrar-me-iam o coração
aos pedaços!"
"Eu meditava muito, também, sobre o horror ao Inferno
para os que temiam a Cruz a ponto de se recusarem a glorificar
a Cristo, suas palavras e leis perante os filhos dos homens. Além
do mais, pensava sobre a glória que Ele preparara para os que,
em amor, fé e paciência, testificavam dele. A lembrança destas
coisas serviam para diminuir a mágoa que sentia ao lembrar-me
de que eu e meus queridos sofriam pelo testemunho de Cristo".
Nem todos os horrores da prisão abalaram o espírito de
João Bunyan. Quando lhes ofereciam a sua liberdade sob a
condição de ele não pregar mais, respondia: "Se eu sair hoje da
prisão, pregarei amanhã, com o auxílio de Deus".
Mas se alguém pensar que, afinal de contas, João Bunyan
era apenas um fanático, deve ler e meditar sobre as obras que
nos deixou: Graça Abundante ao Principal dos Pecadores;
Chamado ao Ministério; O Peregrino; A Peregrina; A Conduta do
Crente; A Glória do Templo; O Pecador de Jerusalém é Salvo; As
Guerras da Famosa Cidade de Alma-humana; A vida e a Morte de
Homem Mau; O Sermão do Monte; A Figueira Infrutífera;
Discursos Sobre Oração; O Viajante Celestial; Gemidos de Uma
Alma no Inferno; A Justificação é Imputada, etc.
Passou mais de doze anos encarcerado. É fácil dizer que
foram doze longos anos, mas é difícil conceber o que isso
significa - passou mais da quinta parte da sua vida na prisão, na
idade de maior energia. Foi um quacre, chamado Whitehead,
que conseguiu a sua libertação. Depois de liberto, pregou em
Bedford, Londres, e muitas outras cidades. Era tão popular, que
foi alcunhado de "Bispo Bunyan". Continuou o seu ministério
fielmente até a idade de sessenta anos, quando foi atacado de
febre e faleceu. O seu túmulo é visitado por dezenas de milhares
de pessoas.
- Como se explica o êxito de João Bunyan? O orador, o
escritor, o pregador, o professor da Escola Dominical e o pai de
família, cada um conforme o seu ofício, pode lucrar grandemente
com um estudo do estilo e méritos de seus escritos, apesar de
ele ter sido apenas um humilde funileiro, sem instrução.
- Mas como se pode explicar o maravilhoso sucesso de
Bunyan? Como pode um iletrado pregar como ele pregava e
escrever num estilo capaz de interessar à criança e ao adulto; ao
pobre e ao rico; ao douto e ao indouto? A única explicação do
seu êxito é que "ele era um homem em constante comunhão
com Deus". Apesar de seu corpo estar preso no cárcere, a sua
alma estava liberta. Porque foi ali, numa cela, que João Bunyan
teve as visões descritas nos seus livros - visões muito mais reais
do que os seus perseguidores e as paredes que o cercavam.
Depois de desaparecerem os perseguidores da terra e as
paredes caírem em pó, o que Bunyan escreveu continua a
iluminar e alegrar a todas as terras e a todas as gerações.
O que vamos citar mostra como Bunyan lutava com Deus
em oração:
"Há, na oração, o ato de desvelar a própria pessoa, de
abrir o coração perante Deus, de derramar afetuosamente a
alma em pedidos, suspiros e gemidos. 'Senhor', disse Davi,
'diante de ti está todo o meu desejo e o meu gemido não te é
oculto' (Salmo 38.9). E outra vez: 'A minha alma tem sede de
Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a
face de Deus? Quando me lembro disto, dentro de mim derramo
a minha alma!' (Salmo 42.2-4). Note: 'Derramo a minha alma!' é
um termo demonstrativo de que em oração sai a própria vida e
toda a força para Deus".





Em outra ocasião escreveu: "As melhores orações consistem,
às vezes, mais de gemidos do que de palavras e estas
palavras não são mais que a mera representação do coração,
vida e espírito de tais orações".
Como ele insistia e importunava em oração a Deus, é claro
no trecho seguinte: "Eu te digo: Continua a bater, chorar, gemer
e prantear; se Ele se não levantar para te dar, porque és seu
amigo, ao menos por causa da tua importunação, levantar-se-á
para dar-te tudo o que precisares".
Sem contestação, o grande fenômeno da vida de João
Bunyan consistia no seu conhecimento íntimo das Escrituras, as
quais amava; e na perseverança em oração ao Deus que
adorava. Se alguém duvidar de que Bunyan seguia a vontade de
Deus nos doze longos anos que passou na prisão de Bedford,
deve lembrar-se de que esse servo de Cristo, ao escrever O
Peregrino, na prisão de Bedford, pregou um sermão que já dura
quase três séculos e que hoje é lido em cento e quarenta
línguas. É o livro de maior circulação depois da Bíblia. Sem tal
dedicação a Deus, não seria possível conseguir o incalculável
fruto eterno desse sermão pregado por um funileiro cheio da
graça de Deus!
Fonte: Herois da Fé , Orlando Boyer

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