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8 de fevereiro de 2016

Bola de Neve


Essa é uma igreja diferente. Entre os fieis, gente de chinelo, bermuda, boné e tatuagens. E no sermão, além de trechos bíblicos, o linguajar dos pastores conta com gírias e humor
– Ei cara, tu vai pra igreja de bermuda?
– Quê que tem, máh? Jesus não ia de chinelo?




Igreja Bola de Neve propõe uma vida radical através de esportes e práticas cristãs.
O diálogo era sobre a maneira como Felipe se vestia para ir à Igreja Bola de Neve. Ao entrar, ele é recebido com abraços, sorrisos e saudações comuns do linguajar surfista. Olhando ao seu redor, o jovem vê pessoas de chinelo, bermuda, boné, com tatuagens. E cantando as músicas que o grupo de louvor está tocando.
O púlpito é uma prancha de surf e o sermão do pastor contém, além de trechos bíblicos, analogias atuais, com gírias cearenses e brincadeiras, fazendo com que os membros aprendam a palavra de Deus de uma forma aplicável ao seu dia a dia. A história de Felipe não foge à realidade dos frequentadores da Bola de Neve.
Membro há 2 anos e 4 meses, Yuri Alexeyev veste bermuda, blusa casual e tênis. “Aqui eu tenho a possibilidade de ir à igreja com a roupa que me traz conforto e que condiz com minha personalidade. É muito gratificante saber que estou em um ambiente que é receptivo com as várias tribos, sem a necessidade de ter que me moldar a um padrão pré-estabelecido.”
Conhecida pela liberdade que concede a seus membros, a igreja foi implementada em Fortaleza em 2007, com reuniões em uma barraca de praia, e atualmente possui mais de 500 membros, em um templo no bairro Edson Queiroz. “O nome Bola de Neve foi algo que surgiu espontaneamente para dar a idéia de algo que está constantemente crescendo. E foi o que aconteceu: a igreja cresceu de uma forma sobrenatural.”, explica o pastor Alexandre Tocantis.

Com apenas 38 anos, Alexandre Tocantins é pastor da Igreja Bola de Neve em Fortaleza.
Apesar do visual despojado e da liberdade ao se vestir, o pastor Alexandre alerta que não há exageros por parte dos fiéis. “Tem que haver um bom senso, um equilíbrio. Claro que a igreja tem um visual mais despojado, mas isso não quer dizer que a pessoa vai entrar aqui de biquíni, por exemplo. Nunca tive nenhum problema em relação a algum membro vestido de forma inadequada. Na verdade, todo mundo entra e já percebe que apesar de a igreja ter um nome diferenciado e ter toda essa informalidade, nós temos o temor a Deus e levamos a palavra (Bíblia) a sério.”
O incentivo à prática de esportes também é um dos destaques da igreja. Aos domingos acontece o Ministério de Surf, no Titanzinho e no Icaraí, onde há um trabalho social de retirada de lixo das praias. De 2013 até março de 2014, os membros já retiraram 1 tonelada de lixo desses locais. Há ainda a escolinha de surfe, com direito a orações e leitura bíblicas.  Além do surfe, outros esportes como jiu-jitsu e skate são incentivados.
Ainda que seja conhecida como “igreja de surfistas”, o local é frequentado por jovens, adultos e famílias, com cultos específicos para casais, para idosos, para jovens e reuniões para mulheres. Segundo o pastor, atualmente, os jovens é que estão levando seus pais à igreja, e não o contrário, como acontecia anteriormente.
Onde tudo começou
Fundada em 1993 pelo surfista e apóstolo Rinaldo Luiz de Seixas Pereira – ou “Rina” como gosta de ser chamado -, a Igreja Bola de Neve começou em São Paulo. Depois de ter uma hepatite, dores muito fortes e uma experiência pessoal com Deus, nascia uma reunião descompromissada, mas que precisava de um nome. Não demorou a aparecer um que expressasse a realização do sonho daquele grupo, uma Bola de Neve que, começando pequenina, se transformasse em uma avalanche.
Um ano depois, em 1994, ocorreram algumas mudanças. Líderes foram enviados a expandir a obra, um novo local foi usado para realizar as reuniões: uma loja de surf. Daí vem a tradição do púlpito ser uma prancha de surf. Depois houve outras duas sedes, uma na Lapa e outra em Perdizes, São Paulo. Até que a antiga casa de shows Olympia deu lugar à atual sede da Bola de Neve, com capacidade para 2.640 pessoas sentadas.
Além da sede, existem mais de 220 igrejas espalhadas pelo Brasil e por países como Rússia, Índia, Estados Unidos e Argentina.  A igreja cearense se expandiu, abriu uma novo templo em Caucaia e está em processo de implantação em Juazeiro do Norte e Sobral.
InTime
Igor Pinheiro é membro desde a implantação da igreja em Fortaleza – local onde conheceu sua noiva – e atualmente é diácono e líder do ministério InTime. Ele acompanhou o crescimento da Bola de Neve em Fortaleza, desde as reuniões em uma barraca de praia até a atual sede na avenida Washington Soares, e sente-se grato pelo trabalho realizado. “Foi um processo bem doloroso ver a dificuldade de cada ministério se estabelecer, mas depois de toda a luta, saber que estamos tendo resultados é muito satisfatório. Muitas pessoas que começaram na mesma época que eu estão crescendo e tendo suas histórias transformadas. Eu cresci muito, como cristão e como cidadão.”

As aulas de surf acontecem todas as manhãs de domingo, no Icaraí e no Titanzinho.
O InTime Culture, movimento iniciado no ano de 2010, em São Paulo, tem objetivo de unir artes urbanas e jovens que têm interesses em comum em prol de uma comunhão esportiva e espiritual. Além disso, ações sociais como corte de cabelo e atendimento médico são desenvolvidas para ajudar comunidades carentes. “Buscamos despertar nessa nova geração que eles possam se expressar e transmitir o amor de Jesus através de suas habilidades.”, explica o líder do projeto em Fortaleza, Igor Pinheiro.”
O movimento surgiu com o objetivo de gerir e idealizar eventos que unem cultura alternativa e esportes de ação como skate, bicicross, patins, slackline, surf, entre outros. Esses eventos integram o esporte com música, dança, grafite, fotografia e outras atividades que envolvem esse estilo de vida.
O InTime também oferece apoio e incentivo social e cultural através de oficinas e aulas gratuitas para preparação e prática desses esportes. O projeto também pretende manter um relacionamento contínuo com os jovens e prestar a assistência necessária para preparar e apontar um futuro para as próximas gerações.

“Alguns dos jovens que iniciaram suas atividades junto com a implantação do movimento hoje já estão se desenvolvendo bem no esporte. Dois jovens do Intime Skate School já se tornaram atletas, participam de competições e têm patrocínios”, comenta Igor Pinheiro.

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